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Josh

A minha mente era um quebra-cabeças de mil peças, impossível de ser organizado e montado em seu devido lugar. O mundo ao meu redor se tornou um borrão enquanto a minha voz interior gritava dentro de mim, dizendo-me o quanto eu era sujo e o quanto eu havia errado.

Continuar naquela quermesse não era uma opção, eu precisava mesmo ficar sozinho em silêncio e rever tudo o que estava acontecendo em minha vida.

Enquanto dirigia em direção ao meu prédio, eu pensava em todas as coisas que Any me proporcionou sentir desde que a conheci. Não, não foi um sentimento instantâneo, foi um carinho que cresceu com o tempo, como uma árvore sendo cultivada cuidadosamente. Quanto mais tempo eu passava perto dela, mais queria estar com ela.

Cheguei a me perguntar o porquê de me sentir tão diferente na presença de Any e a única resposta que eu aceitava era de que ela era especial e que Deus a havia colocado em minha vida para que eu a ajudasse. Acreditar nisso me ajudava a não me sentir abalado toda vez que ouvia a voz dela. Agora vejo que me enganei totalmente, me deixando levar por sensações mundanas de que abdiquei a muito tempo.

Era fácil falar com ela, fácil passar o tempo ao seu lado e era fácil gostar dela. De fato, Any é a pessoa mais interessante que já passou pela minha vida e eu me enganei totalmente em achar que toda essa explosão em meu peito ao ver o seu rosto era só uma pura e grande amizade.

Só o fato de eu me sentir incomodado quando ela falava carinhosamente do meu irmão já era um sinal notável de que eu estava tendo pensamentos errôneos sobre ela. Por que o meu subconsciente me fez ser tão ingênuo?

Assim que passei pela porta do meu apartamento, eu corri até a sala do meu altar, acendi algumas velas, peguei o meu terço preferido e me ajoelhei.

— Senhor, eu sei que deveria estar confessando com um outro padre, mas não aguento esta angústia dentro de mim. Não sei o que está acontecendo, mas sei que não é certo e peço que me ilumine e que se puder, me perdoe! — eu estava ofegante, com um choro preso em minha garganta. — Jurei a mim mesmo seguir a minha missão até o dia de minha morte, sem deixar que nada nem ninguém me atrapalhasse. Tenho sido fiel por todos esses anos e não pretendo parar por um momento de fraqueza. Fui falho e me arrependo disso.

Continuei as minhas orações por horas a fio, como se as palavras que saiam de minha boca fossem uma espécie de feitiço capaz de apagar a última noite. Mas toda vez que eu fechava os olhos, eu só via o rosto de Any e tinha a sensação de seus lábios macios sobre os meus, correspondendo-me firmemente.

Oh, céus! Ela me correspondeu! Isso só podia significar que também havia algo de errado na cabeça dela, ou talvez o fato de eu ser igual ao seu último amor a tivesse coagido a me desejar. Tentar ajudar uma mulher a esquecer um amor que tem o mesmo rosto que o meu foi um erro. Como eu pude não imaginar que ela me usaria como uma espécie de espelho do Joel?

O dia estava começando a amanhecer e eu continuava com meus joelhos no chão, mesmo sentindo minhas pernas dormentes. Minhas orações continuavam e eu apertava o terço tão forte em minha mão que com certeza estava criando calos em meus dedos.

O sol iluminou o meu apartamento e com um pouco de dificuldade, eu me pus de pé, olhando para a imagem de Jesus à minha frente. A primeira lágrima do choro que eu estava segurando rolou pelo meu rosto, devagar e silenciosa.

— Irei continuar na minha missão. Prometo me redimir do meu pecado e não ser rude com a Any, pois ela não tem culpa de nada. — fiz o sinal da cruz. — Louvado seja o senhor.

Olhei meu relógio de pulso. Já eram cinco da manhã e eu não teria como dormir, já que estaria na igreja para ouvir as confissões em poucas horas. Como eu poderia ouvir as confissões das outras pessoas estando com a minha consciência tão pesada? Sim, eu iria até a igreja, mas para falar com outro padre. Precisava me libertar.

Caindo Em tentação{Adaptação}Onde histórias criam vida. Descubra agora