Letters to My Love

155 23 42
                                    

A manhã passava devagar enquanto Junmyeon lia, uma a uma, as cartas deixadas em sua caixa de correio. Não tinham um remetente, mas ele sabia quem era o responsável pela escrita: aquele homem mais alto que si que sempre passava pela sua rua, deixando uma cartinha no mesmo horário pela manhã. No início usava muletas, com o tempo foi passando a aparecer caminhando normalmente nas entregas. Junmyeon nunca as tirava da caixa de correio, só pegava as correspondências mais importantes, mas decidiu levá-las para dentro e espiar seu conteúdo naquela manhã calma e nublada.

Cartas de amor. Declarações de um apaixonado. Umas eram mais velhas, meio amassadas no envelopinho sempre de cor azul claro, e outras pareciam recentes. Não sabia em qual ordem ler. No destinatário, sempre a mesma frase: para o homem que mais amo nesta vida, Kim Junmyeon. Em algumas delas tinha um endereço destacado em caneta vermelha, elevando a curiosidade de Junmyeon. Talvez fosse o endereço do seu remetente apaixonado.

Um pouco antes de meio-dia, escondeu-as embaixo da cama e recebeu sua mãe em casa. Ela fez o almoço depois de insistir para que ele se deitasse para descansar enquanto esperava. Junmyeon ficou debruçado na janela, tentando ao menos se lembrar do nome da rua da praça que ficava próxima dali.

Com a batida que sofreu no acidente de quase nove meses atrás, sua memória foi danificada, causando perda das lembranças. Mais especificamente, oito anos de sua vida sumiram completamente de sua mente nos primeiros dias. Aos poucos foi se lembrando de algumas coisas, mas ainda havia muitos acontecimentos esquecidos com a pancada. Quando acordou no hospital, ligeiramente chamou por sua ex-namorada, Sana, com quem se casaria aos vinte e três anos. Foi uma difícil tarefa convencê-lo de que já não eram mais um casal e que ela já nem morava mais naquele estado. Descobrir que repentinamente estava com trinta e um anos e estabilizado em um emprego como geógrafo, que adorava explorar principalmente a natureza, experiente em gráficos como ninguém e que amava a profissão mais que sua coleção de chapéus adquiridos em suas viagens internacionais, foi um choque. Nem se lembrava de que fazia excursões por diversos países colecionando chapéus.

Sua mãe aproveitou para lembrá-lo de Seungwan, apelidada de Wendy, sua "namorada atual". Junmyeon encontrou-a para perguntar se era mesmo verdade que eles namoravam e ela confirmou, ainda disse que Sehun era um homem ruim e que não deveria nunca mais falar com ele, pois ela tinha medo do que ele poderia fazer consigo. Desde então, ambos sempre saíam juntos.

Em um desses dias, quando havia saído do hospital há pouco tempo, Junmyeon estava sentado em um balanço na praça, acompanhado de Wendy, que estava num outro ao seu lado. Era tarde da noite e pouquíssimas pessoas passavam pela calçada, foi por isso que Junmyeon estranhou ao ver um homem de muletas e boné parado do outro lado da rua, olhando em sua direção. Junmyeon estava com uma certa dificuldade de enxergar o rosto dele. Uma das sequelas deixadas também pelo acidente, foi um pouco da perda de visão, agora não enxergava muito bem as coisas que não estivessem próximas de si. Ainda não havia marcado uma consulta com um oftalmologista. Wendy se remexeu parecendo incomodada ao olhar para a mesma direção que ele, logo se levantou e pediu para que fossem embora. Forçando um pouco mais os olhos, ele reconheceu o homem: Oh Sehun.

O almoço foi tranquilo, só entre Junmyeon e sua mãe. Ela só falava sobre o casamento entre ele e Wendy, que estava marcado para dois meses dali. Junmyeon já havia se lembrado de poucas coisas, como sobre o dia do primeiro beijo com Wendy, pouco tempo depois de Sana fugir para as Filipinas com um gringo ruivo de sotaque carregado. Às vezes tinha uns lapsos de memória, um borrão em formato de homem de vez em quando aparecia em seus sonhos. Talvez fosse um efeito colateral dos comprimidos que tomava.

Depois do trabalho, recebeu uma ligação de Wendy. Ela disse que Oh Sehun estava a assustando, que se visse-o deveria chamar a polícia imediatamente, acusou-o de ter ameaçado-a e, chorando na linha, pediu para que fugissem para longe depois de se casarem. Junmyeon estava cheio de medo e disse que a encontraria naquele mesmo instante, mas ela pediu para que ele descansasse em casa e prometeu que ficaria bem.

EsmaecidosOnde histórias criam vida. Descubra agora