Gab-Ness pt1

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Estou apressada com as malas pra chegar logo no ap que eu comprei quando decidi me mudar pra cá, mas meu rádio psicóloga apitou quando vi uma menina, talvez uns quatro anos mais nova que eu, chorando em uma das cadeiras, ela estava encolhida, com a cabeça entre as pernas e chorava copiosamente. Em sua frente tinha um segurança que mais parecia um armário.
Nem me importei com ele e decidi ir até lá, quando me aproximei, ele fez menção de vir me impedir, apenas meneei minha cabeça na direção da moça e lhe dirigi meu melhor olhar profissional, ele então me deixou passar. Eu me aproximei, sentei ao seu lado e com uma voz calma e quase sussurrada lhe disse:
- Eu não vou perguntar se você tá bem, porque tá bem na cara que não tá, mas vim perguntar se precisa de ajuda..
Deixei a frase morrer, quando ela levantou a cabeça meio confusa e me olhou. Seu rosto estava inchado e ela parecia ainda ter muito o que chorar.
- Como o White te deixou chegar até aqui?
Seu tom não era de má educação, apenas curiosidade e um pouco de aspereza talvez.
- Eu só quis vir ajudar. Ele não me impediu de tentar.
-E como você presume que possa me ajudar?
- Olha, eu não sei se posso resolver seu problema, mas não custa nada oferecer um suco, uma água pra lavar o rosto e um ombro pra chorar o que precisa, né?
E lhe dei meu melhor sorriso cúmplice.
Ela ainda tentou resistir, mas eu costumo ser persistente, então acabei vencendo pelo cansaço.
Fomos até o banheiro, ela lavou o rosto, conseguiu parar de soluçar. Em seguida, fomos até uma lanchonete, que por milagre divino eu encontrei assim que saímos do banheiro porque eu sequer sabia onde estava indo naquele lugar enorme. Pedimos um suco e eu não pressionei para que falasse, deixei-a curtir sua delícia de banana, abacate e aveia em paz. Seu brutamontes particular estava ali a espreita, nos olhando fixamente pelo vidro, mas na real, não me assusta nem um pouco.
Passados mais de uma hora, ela resolveu falar.
Contou aos sussurros e depois aos soluços como se sentia sem identidade, ela não era Dhiovanna (como me disse se chamar), era apenas a irmã de um jogador famoso, que ela não quis me dizer quem era, mas com aquele nome, eu como boa apaixonada por futebol, suspus ser a irmã de Gabriel Barbosa.
Continuou por algum tempo ainda, dizendo o quanto já nem sabia do que gostava, quem era verdadeiro ou não com ela. Disse que não aguentava mais perder tudo pro irmão, ser a sombra do tal 'Rei da América', mas reiterou inúmeras vezes que sabia que ele não fazia de propósito, que ele era bom demais pra fazer algo assim premeditadamente.
Depois que se acalmou, ficou fixamente me olhando, eu sabia que cara era aquela, meus consulentes me olhavam da mesma forma quando queriam que eu lhes dissesse algo que não os fizesse sentir-se 'analisados'.
- Olha, Dhiovanna, eu não te conheço, nem sei qual a atual configuração da sua vida, mas o que posso dizer é que quem te conhece sabe quanto você é uma mulher fantástica, que é forte por todos, mas que precisa ser cuidada. Você precisa ver isso em si mesma, precisa querer saber quem você é sem o seu irmão, fazer coisas que você antes gostava e descobrir se elas ainda te completam. Por que eu disse que você tem que querer? Porque pelo pouco que me contou, percebi que esses pensamentos não vêm de hoje, mas você se 'acomoda' no fato de ser a princesinha do 'Rei da América'. Você não quer sair da sua zona de conforto, mas quando tá sozinha, quando todo esse glamour te deixa um pouquinho, tua saúde mental cobra, grita e te faz ter essas crises de identidade, enquanto elas acontecem, você jura que vai fazer diferente mas volta pro lugar de bibelô no fim de tudo e isso vira um ciclo. Então tá na hora de querer, levantar e fazer. Talvez se cercar de quem te conheça de verdade, de quem chega em ti pelo que tu é Com eles, pessoas que não precisam saber quantos M tu tem no insta ou no banco pra se encantarem com tua personalidade e deixar esse mundo da fama e do glamour proa momentos em que não tiver outra escolha, pra frente das câmeras. Mas não viva como se estivesse em um reality show 24h. Acredite, vai te fazer bem!
Ela sorriu envergonhada pelas minhas palavras e se levantou:
- Obrigada, Vanessa, eu vou tentar sim. E obrigada por ter parado pra falar com uma estranha em crise, foi muito importante pra mim. Toma aqui meu número, pra nos falarmos qualquer dia.
- Não precisa agradecer, mas façamos assim. Eu te dou meu número, quando quiser você me liga, não quero parecer que estou te perseguindo por ser famosa ou sei lá. Você não quer lidar com essa desconfiança que eu sei, e eu não mereço também, então...
Passei meu número, sorri em despedida e finalmente me encaminhei ao ap.
Eu sou psicóloga, como eu acho que já falei. Me formei na Federal do meu estado e fiz mestrado lá também, agora vim para o Rio fazer o doutorado na UERJ e também já tenho uma proposta de emprego num fórum bem reconhecido aqui. Não podia estar mais feliz. Ah, não me apresentei. Sou Vanessa e tenho 24 anos, sou maranhense e flamenguista hahaha.
***
Se passou um mês, eu tava amando meu trabalho, mas em compensação, meu doutorado ficou pro ano que vem, por falta de verba e os cortes na CAPES e CNPq, fiquei bem triste, mas agora já tô conseguindo lidar.

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