VIII.

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Ao abrir a porta de seu apartamento, Chittaphon deixou que um longo suspiro escapasse por seus lábios enquanto se livrava do casaco pesado que vestia no corpo. O clima gélido que fazia do lado de fora colaborava para que as bochechas e os lábios do tailandês assumissem um tom mais avermelhado. Em suas mãos haviam cartas na qual ele apenas batia o olho, cansado demais para realmente se preocupar com elas naquele momento. O garoto estava cansado de precisar lidar com os fantasmas de Lee Taeyong. Ao se sentar no sofá, o tailandês apenas encarou as cartas sobre a compra que havia feito anteriormente de fantasias, ele iria usá-las com Taeyong em uma festa na qual ambos iriam juntos, mas agora elas já não eram mais úteis. Seus olhos encararam aquelas cartas por longos minutos, apesar dos meses, ainda era difícil de lidar com o fato de que ele não veria o ruivo novamente, ele não imaginava que as coisas terminariam tão mal dessa forma. Com um suspiro, ele apenas deixou aqueles papéis de lado, voltando a olhar o restante das correspondências, erguendo ambas as sobrancelhas ao se deparar com algo que realmente tomou sua atenção. Uma carta vinda com a assinatura do Taeyong...
Depois de encarar aquele nome por longos instantes, o garoto ainda se sentia em dúvida se deveria abrir aquilo ou não. Já estava sendo difícil lidar com a situação, estava sendo realmente doloroso se desfazer das lembranças com o ruivo, e então de repente o seu nome aparece novamente em uma carta. Ainda em um conflito interno, Chittaphon se deu por vencido ao suspirar, abrindo devagar aquela carta, dando uma breve olhada por cada linha que havia sido escrita ali.

"Junho 10. 2020

Oi, você sabe quem eu sou.

Não quero justificar nada, apenas te dizer o que acho que você precisa saber. O amor nunca pareceu fácil para mim. Talvez tenha sido graças ao péssimo exemplo que eu tive desde que entendo o provável significado dessa palavra, ou sei lá, é o que chamam de sentimento. Aos oito anos eu presenciei o primeiro divórcio dos meus pais, aos dez vi minha mãe entrar em outro relacionamento, e ainda no mesmo ano, vi ela sair. Aos quinze anos vi meus pais reatarem o casamento, mas até lá vi os dois entrarem e saírem de vários outros relacionamentos que nunca deram certo, alguns eu até torcia para acabar, outros não quis aceitar o fim. Quando a notícia do retorno do casamento se espalhou, eu ouvi que o amor verdadeiro nunca morre, que os dois procuraram se encontrar em outras pessoas, mas que não foi possível porque só se encontrariam um no outro. Isso poderia ser verdade, talvez se estivéssemos em um romance clichê da netflix, mas estamos na vida real, e eu sabia muito bem que todas essas frases bobas não diziam a verdade. Se estamos falando de realidade, eles precisam saber que o amor dos dois acabou a muito tempo, e é claro que existe um carinho, por isso ainda estão juntos, apenas como amigos.

Eu não vou dizer que nunca estive curioso para entender mais sobre o amor, eu cresci em Paris, a cidade mais romântica do mundo, estava óbvio que em algum momento eu iria me interessar em saber. E foi aí que eu percebi que o amor sequer era real. Começando pela minha primeira indignação, eu achei que talvez o amor não estivesse perdido, conhecia alguém que jurou ter encontrado o amor verdadeiro, então logo em seguida, em vez de flores no aniversário de namoro, ganhou um par de chifres para simbolizar o amor verdadeiro. Ok, não parecia o fim, mas foi o suficiente para me convencer de que o amor não passava de um conto de fadas. Afinal, vai saber se a Cinderela não se divorciou depois do fim da história, talvez seu feliz para sempre seja melhor sozinha.

Eu nunca tive medo do amor, eu apenas nunca acreditei, até você chegar.

Sua expressão denunciava que você estava perdido no meio daquela multidão, eu me ofereci para te ajudar e então você confessou o que eu já sabia, estava perdido, era a sua primeira vez na França. Você me contou que era o seu aniversário de dezoito anos, e eu percebi que eu era apenas meses mais velho que você, mesmo que fizesse dezenove ainda naquele ano. Você disse que chegou naquele lugar junto com os seus amigos, mas que não fazia ideia de onde encontra-los, eu disse que não sabia como te ajudar, mas que poderia esperar com você, seus olhos diminuíram quando você sorriu e agradeceu, vendo você sorrir pela primeira vez eu senti o meu coração acelerar, pensei que teria uma parada cardíaca, naquele momento eu jurei que não tomaria mais energético nenhum. Você não parava de sorrir enquanto me contava animadamente sobre a sua vida, eu gostei de saber sobre você. Entendi quase tudo, você é tailandês e ganhou a viagem de presente de aniversário, seus pais te mimam demais e não foi difícil os convencer. Você repetiu a cada cinco minutos que era o seu aniversário, e eu te parabenizei em todas elas. Você tinha um cheiro gostoso, e inconscientemente eu te disse isso, você sorriu e me disse que era o seu hidratante de morango, sussurrando ao dizer que havia comprado na seção infantil. Talvez você tenha achado que eu acharia bobo, mas eu achei fofo.

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