O Banheiro

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LauraSábado, 20de abril, 15h44 — Shopping Village Mall.

Desde que fui derrotada por Rodrigo, andei bastante estressada e ocupada tornando a vida dele e dos seus amigos um inferno. Precisava relaxar e nada melhor que gastar dinheiro com minha melhor amiga. Imaginei que poderia aproveitar o sábado comprando roupas e sapatos. Beatriz precisa urgentemente de roupas novas. Hoje, ela veio com uma regata do seu novo anime favorito, "Tsurezure Children", calça jeans preta nesse calor e o all star azul que parece ser seu único tênis. Nem para colocar uma rasteirinha. Diferente dela, eu estava fabulosa como sempre, usando crop top vermelho e uma saia preta com um tamanco gelo e, é claro, meus braceletes dourados. Porém, Beatriz chegou atrasada e pegamos o shopping cheio, sendo impossível de andar. Pulamos as compras e fomos para o pátio do shopping.

Beatriz queria ir ao cinema ver o filme do Ryan Gosling, provavelmente um filme romântico, eu queria ver o filme do desenho que eu assistia com minha irmã. Chegando ao pátio, vimos uma fila enorme no cinema e um cartaz bem grande anunciando a estreia do filme novo de algum super-herói idiota. Desistimos e sentamos no banco, perto do cinema.

— E agora? – perguntou Beatriz passando os dedos entre seus cabelos.

— Não sei, tudo está contra nós, parece que o melhor que temos a fazer é partir.

— Eu não quero ir para casa...

— Eu não disse que iríamos para casa

— E para onde vamos?

— Podemos ir à praia, ficar até anoitecer e apreciar a Lua.

— Eu não posso ir à praia, meus pais não deixam.

— Mas você veio ao shopping, não à praia, eles não saberão. Vem, vamos tomar um sorvete antes de irmos — Beatriz cutucou meu ombro diversas vezes.

— Eu odeio ser cutucada! O que foi?

Ela apontou para a fila do cinema. Observei um casal beijando-se loucamente. Descobri rápido a euforia dela. A garota beijada era Isabela e o menino que a beijava não era Júlio. Rapidamente, peguei meu celular para fotografar os dois. Essa foto era um tesouro.

Segunda-feira,22 de abril, 11h45 — Sala de caridade.

Estava na hora de contra-atacar Rodrigo. Durante o último tempo de aula, mandei uma mensagem para Isabela me encontrar na sala da caridade, do seu projeto social, antes do almoço. Eu cheguei quinze minutos depois do combinado e a vi pelo canto da porta esperando em pé na frente da sua mesa com os braços cruzados. Isabela com seu rosto retangular, um maxilar definido, bochechas rosadas, magra como um esqueleto, cabelo castanho longo e liso e olhos verdes era a quarta garota mais bonita do colégio. Abri a porta. Ela já tinha esperado o suficiente.

Eu odiava entrar na sala da Isabela. A sala possuía dezenas de fotos dos alunos de cada ano, acompanhados de todos projetos que já participaram, arrecadação de casacos e cobertores para os sem teto e os diversos recordes da festa julina. O pior eram as dezenas de cruzes penduradas na sala e estátua de Jesus que vigiava cada passo meu. Não importava para onde eu ia, ele me seguia e eu sentia sua decepção em relação a tudo que eu fazia.

— O que é tão urgente para você falar comigo? – perguntou Isabela, ao sentar na sua cadeira.

— Acho que nos falamos poucas vezes no colégio

— Nós nunca nos falamos, vocês do seu clubinho especial sempre zombaram de nós e da nossa fé.

— O que faz você pensar nesse absurdo? É claro que temos nossas diferenças, mas sempre nos respeitamos

A Queda da PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora