Escolhas

12 3 2
                                    


LauraSegunda-feira,8 de agosto, 6h12 –Quarto da Laura

Como nos outros dias, eu tive insônia e acordei com as costas doendo, graças à minha cama que, além de pequena, tinha um colchão muito duro. Não aguentava mais dormir no meu quarto, não era aconchegante, bonito e não me fazia bem. Tentei algumas vezes escapar para o quarto da minha irmã ou para o sofá e acordar antes dos meus pais. Mas eu tinha um sono muito pesado. Depois da terceira bronca, ameaçaram proibir de usar o guarda roupa dela e eu desisti de dormir bem para meu bem-estar social.

Não conseguia me acostumar a morar com eles novamente. Desejava todos os dias que eles sumissem e não voltassem mais, suas regras eram rígidas, estúpidas, tolas e sem sentido. Agora eu tinha que dormir de pijama por causa dos empregados. Não podia ouvir minhas músicas nem se estivessem baixas, tomar longos banhos e comer o que quisesse, assistir Netflix até tarde da noite, trazer Beatriz, fumar e beber em casa. Estavam fazendo do meu lar um inferno.

Levantei da cama, pegando meu celular para ver se alguém havia comprado algumas das roupas da minha irmã. Um terço do preço original e nenhuma venda. Eu precisava de dinheiro para comprar cigarros. Estava morrendo lentamente, precisava morrer mais rápido.

Tomei um banho rápido e coloquei o uniforme. Desci com esperanças de que meus pais tivessem saído e, mais uma vez, olhei decepcionada a mesa do café. Sentei e me ofereceram uma maçã e uma barra de cereal light.

Papai estava andando de um lado para o outro, discutindo com alguém pelo celular, enquanto mamãe sentava na ponta da mesa bebendo um líquido verde. Antes que eu pudesse tocar na maçã, ela fez um simples gesto com as mãos. Significava que eu deveria voltar e cumprimentá-la formalmente. Eu sempre esquecia. Fiz o que ela ordenou e voltei para minha maçã. Uma simples maçã para passar até o lanche. Na segunda mordida, ela interrompeu, dizendo que eu deveria ir para academia porque estava gorda. Eu tentei explicar que eu fazia crossfit no quintal. Acho que ela não ouviu ou não se importou, quando percebi, ela entregou um cartão do Uber para ir à colégio e à academia. Perguntei sobre o carro e ela cortou batendo o copo na mesa gritando que eu nunca mais iria tocar no carro dela, fui irresponsável em ser multada e se alguém soubesse que eu dirigia sem carteira, sua carreira iria para o inferno.

Depois dela extravasar sobre carro, ela brigou pelo cartão de crédito dela, ficando mais irritada e alguns dos empregados se afastaram. Ela ficava uma fera quando falávamos do cartão. Com medo, eu não entendia tudo o que ela dizia, mas as palavras gastos, roupas, sapatos, bebidas e entrada da moto, eu compreendia.

Depois de usar o celular para pegar escondido a barra de cereal, me despedi formalmente da minha mãe e levantei para esperar o Uber do lado de fora. Quando abri a porta para sair, ela avisou que eu não deveria entrar em confusão novamente ou iria me transferir para um colégio interno fora do país. Ela não estava brincando. Se eu fosse, minha irmã não iria me salvar dessa vez e eu iria permanecer esquecida em algum lugar da terra.

*

Ia ser difícil ficar na linha durante a semana do interclasse com as pegadinhas do João, Sabrina e Clarisse. Eles três atormentavam o colégio, roubando e provocando nas competições, vários alunos ganhavam suspensão ao perder a cabeça com as palhaçadas deles. Por sorte, eu nunca fui um deles e pretendo continuar assim. Os campeões de suspensão ou advertências eram Verônica e Carlos, brigando com seu próprio time, ofendendo os alunos ou professores. Eles nunca conseguiam chegar à final, normalmente quem ganhava era terceiro ano B, do Augusto, no masculino e o segundo ano A, da Clarisse, no feminino. Verônica e Carlos nos levavam nas costas, até serem expulsos, depois perdíamos por causa dos mongolóides da sala que não sabiam segurar uma bola ou correr sem ficarem ofegantes.

A Queda da PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora