Menina Má

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RodrigoTerça-feira,23 de agosto, 14h03 – Sala de Literatura

— Como está o seu outro trabalho da feira? – eu perguntei à Beatriz ao sentar à mesa. A sala ainda estava vazia.

— Eu não consegui fazer.

— Eu posso ajudar.

— Eu não quero atrapalhar você.

— Tirando o roteiro do Fernando, todos já estão praticamente feitos, está tudo bem.

— Eu preciso pesquisar poemas de formas fixas de autores brasileiros.

— Eu conheço um poema acróstico "O sapo e a borboleta" – peguei o celular e pesquisei a poesia.

— Nossa! Tadinha da borboleta.

— É uma lição. Temos uma, quais são as outras?

— As outras eu faço em casa, tudo bem.

— O que foi Beatriz? Você está distante.

— Desde que eu entrei para o grupo, seus amigos começaram a brigar e a se separar... Eu acho que é culpa minha.

— Como isso seria culpa sua? Valentina e Agatha brigaram antes mesmo de você ir à casa do Jorge.

— Mas Valentina se juntou à Laura um dia depois, o mesmo para Jorge e Giuliano. No dia seguinte, os dois brigaram. Eu atraio tudo de ruim.

— Isso é impossível! Você é a personificação da bondade. Você só traz o bem – Beatriz começou a chorar. – Eu não queria a fazê-la chorar.

— Eu tinha me divertido tanto aquele dia e agora vocês estão brigados. Como eu posso acreditar que não sou uma desgraça para todos?

— Porque eu estou dizendo. Amigos não mentem, lembra? Pare de chorar, logo mais, alguém vai entrar, vamos adiantar algum trabalho seu.

— Tudo bem, eu – uma rajada de fuzil interrompeu Beatriz. – Meu Deus!

— Não precisa ficar nervosa – vários alunos entraram acompanhados do inspetor.

— Estou com medo – expressou Beatriz, segurando meu braço.

— O que está acontecendo? – eu perguntei.

— Não sei, mas foi ordenado que os deixassem seguros aqui – respondeu o inspetor.

— Recebi uma mensagem que está acontecendo um imenso protesto lá fora – disse a garota de camisa vermelho.

— Eu recebi outra que os militares estão dando um golpe! – falou o garoto de sapato marrom.

— No jornal, está dizendo que suspeitos estão queimando ônibus e fazendo arrastões por todo o Rio – falou a garota de cabelo azul.

— No Twitter também – confirmou uma garota de cabelo curto rosa.

— No Facebook, disseram que duas facções entraram em guerra – falou novamente a garota de vermelho.

— Silêncio! Nada de celular, entreguem todos. Eu devolvo quando saírem.

Depois que todos entregaram os celulares, houve outra rajada de tiros que durou mais tempo. Provavelmente os policiais haviam chegado e entraram em confronto. Meus colegas de classe ficaram amedrontados e deitaram no chão. Eles nunca devem ter presenciado algum tiroteio, diferente do inspetor que estava sentado na cadeira do professor. Senti uma fisgada no braço. Beatriz tinha cravados suas unhas.

A Queda da PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora