A Festa

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RodrigoQuarta, 15de maio, 11h10 — Sala de aula

Eu finalmente senti na pele o que é ser rejeitado. Depois que souberam que eu fui a causa da separação do casal favorito da colégio, todos começaram a me olhar torto e falar mal pelas minhas costas. Poucos continuavam a falar comigo, basicamente, meus novos amigos e Marcos. Quando contei a Marcos o que aconteceu, ele falou que eu merecia e tinha avisado.

Agora eu sentava no fundo da sala. Os lugares da frente, sempre estavam ocupados por mochilas, pés ou livros e Marcos não reservava uma cadeira para sentar, deixando a situação mais complicada. Eu ficava na cadeira em frente à do João, diziam que ele e seu grupinho eram os mais bagunceiros e encrenqueiros da sala. Todavia, por alguma razão, eles não perturbavam minha vida. Observei pela janela um tumulto incomum nos portões do colégio. Eu ouvia vários grupos comentando sobre Isabela. Aproveitando que o professor não havia chegado, nos saímos da sala e descemos para ver a confusão e encontrei Valentina perto do portão.

— Você soube? – perguntou Valentina.

— O que?

— Isabela e seus pais estão aqui, dizem que vieram tirá-la da colégio.

— Depois de ser tão xingada, eu também sairia — disse Felipe aparecendo com o resto do pessoal.

— Verônica não deu um segundo de paz para ela no Facebook e no Twitter, ela criou páginas e páginas para falar mal da Isabela. Ela não deixava ninguém esquecer — falou Jorge.

— Mas só foi uma traição! Porque tanto alarde? – eu perguntei.

— Foi "a" traição! E ela não era qualquer uma, ela era a garota que apontava o dedo para todo mundo. Para mim é bem feito — comentou Agatha.

— Mesmo assim, ninguém merece isso — expressou Jorge.

— Vocês acham mesmo que ela vai sair? – eu indaguei.

— Ela não tem mais nenhuma amiga no colégio, eu acho que vai — respondeu Valentina nos braços da Agatha.

— Eu também acho, disseram que ela também saiu da igreja, não fico surpreso — falou Felipe. — O lado bom é que vão largar do nosso pé.

— Não tem lado bom — comentei.

— Para você, todo mundo o odeia por separá-los — falou Valentina, apontando para mim.

— E porque não sou eu quem está sendo atacado?

— Porque ela é mulher — rosnou Agatha.

Isabela saiu com seus pais pelo portão e passou bem ao meu lado na saída. Foi a primeira vez que nos cruzamos desde o incidente. Eu tentei pedir desculpas, mas o som não saia da minha garganta e antes de entrar no carro, nos encaramos por alguns segundos. Ela não parecia estar com raiva, mas triste. Tudo o que eu podia fazer era vê-la partir

*

Eu estava prestando a atenção em Laura na sala da aula. Ela anotava algo em seu caderno, de cabeça baixa. Eu não poderia ser facilmente manipulado por ela novamente. Toda situação que eu presenciava, eu pensava que poderia ser um plano dela. De repente, um garoto abriu a porta com força e sem jeito. Uma das garotas gritou que ele estava chapado e todos começaram a rir da cara dele. Porém, quando o garoto citou que a erva que plantou estava muito boa, Verônica jogou o caderno no garoto, atingindo seu rosto. Todos que sentavam na frente ficaram pálidos. Laura continuava a dar toda a atenção para o que estava escrevendo em seu caderno. Não tinha movido um músculo. Eu estava perplexo, como alguém podia estar totalmente fora de sí tão cedo. Se o professor chegasse e vê-lo naquele estado, com certeza, seria expulso. De tudo, o mais difícil de acreditar era que o deixaram entrar na colégio. Como nenhum inspetor percebeu? Era nítido, seus olhos estavam muito vermelhos.

A Queda da PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora