A Feira Cultural

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VerônicaSexta, 19 de novembro, 6h15 –Quarto da Verônica

Acordei com aquele verme gritando com a minha mãe. O desgraçado me fez acordar uma hora antes. Levantei da cama derrubando todos os meus jogos, espero que nenhum tenha quebrado, passarei minhas férias trancafiada nesse quarto zerando-os, já que meu namorado está com aquela vadia. Foda-se, ele. Foda-se, ela. Foda-se, todo o mundo. Preciso de um banho.

Passando pela bagunça do meu quarto, cheguei à maldita porta do banheiro, claramente fechada. Antes de bater na porta, desci até o meio da escada para ver se o babaca não estava no banheiro. Observei o idiota bebendo cerveja, enquanto assistia televisão, olhei para o lado e vi minha mãe fazendo o café da manhã. Subi e notei a porta do banheiro aberta. Beatriz tomando banho cedo? Aposto que está se preparando para Rodrigo.

Coloquei minha camiseta do Ramones, short jeans preto e uma bota de couro preta. O dia de hoje não me permitiria ficar estressada e uma roupa confortável e menos maquiagem ajudaria. Passei apenas o meu batom vermelho. Eu liguei o videogame ao passo que esperava o café da manhã ficar pronto ouvindo "Psycho terapy" no fone para não incomodar o grande lorde deste lar.

*

Minha mãe chamou no exato momento que estava enfrentando o Shao Kahn na dificuldade mais alta. O café poderia esperar, minha vitória, não. Faltando um soco para eu morrer, consegui soltar o especial e matei o filho da puta! Finalmente eu venci, vou salvar e descer. Desligando o vídeo game, sou agarrada pelos cabelos.

— Repete, o que você falou! – perguntou meu padrasto. Notei a porta arrombada.

— Mas eu não falei nada!

— Vai se fazer de sonsa! – ele bateu meu rosto no guarda roupa.

— Eu não disse nada!

— Você não me chamou de filho da puta quando bati na porta?

— Eu não falei com você, eu falei com o jogo.

— Desde quando o jogo fala? Acha que sou burro? Não acha que eu não sei que fala mal de mim?

— Não tem como falar bem — ele me deu um tapa.

— Escuta bem, mocinha, você está na minha casa, vai me respeitar.

— Sim, senhor – não bate nele, Verônica.

— Está de ironia com a minha cara?

— Não, senhor – Não cospe nele, Verônica.

— Acha que estou brincando?

— Perdão, não queria irritá-lo – Não chute o saco dele, Verônica.

— É melhor assim. Agora você vai descer, pedir desculpas à sua mãe e à sua irmã, por ficarem esperando você para comerem.

— Como você quiser – Não fure os olhos dele, Verônica.

— Vai, anda – Ele me jogou na cama e peguei a mochila.

*

Sentamos à mesa e eu pedi desculpas à minha mãe que, como sempre, disse que estava tudo bem, e à Beatriz, que ficou calada. Por longo cinco e angustiantes minutos comemos em silêncio, ouvindo apenas o som mastigado do pão e o suco digerido. Igual a todos dias, o desgraçado começou a falar o quanto ele era máximo com suas histórias mentirosas e suas piadas machistas e homofóbicas, expressando seu orgulho ao matar dois vagabundos ontem. Minha mãe fingia um grande interesse até ser cortada por ele. Ela sempre ria bastante quando ele a humilhava e ficava calada quando solicitava. Beatriz comia metade de um pão com a cabeça abaixada e hoje eu decidi fazer o mesmo. Terminei rápido, voltando para o quarto para esconder os hematomas com a maquiagem.

A Queda da PrincesaOnde histórias criam vida. Descubra agora