CAPÍTULO 04. A verdade (Jørn)

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Assim que saí do transe daqueles olhos azuis eu achei que seria melhor que eu ficasse o mais longe possível de Finn e por isso corri para cozinha e comecei a arrumar as bebidas. Haakon me contou que os dois vieram para casa juntos depois da aula e Finn preparou gelatina com vodca, além de ter feito caipirinha, que era algo que a mãe dele ensinou depois de uma viagem para o Brasil.

Nossas festas nunca foram tão bem pensadas assim. A gente comprava cerveja e vodca, e uma vez esquecemos os copos, o pessoal esperava bem pouco da gente, mas com certeza iríamos surpreendê-los dessa vez.

Finn apareceu atrás de Haakon colocou as mãos no seu ombro, abriu um sorriso gigante, chegou perto do seu ouvido e perguntou se a gente ia encher a cara logo ou não. Eu nunca pensei que sentiria tanto ciúmes de algo na minha vida inteira. Estava incomodado tanto com a intimidade de Finn para com o meu melhor amigo, quanto o fato dele fazer aquilo em qualquer pessoa que não fosse eu.

Nós comemos umas gelatinas de vodcas e depois eu experimentei a caipirinha. Como era tudo muito doce eu não me dei conta que estava bêbado já na primeira hora da festa.

O pessoal tinha começado a chegar, e eu estava do lado de Haakon rindo das coisas que ele estava falando com as meninas, mas continuava acompanhando Finn pelo canto dos olhos. Ele conversava com todo mundo e não fazia nem uma semana que estava no colégio, mas, aparentemente já era amigo de todos.

Sentia um pouco de inveja quando eu o via sendo tão livre e extrovertido perto de pessoas que tinha acabado de conhecer. Eu ficava pensando se faria o mesmo caso não tivesse sempre tão preocupado em esconder que eu gostava de meninos. Estava perdido nos meus pensamentos olhando para Finn quando escutei Haakon falando baixinho perto de mim:

– O que você acha dele?

Achei que eu tinha deixado na cara que alguns sentimentos começaram a se exteriorizar, queria pegá-los todos e guardar bem no fundo do meu coração.

– Não acho nada – falei dando os ombros.

– Sério? Ele é bem gente boa, você devia ir lá conversar com ele, virar amigo logo para eu não ficar com peso na consciência de passar muito tempo com ele. – Haakon disse rindo e me empurrando um pouco, fazendo com que eu começasse a me mover para onde Finn estava.

Dei um sorriso quando estava na frente dele, mas não sabia o que fazer depois disso. Finn chegou perto de mim, também sorrindo, e me chamou para ir à cozinha com ele pegar umas cervejas. Achei que ao menos, longe de todo mundo, eu poderia olhar para Finn sem achar que as outras pessoas tinham descoberto que eu não parava de pensar naquela boca.

– Eu adorei todos os seus amigos, Jørn! Não sei como eu vou conseguir ir embora depois. Essa viagem não está sendo nada do que eu tinha pensado, mas de um jeito bom. – ele me disse depois ter pego uma cerveja e me entregado.

– Você faz amizades bem fácil né?

– Não sei – ele falou dando os ombros – talvez eu goste de ouvir o som da minha própria voz. – gargalhou depois de ter dito isso.

– É, talvez. Para mim é um pouco mais difícil me abrir para os outros.

– Por quê?

Não sei porque eu falei isso, e não sabia como caminhar com a conversa depois dessa frase. Sempre que Finn estava por perto eu não conseguia ficar de boca fechada, de repente eu falava coisas que eu não tinha intenção.

– Tenho medo do que eles vão pensar. – disse olhando para qualquer lugar que não fosse seus olhos.

– Mas, Jørn, seus amigos não vão te julgar sobre as coisas que você falar. Se você não pode ser sincero com seus amigos com quem você vai ser?

De mãos dadas em Tøyen (história gay) AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora