Eu não conseguia mais pensar em uma realidade sem Jørn. Antes eu queria voltar correndo para minha casa, ficar com os meus amigos, e principalmente ir para longe do meu pai, mas agora, parecia que eu estava em casa.
Depois que Jørn dormiu comigo na minha cama no sábado, eu tinha certeza absoluta que ir embora seria mais difícil do que eu jamais imaginaria. Enquanto estava em Oslo eu não queria analisar a volta para Londres e como nós iríamos fazer para continuar juntos de alguma forma. Se ele pedisse para a gente ter uma relação à distância eu ia aceitar na hora, mesmo tendo certeza absoluta que daria errado.
Até que eu realmente entrasse no avião era melhor curtir o presente e me preocupar com o futuro depois. Não sei se essa era a ideia mais madura do mundo, era apenas o melhor que eu poderia fazer naquelas circunstâncias.
Domingo eu passei a manhã arrumando a casa, e depois que Jørn acordou, bem mais tarde do que eu, nós tomamos café e eu chamei um uber para levá-lo embora. Na hora do almoço o meu pai chegou e ligou para Hulda para que ela ficasse conosco vendo filmes em casa. Ele nem percebeu que nós já tínhamos decorado a casa, e só disse algo quando sua namorada elogiou.
É claro que eu passei a tarde no celular conversando com Jørn e no grupo que a gente tinha criado para combinar festas. Noora e Haakon tinham planejado fazer uma última festa para mim antes do natal, mas o meu pai, que passou todos esses dias arrumando compromissos para não ficar comigo, achou que essa era a hora de nós ficarmos juntos e em família.
– Você veio aqui para me ver ou conversar com os seus amigos? – ele disse bravo elevando a sua voz, depois que percebeu que eu não saía do celular.
– Eu posso fazer a mesma pergunta para você, pai. Desde que eu cheguei aqui você só trabalha, porque agora você finge que é um bom pai e se importa?
– Eu sempre me importei! Nós conversamos sempre, Finn, eu sei de tudo que acontece na sua vida, nao me faça de vilão só porque eu não queria que você fosse viado!
– Querido! não fale assim. – Hulda se incomodou com a palavra.
Eu nunca gostei de brigas e discussões, acho que poucas pessoas gostam de verdade. Sempre preferia deixar palavras feias apenas desaparecerem no universo e me distanciar de quem as fala, mas isso parecia ser impossível quando se tratava do meu pai, já era a segunda vez que eu ficava nervoso com ele.
– Pai, para começar, nunca fale essa palavra, tá? Fala gay e pronto. E depois, você sabe que eu sou pansexual.
– Isso não existe, Finn, tá na moda os jovens inventarem gostos diferentes. – ele fala balançando a mão como se fosse algo insignificante.
Depois disso eu me levantei e disse que ia dormir. Fiquei no meu quarto desenhando e pensando em Jørn. Era impossível ficar em Oslo com o meu pai e escutar esse tipo de coisa, mas pior do que isso, pensei em seguida como deve ser a invisibilidade de Jørn frente aos seus pais.
Ser pansexual, para mim, era só uma característica, não sendo a coisa mais ou menos importante que me compunha, acho que se eu fosse colocar em ordem, eu diria que ser artísta é o que eu acho mais significante em mim.
Entretanto não gostaria de me esconder, nunca. Eu via que disfarçar os sentimentos era algo que Jørn fazia desde o começo quando ele fugia de mim ou ficava tenso ao meu lado e eu sabia que aquela era uma atitude rotineira para ele e ninguém merecia isso.
Na segunda-feira todo mundo matou aula, mas eu não conseguia ficar no meu quarto por mais um segundo e por isso fui para casa de Haakon cedo, depois que avisei meu pai que iria a festa que meus amigos estavam fazendo para mim e nós começamos a discutir, de novo. Eu pensei que seria uma boa idéia curtir meus novos amigos até chegar a hora que eu fosse embora.
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De mãos dadas em Tøyen (história gay) AMOSTRA
RomanceFinn volta para Oslo para passar o Natal, mas não sabia que seu pai tinha planos para viajar a negócios e deixá-lo em uma escola nova. Lá ele conhece Jørn, que sempre ouviu da sua família que ser gay era errado e por isso não tinha pretensão alguma...