Agathe chegou animada na sala de aula aquela quinta, pelo jeito tinha um cara lindo britânico na secretaria tentando fazer matrícula com a senhora Ågot. Era só o que me faltava, mais um homem bonito que eu ia ter que fingir que era apenas um cara. Não gostava de conhecer pessoas novas porque eu nem sempre controlava os meus sentimentos, ou, aliás, eu tinha que controla-los, mas sentia que meu coração se fechava cada vez mais quando eu reprimia minhas emoções.
Meus pais me ensinaram que era errado ser gay, que essas pessoas queriam destruir a família tradicional e acabar com os valores morais. Eu devia ter falado para eles que família e valores são inconstantes e estão sempre mudando, é uma construção de um Estado capitalista que está apenas preocupado com lucro, propriedade privada e manutenção do patriarcado. Mas, sendo gay e estando escondido dentro do armário, eu preferiria dizer, somente, que eles estavam certos, para que não suspeitassem de mim.
Eu percebi que gostava de meninos no primeiro dia de aula, quando tinha 5 anos de idade e vi um menino no parquinho desenhando. Eu queria abraçá-lo e segurar a sua mão e falar o quão bonito ele era. Não tive coragem, é claro, e um tempo depois ele sumiu, mas desde então eu sabia que era gay e de acordo com os meus pais eu era um pecador que ia acabar com a família de todo mundo.
Também não contava para os meus amigos, tinha muito medo do que podia acontecer. Quando eles faziam alguma piada homofóbica eu ria junto e concordava com os elogios que eles faziam para as meninas. Eu pensava que no futuro, quando fosse para faculdade e saísse de casa eu pudesse começar a pensar em meninos, e por enquanto eu bebia muito nas festas e tentava não focar nos beijos que eu teria que dar nas meninas.
Então, estava muito receoso em conhecer esse menino novo, principalmente porque eu percebi há algum tempo que eu e a Agathe temos os mesmos gostos em homens. Todos os caras que ela ficava ou falava que eram bonitos me deixava interessado. Não queria conhece-lo, minha falsa heterossexualidade não aguentaria.
Pelo jeito o colégio inteiro estava falando sobre ele, mil teorias apareceram, algumas eram lógicas, como ele ter mudado para a cidade, outras falavam que ele era um filho ilegítimo do Rei Haroldo V. A única coisa que parecia consenso era a sua beleza. O que era uma péssima notícia para mim.
No intervalo eu o vi na cantina. Eu desejei tanto que ele não me atraísse, mas assim que passou pela porta os meus olhos se fixaram nele e quando aquele maravilhoso retornou o olhar eu queria morrer de vergonha, nunca tinha sido pego olhando para nenhum outro cara, eu costumava ser discreto.
Haakon, meu melhor amigo, me cutucou e falou que as meninas não iam mais dar bola para gente por causa dele e a única coisa que podíamos fazer era torcer para ele ser gay. É, com certeza eu estava torcendo para que ele fosse.
Percebi que o menino novo sentou perto da gente e eu usei todo o meu poder de concentração para não ficar perdido naqueles olhos azuis. Não escutei nada que ninguém falava, apenas balançava a cabeça e ria quando os outros faziam. Pelo menos em alguns minutos eu estaria longe dele. Depois que o sinal tocou eu tive, é claro, que dar uma última olhadinha antes de ir embora, às vezes ele não era tão bonito, era só eu que estava idealizando.
Entretanto, quanto mais eu olhava, mais eu queria olhar. Não ia ser fácil assim fingir que eu não estava interessado.
A noite eu o vi no instante que entrei no bar. Noora disse para mim e pros caras que Finn só falava inglês e para que ele conseguisse entender o que estava acontecendo nós não poderíamos conversar em norueguês. E, então ela olhou para mim e falou que não era para eu reclamar ou fazer nenhum comentário problematizador – sim, eu era esse tipo de pessoa.
Eu me sentei na frente dele, porque eu não conseguia ficar longe e quanto mais bêbado ficava mais eu o admirava. Analisava aqueles olhos azuis, o seu cabelo preto perfeito todo jogado para cima, sua boca e o tanto que eu queria beija-la.
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De mãos dadas em Tøyen (história gay) AMOSTRA
RomansaFinn volta para Oslo para passar o Natal, mas não sabia que seu pai tinha planos para viajar a negócios e deixá-lo em uma escola nova. Lá ele conhece Jørn, que sempre ouviu da sua família que ser gay era errado e por isso não tinha pretensão alguma...