𝙘𝙖𝙤𝙨

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Hailey p.o.v.
dia 31 do julgamento

Os dias se arrastavam, o julgamento se estendeu por mais de um mês, todos estavam extremamente cansados física e psicologicamente falando, eu tentava apoiar o Justin o máximo que eu conseguia mas era difícil. Eu estava impedida de ir ao palácio, os meus pais foram temporariamente afastados de seus cargos, assim como o meu irmão. Os advogados batalhavam todos os dias, com provas e argumentos contra e a favor do rei, mas ainda não tinham pedido o depoimento do príncipe, nós estávamos aguardando pacientemente por esse momento.

Eu me arrastei da cama até o banheiro pela milésima vez, vomitando tudo o que eu tinha conseguido comer naquela noite, exatamente igual aos outros dias. O meu corpo reagia ao estresse extremo que eu me encontrava no último mês, eu estava fraca e cansada, mas continuava de pé, por ele. As poucas conversas que eu tinha com o Justin eram as escondidas na madrugada, quando ele era liberado da reunião com o pai e os advogados, a sua ligação era a única coisa boa do meu dia, nós éramos sinceros e conversávamos como se não estivéssemos no meio de um grande caos. E então, no dia seguinte, quando eu o via no tribunal, as olheiras evidentes, os ombros baixos e a tensão emanando do seu corpo, eu relembrava o motivo de tanta luta, era por ele, eu faria tudo pelo homem que eu amo.

Me levantei do chão do banheiro e escovei os dentes, tirando o gosto de vômito da boca, e voltei para a cama, eu mal tive tempo de deitar e o cansaço me venceu, eu dormi imediatamente.

Justin p.o.v.
dia 35 do julgamento

Me sentei na cadeira tão exausto que nem sabia como ainda estava de pé, dei um gole no uísque enquanto olhava as mensagens no telefone.

"Sinto muito amor, não estou muito bem e vou me deitar. Espero que eles não te predam muito. A gente se vê amanhã. Eu te amo"

Respirei fundo, isso foi há três horas e eu estava irritado por perder nossa ligação pela segunda noite seguida, tudo isso graças ao meu pai que estava a beira de um colapso nervoso com tudo o que estava ocorrendo, ele me pressionava a cada segundo para que quando o momento do meu depoimento chegasse, eu negasse tudo e refutasse a sua culpa. Mas não era isso que me preocupava. A Hailey vinha parecendo doente já fazia uns dias e aquilo não me agradava, na semana passada ela desmaiou durante o julgamento e eu fiz com que adiassem tudo naquele dia, não consigo nem descrever o meu desespero em vê-la assim.

Observei os papéis na minha mesa e percebi um bilhete de uma das selecionadas, uma das duas que ainda restavam. Eu não estava com cabeça para aquilo e sabia que os olhos do reino não estavam mais na Seleção, porém eu não poderia apenas mandar todas para casa e cancelar aquela tradição estúpida, isso porque no fim da competição eu era obrigado por lei a definir a mulher com quem eu iria me casar, e ao meu ver, não era o momento certo para contar ao mundo que eu iria me casar com a mulher que denunciou o rei por abuso.

O pequeno bilhete era da Kriss, apenas ela e Celeste ainda estavam no palácio, ela se lamentou por todo o ocorrido e disse compreender as complicações que estávamos tendo, mas que apesar de tudo ainda tinha um grande carinho por mim. Deixei aquilo de lado e me levantei exausto, eu não tinha tempo para sentimentalismos, não quando tudo estava em jogo.

Hailey p.o.v.
dia 38 do julgamento

Hoje era um grande dia, finalmente chegou o momento do meu testemunho, eu não poderia estar mais nervosa, tinha vomitado tudo o que comi entre ontem e hoje e eu me sentia levemente fraca, mas nada me impediria de cumprir o meu papel hoje.

Eu estava sentada na cadeira ao lado do juiz, todos os olhos estavam atentos a cada movimento que eu fazia, em especial o dele. Eu respondi calmamente as primeiras perguntas do advogado da acusação, confirmando que tinha visto as cicatrizes e que tinha escutado a história pelos corredores do palácio durante a infância mas nunca tinha considerado a possibilidade de ser real.

— Senhorita Baldwin, você poderia, por favor, descrever o momento em que descobriu que tais boatos eram verdadeiros? — o advogado me instigou a falar, eu estava preparada e sabia exatamente o que falar.

— Como todos sabem, eu desisti da seleção há alguns meses, eu fiz isso por não concordar com a cruel forma que uma das garotas foi tratada. A Camilla Morrone teve a infelicidade de se apaixonar em um momento inoportuno, mas quem culparia alguém por amar se esse é o objetivo da seleção? encontrar o amor? — eu sorri de lado, encarando o Justin — Aqui nesse mesmo lugar, ela foi tratada como um criminoso de alto perigo, sendo humilhada e expulsa do próprio país, e eu jamais aceitaria isso. Porém, não é surpresa nenhuma, já que as ordens vieram de quem nós sabemos que é cruel com o próprio filho — era possível perceber o nojo na minha voz ao me referir ao rei.

— Protesto Meritíssimo — revirei os olhos enquanto o advogado da defesa explicava o seu ponto.

— Protesto aceito— o juiz falou e se virou para mim — Continue e cuidado nas palavras Senhorita.

Respirei fundo, tomando controle da minha mente.

— Eu estava de volta ao país depois de um mês sem contato nenhum, Camilla e eu comparecemos em um evento de trabalho no qual a rainha e as selecionadas também foram. No final, eu fui surpreendida pela presença do príncipe também, eu estava meio exaltada e ele se ofereceu para me levar até o hotel. Nós tivemos uma conversa difícil sobre a minha saída da Seleção, brigamos e nos exaltamos, até que ele me confidenciou que tinha sido machucado sim, mas não era por algum ato meu. Foi quando a minha cabeça começou a trabalhar e eu associei aos boatos que escutei a minha vida toda. Eu o levei até o meu quarto de hotel — os burburinhos aumentaram, eu tentava emitir os detalhes que poderiam nos condenar mas ainda assim era escandaloso — Nós continuamos a discussão até que eu pedi para ver, eu pedi que confiasse em mim pois... — as palavras do advogado gritavam na minha cabeça "NÃO FALE ISSO", que se dane — pois eu o amava e só queria o bem dele.

Eu fiquei em silencio após o grande burburinho tomar conta do lugar, eu abaixei o olhar para evitar os julgamento e quando o juiz pediu silêncio eu encarei os olhos dele, um pequeno sorriso se abriu em seus lábios.

— Foi quando ele me mostrou, eram muitas, algumas recentes e que ainda estavam vermelhas, outras tão apagadas pelo tempo que era quase difícil de notar — balancei a cabeça tentando tirar as imagens da minha mente, era muito doloroso — Era como ver o ódio bem na minha frente, as costas largas cheias de cicatrizes e tanta dor por trás... é doentio fazer isso com alguém.

Não consegui evitar uma expressão de nojo. Eu também não consegui falar mais nada, o próprio rei começou a despejar coisas para mim e eu me senti sufocada, tudo parecia girar e ao tentar me levantar, eu apenas cai novamente.

Tudo ficou escuro.

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