Capítulo 5 - Parte I

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- Filha, o que aconteceu? – grita do meu quarto quando ouve algo caindo.

- Mãe... – sussurro sentindo lágrimas escorrerem vagarosamente pelo meu rosto, minhas mãos começam a tremer no ar enquanto buscam por algo que possam segurar e assim me manterem em pé – Mãe... Mãe. Mãe!

- Filha? Fala! – grita minha mãe enquanto desce a escada e vem ao meu encontra transtornada - Quem era no telefone e o que queria?

- Mãe, a Eliza... e-ela – tento dizer sentindo seus braços me segurarem no momento em que minhas pernas não aguentam suportar o peso do meu corpo, levando meus joelhos direto ao chão.

Novamente me vejo em um momento em que pareço receber uma grande dose de anestesia, perdendo total controle do meu corpo, o mesmo que agora se encontra imóvel. O vazio volta me assombrar enquanto inconscientemente minha mente projeta lembranças dos sorrisos ingênuos de Eliza de hoje mais cedo.

Minha mãe implora por algum tipo de explicação e com algumas chacoalhadas sou puxada para triste realidade.

– Era da Secretaria da escola, disseram que Eliza se enforcou, mãe...

- Meu Deus! – diz minha mãe levando suas duas mãos a boca, mas após alguns segundos ela rapidamente me envolve em um abraço apertado.

- Mãe, ela se enforcou... – sussurro sem conseguir acreditar no que estou dizendo, apenas sinto ardentes lágrimas riscarem meu rosto – Eu conversei com ela hoje e em nenhum momento percebi que isso ia acontecer. Eliza se foi, eu não consegui ajudar ela.

- Tommas, corre aqui agora! – grita direcionando o rosto para a escada e assim que vê a expressão de apavoro do meu pai, ela continua gritando – Vai lá na cozinha o mais rápido possível e pega um copo de água e açúcar.

- Eu não estou conseguindo entender – digo limpando meu rosto e tirando o cabelo dos meus olhos – Por que ela não conversou comigo? Por que ela não disse nada? Pensei que ela me diria se alguma coisa errada estivesse acontecendo...

- Calma, filha. Não sabemos o que realmente aconteceu – diz minha mão, cariciando minha cabeça com sua mão delicada – Eu vou retornar para Secretaria da escola para saber se eles têm alguma informação.

Ao mesmo tempo em que minha mão vai ao encontro do telefone caído no chão, meu pai chega com o copo de água com açúcar.

- Querido, aproveita e avisa ao Fred que a Alice não está em nenhuma condição de sair agora – diz minha mãe ao meu pai quando ela pega o copo das mãos dele.

Fico ainda no chão, sem outra reação ao não ser, continuar parada e chorando, enquanto penso no que pode ter acontecido com Eliza para tirar sua própria vida. De manhã ela estava tão alegre, feliz. Não consigo entender, não consigo achar um motivo.

Sei que não éramos melhores amigas, mas conhecer uma pessoa que passou por situações semelhantes do que eu, fez como que gostasse dela instantaneamente e pensei que seríamos amigas por muito mais tempo, até porque ela estava tentando tornar as coisas melhores, estava tentando tornar sua vida triste e solitária, naquela que ela sempre quis ter.

Após alguns longos minutos de conversar no telefone, minha mãe volta sentar no chão do meu lado e com tristeza nos olhos explica que a escola não tem nenhuma informação sobre o que de fato ocorreu com Eliza, apenas o que a família dela forneceu: horário e local da onde será velado e enterrado o corpo.
- Pronto filha, avisei o Fred – diz meu pai com uma voz baixa, atravessando a porta da sala – E agora alguém pode me explicar que está acontecendo?

Reparo que minha mãe faz um rápido sinal querendo dizer "com toda certeza agora não é a hora". Então ele apenas se aproxima de mim e acaricia meu rosto, limpando as lágrimas que ainda desmoronam sobre minhas bochechas vermelhas. Fico ali, olhando para ele sem conseguir emitir nenhum som.

- Calma, filha. Eu não sei ao certo o que está acontecendo – sussurra ele, sustentando olhos marejados – E me parece algo realmente sério, mas tente ficar tranquila.

- Alice, ao longa da vida vai perceber que nem você sempre vai encontrar respostas para certas situações – diz minha mãe, me envolvendo em mais um abraço – Infelizmente, às vezes as pessoas escondem tão bem que até elas acabam esquecendo onde colocou e por isso se perdem.

Me mantenho calada, não porque eu não tenho o que dizer, mas somente porque os ouvidos de quem eu queria acalmar agora já não conseguem ouvir mais nada. 

Mais ou menos cinquenta minutos depois, alguém toca a campainha de casa e depois o insistente quinto toque decido me levanto do sofá, com muito custo, já que minha única vontade é permanecer deitada para todo sempre. Quando abro a porta encontro Joseph parado me olhando de forma entristecida.

Ele simplesmente dá um passo para frente e sem dizer sequer uma palavra, me abraça. Não preciso dizer nada para que ele entenda que esse abraço era tudo o que eu estava precisando. No entanto, como nem dura para sempre, "minha anestesia" acaba o efeito e em instante aquele sentimento horrível de perda volta e com a mesma rapidez, lágrimas transbordam dos meus olhos.

- O que aconteceu com ela, Joseph? – sussurro sentindo o calor que exala do seu corpo - Só queria saber o porquê.

Seus braços, sem pressa, alisam minhas costas, me empurrando cada vez mais contra ele de forma carinhosa. Com seu toque, meus olhos tomam luz novamente. Não tira e nem melhora a dor que estou sentindo, porém mostra que tenho alguém para me apoiar.

- Às vezes, não tem um porquê... – responde ele num tom melancólico – Ou pelo menos deixam porquês para trás.

- Mas hoje na escola, ela estava com uma felicidade invejável e seu sorriso cada vez mais aberto, você tinha que ver. Aposto que se a visse com aquela alegria nos olhos, me entenderia – digo deixando escapar uma lágrima, que é  rapidamente absorvida pela camiseta de Joseph.

- Já chegou imaginar que nos escondemos atrás de uma máscara. Uma máscara feliz, sorridente e de olhos brilhantes que com o passar do tempo, acaba virando um hábito fingir que estamos bem, apenas para não mostrar nosso verdadeiro sentimento, o mesmo sentimento que está nos corroendo por dentro lentamente, sem pressa alguma e só deixamos isso acontece porque cansamos de responder o motivo da nossa tristeza?

Apenas fico em silêncio tentando processar o que Joseph acaba de falar.

- Precisamos ir à casa de Eliza, agora! – digo me soltando de seus braços e seguindo para fora de casa.

- Espera, o que você disse? – pergunta Joseph, agarrando meu braço, sem entender nada – Você não está em condições de sair e muito menos para ir na casa da Eliza.

- Ei, confie em mim e apenas peça ao Fred para nos levar a casa dela, por favor! – digo me virando para ele, sentindo uma leve dor no braço.

Joseph me olha por uns instantes e depois balança a cabeça positivamente com uma expressão de quem sabe que vai se arrepender de certas escolhas. Com isso, ele caminha calmamente e ordena para Fred nos levar à residência de Eliza.

Vou até o carro respirando fundo ao mesmo tempo em que limpo meu rosto com alguns movimentos rápidos com a mão. Quando sento no banco de couro ao lado de Joseph, Fred me lança um olhar triste pelo retrovisor e posso até dizer que ouço uma fungada, como se estivesse chorando.

Menos de cinco minutos depois, Fred estaciona um quarteirão antes da casa de Eliza.

- Só posso ir até aqui, parece que a polícia achou melhor impedir o resto – anuncia ele, apontando para a sinalização de impedimento.

- Está ótimo aqui. Muito obrigada Fred – agradeço gentilmente, enquanto desço rápido do carro.

- Espera aí – diz Joseph, saindo logo atrás de mim.

- Como a gente vai entrar? – questiono me virando para ele.

- Não sei... Mas por que você quer entrar na casa agora, Alice? – pergunta tirando seu olhar da casa e cravando direto em mim, como se estivesse olhando para uma maluca.

- Eu só preciso encontrar alguma coisa que explique a morte dela, porque duvido que ela simplesmente decidiu se matar de uma hora para outra – digo me segurando para não derramar nenhuma lágrima - E eu não quero acreditar que ela esteve fingindo para mim.

- Alice, mas e se não tiver explicação e se Eliza levou todas as provas junto com sua própria vida? – diz ele levando sua mão até meu ombro.

- Joseph... – digo olhando nos seus olhos - Eu preciso pelo menos tentar, não posso desistir dela.

- Mas ela mesmo acabou de fazer isso quando desistiu da própria vida – diz baixo tentando manter a voz firme.

Fico olhando para aqueles olhos azuis tentando entender o que está acontecendo, mas por algum motivo deixo de fazer contato visual com Joseph para destinar minha atenção à casa de Eliza. Alguns carros de polícia e uma da perícia estacionados logo na frente, alguns vizinhos curiosos parados no começo do gramado e aparentemente nenhum sinal de vida acontecendo dentro da casa.

- Por favor – imploro quase sem voz, sentindo uma dor inexplicável – Independente de tudo, eu disse que não iria desistir dela.

Para meu alívio Joseph aceita continuar acenando positivamente com a cabeça.

- Mas pelo cenário que vemos será impossível conseguir encontrar – dispara Joseph com certo apavoro no rosto.

- Nada é impossível – digo soltando um pequeno sorriso – Vamos.

- Qual é o plano? – pergunta ela percebendo que olho ao redor com a expressão de quem está perdido – Espera, você ainda não tem um plano?

- Claro que tenho, me deixa apenas pensar em como executá-lo – digo tentando acreditar que estou calma e que tudo vai dar certo – Bom, o plano é o seguinte...

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