–Pode colocar dentro do baú. - disse Rhaella para a criada.
A agora rainha-mãe balançava Daenerys no colo, para que a bebê parasse de chorar, e depois de alguns minutos funcionou.
–Está pronto Vossa Graça.
–Excelente, pode mandar para o navio. Filho, vamos embora!
Quando saiu do antigo quarto puxando Viserys pela mão, Rhaegar estava do lado de fora.
–Mãe, por que está tirando suas coisas daqui?
–Estou indo para Pedra Do Dragão, Vossa Graça. -falou Rhaella, enfatizando o título do filho no final.
Ela estava louca de tanta fúria com o seu primogênito. Se não tivesse outros dois filhos pra cuidar já estaria neste momento batendo no traseiro de Rhaegar com força, para tentar lhe pôr juízo na cabeça.
–Mãe, por favor, a senhora não pode ir!
–E por que não, se posso lhe perguntar?
—Eu preciso de você mãe, Lyanna não se interessa pelas responsabilidades de rainha, ela se recusa a fazer o papel de anfitriã, e os senhores estão me cobrando uma posição sobre a independência dornesa.
–Doran foi muito inteligente te colocando nessa situação não é Rhaegar? Os ânimos dos dorneses ainda estavam inflamados, os nobres acabam de sair da guerra que você causou e não vão entrar em outra contra Dorne agora, principalmente por que qualquer um deles faria o mesmo que os Martell, que moralmente tem todo o apoio do povo e da nobreza pelo o que você fez a Elia. E para completar, Oberyn se casa em alguns dias com a princesa de Moraq, o que fará o império proteger os interesses de Doran, que ainda por cima garante que o reino dele não sofra financeiramente graças ao acordo com os moraqhis, já que o comércio entre eles não pode ser embargado por você, não agora, com os Sete Reinos fragilizados. E o pior é que o que você fez aumentou e muito o poder de Doran e sua família. Sem isso Doran não poderia declarar a independência. Sem a independência, ele não teria o status tão alto. Ele agora é um monarca e não um vassalo, é é por isso que Oberyn pode se casar com uma princesa Imperial.
Rhaella sorriu para ele com deboche.
–Esqueça Dorne. Essa batalha você não irá vencer. E eu estou indo embora com Viserys e a bebê, boa sorte meu filho.
–Mas por favor, eu preciso de você.
–Não, não precisa. Você tem a sua garota lobo tão preciosa e seu filho "verdadeiro" não tem? Não precisava muito de nós quando nos deixou indefesos nas mãos do seu pai para sumir durante meses, se divertindo fodendo a Stark na terra natal de sua esposa, não é meu filho?
–Mãe eu...
Ela lhe deu um tapa.
–Cale-se! Ninguém mais aguenta ouvir suas desculpas idiotas sobre profecias! Não quando tantos sofreram e sangraram pelas suas ações junto com essa menina! Você tinha uma responsabilidade com sua esposa, com os seus filhos e com os seus súditos! Rhaegar você ao menos calculou a tragédia que poderia ter acontecido? A cidade quase foi invadida! O tal Montanha conseguiu não sei como entrar no palácio junto com Amory Lorch! Se não é o menino Lannister por aqui além do seu pai ter morrido Elia e as crianças morreriam também!
Rhaegar fez uma expressão de culpa.
–Eu sei que errei mas...
–Sim você errou! Como você desaparece por tanto tempo e se esquece de garantir a nossa segurança? Nós somos o seu sangue! A sua família! Não somos seus peões! Nós todos precisávamos de você, pois era a única esperança de parar a loucura de seu pai! Muito antes que qualquer profecia, as pessoas que te amam que deviam estar em primeiro lugar!
Ela o olhava com decepção.
Nunca mais confiaria em Rhaegar. Nunca!
–Você alguma vez pensou que se em vez de fugir com aquela criança malcriada tivesse assumido sua responsabilidade como herdeiro do trono como as coisas poderiam estar muito melhores? O Conselho, os nobres, e nosso povo, todos sem nenhuma exceção estavam encantados com você e apavorados com seu pai. Em vez de se preocupar com profecias ou em se enfiar entre as pernas de meninas de 14 anos poderia ter chamado a todos, pedir que os Meistres especializados declarassem que o seu pai está inapto e que você governasse em nome dele, ninguém iria negar! Jogaríamos Aerys para ser trancado em alguma torre para não ferir ninguém, você seria o regente até que ele morresse e estaríamos todos seguros! E ninguém morreria! Felicidade para todos! Mas não, você preferiu ser um herói tolo de uma canção de amor!
Ela olhou para Rhaegar com cansaço.
Já havia falado tudo o que engasgava em sua garganta.
–A vida não é uma canção meu filho. Nas canções somos sempre belos, jovens, perfeitos e corajosos, aventureiros e sortudos. Mas nós envelhecemos, nós ficamos feios, engordamos, comemos, cagamos, e por fim morremos. Na vida real, existem consequências e pagamos todos por elas. Como eu, que paguei pela grande hipocrisia de meus pais, que me obrigaram a casar por dever com o irmão que sempre odiei quando eles mesmos cuspiram nos seus deveres por amor.
Ela puxou Viserys consigo.
A medida que ia para o lado de fora, viu um desolado Jaime sentado na escadaria.
Seu coração se apertou com seu olhar.
Ela reconhecia aqueles olhos. Foi o olhar de desespero de Joanna quando Aerys quase a violentou no dia do casamento de ambos. Ela salvou a doce loira por pouco, pois desconfiou quando Aerys saiu do quarto de madrugada e o seguiu até o quarto de Joanna, onde ele quase cometeu o ato. Ela conseguiu bater na cabeça do marido com um vaso e isso lhe rendeu a primeira surra em seu casamento no dia seguinte.
–Querido. - disse pondo a mão no ombro de Jaime - O que houve?
Ele a olhou com extrema dor.
–Foi ele rainha. Aerys, o rei. Ele matou minha mãe!
Rhaella cobriu a boca com a mão em extremo horror.
–Jaime, me explique isso?
–Ele estava cara vez mais louco e achava que Elia era a princesa Loreza. Ele a xingava e tentou enforcá-la. Ele dizia que dessa vez ela não poderia o impedir de ter Joanna. Depois começou a chorar, dizendo que por culpa dela nunca pode tocar em Joanna, que quando ele finalmente arranjou uma maneira de possuir minha mãe ela bateu nele até a inconsciência e mandou minha mãe pegar a mim e a Cersei e ir embora junto com meu pai.
Ela se lembrava do dia. Aerys tinha falado na frente da côrte toda sobre os seios de Joanna, a humilhando publicamente. Joanna a procurou e exigiu ser dispensada do serviço de dama, jurando nunca mais deixar que Aerys chegasse perto dela ou a visse novamente.
Rhaella, por mais triste que ficasse já que adorava sua companhia e era uma das poucas verdadeiras amigas que teve na vida, atendeu seu pedido. Seu marido ficava cada vez mais descontrolado. Joanna até achou que casando com Tywin mais adiantadamente Aerys iria parar de tentar seus assédios e tentativas de abuso, mas se enganou.
–Ela a culpou, disse que Loreza o fez matar minha mãe. Que ele mandou envenenar minha mãe para que o bebê com uma erva que deforma o feto para que meu irmão nascesse como Maelys Blackfyre. Que ele não esperava que a minha mãe fosse morrer no parto e que Tyrion apenas nascesse anão. Que só queria dar uma lição de humildade no meu pai, que ela não deveria morrer.
Rhaella chorou de angústia.
Como Aerys destruiu vidas!
–Eu não aguento, eu não quero ficar aqui Vossa Graça! Esse lugar é maldito!
–Venha comigo Jaime! Eu preciso de um Guarda Real já que vou para Pedra Do Dragão, venha comigo!
Jaime, desesperado para fugir daquela cidade, aceitou.
Caminhando até o navio, ela levou mais um choque aquele dia, quando um fantasma de seu passado a esperava perto do navio que a levaria embora.
–Sir Bonifer? Sir Bonifer Hasty?
O homem sorriu e beijou sua mão com delicadeza.
–Linda como sempre, minha rainha.
–O que faz aqui?
–Queria saber se precisa de cavaleiros para a sua proteção. Vim me oferecer para o serviço.
Rhaella abriu um sorriso imenso. O mais sincero daquele dia, um sorriso que não dava a muito tempo.
–Venha comigo sir. Preciso mesmo de seus serviços.
Rhaella não podia apagar tudo de ruim que o marido fez. Mas tinha esperança de reunir os destroços e construir algo melhor.
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Sunlight
FantasiElia Martell, a Fraca. Ela Martell, a Traída. Elia Martell, a Repudiada. Elia Martell, a Rainha Que Nunca Foi. Sempre vista como frágil e incapaz. Como a vítima. Nunca vista além de sua aparência e das ações de seu marido. Até agora. O mundo irá se...