Capítulo Seis - Entre Grades

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Recebemos a notícia de que o exame laboratorial confirmou que o fio de cabelo encontrado era de Joshua Beauchamp.

Não havia como comprovar que aquele capuz era exatamente o utilizado pelo o agressor, mas conforme a detetive nos contou, Josh agiu estranho no interrogatório quando perguntado sobre o tal acessório. Ele jurava que aquilo não o pertencia, e isso ficou suspeito. Afinal, aquilo foi encontrado em sua casa, e não tinha como aquilo ser de sua mãe, a única pessoa que morava com ele.

Se ele fosse realmente esperto, inventaria que tinha comprado um capuz para se fantasiar de bandido em alguma festa, ou alguma coisa assim, porque a história de "isso não é meu" e carinha de choro não convenceu. Além disso, tudo apontava para ele. E ele foi declarado culpado até que se prove o contrário, sem julgamento.

À princípio, pegou dez anos, mas sua pena pode variar. Eu não me importo. Aliás, fico aliviada de que não ter de relatar mais uma vez tudo aquilo, ainda mais à um juíz, na frente de um monte de gente. Fico aliviada de não ter precisado olhar para a cara dele em um tribunal.

Fico aliviada que ele esteja preso.

Amanhã vou para a casa de minha outra tia. E eu não poderia estar mais aliviada ao saber que tudo está começando à se ajustar, que finalmente minha vida voltará para os trilhos, apesar de que... Esquece.

Só há uma coisa que eu preciso fazer antes disso. Capturar a chave que eu tinha dado para ele. E esta é a minha missão para hoje à noite.

Eu digo aos meus pais que já me sinto segura para dormir em meu próprio quarto, e espero eles irem dormir. Quando são uma hora da manhã, e todas as luzes estão apagadas, sinto que posso colocar meu plano em ação.

Aquele desgraçado já está preso então, me sinto segura para andar pela a rua sozinha durante a madrugada, nem que seja apenas por alguns metros.
Com a minha chave reserva da casa dele, eu destranco a porta evitando fazer barulho ao máximo, para que a Sra. Beauchamp não perceba nada incomum vindo do andar de baixo.

Por sorte, me atentei em vir usando apenas meias. Eu sei bem como o piso de madeira faz barulho quando subimos as escadas usando sapatos.

Finalmente estou no quarto de Josh. Usando apenas a lanterna do celular, iluminou tudo ao meu redor.

Próximo passo: Encontrar a chave. Comecei pelas gavetas da cômoda. Nada além de cuecas e meias. Então eu olhei em cima da prateleira de livros. Nada também. Revirei até os lençóis de sua cama, mas tudo o que eu achei foi um caderno de desenho debaixo do travesseiro, e está aberto.

Ilumino para analisar a página em questão, e o que eu vejo me impressiona. Sou eu. Ele me desenhou.
Começo a voltar as páginas, e tudo o que eu vejo são imagens minhas.

Subitamente ouço o barulho de porta se abrindo, e me escondo debaixo da cama. Espero a mãe de Josh aparentemente entrar no banheiro, e retornar ao seu quarto depois de longos dez minutos. Acho posso ouvi-la chorar. Eu sinto muito por ela...imagina você criar um filho por dezessete anos, para que no final ele se torne alguém tão desprezível?
Fujo destes pensamentos e saio de meu esconderijo, e começo a procurar novamente pela a chave. Não a encontro em absolutamente lugar nenhum.

Me sentindo fracassada, eu volto para casa apenas com o caderno de desenhos dedicado à mim, ou melhor, resumido inteiramente à psicopatia e obsessão de Josh por mim.

Quando já estou novamente no meu quarto, paro para analisar melhor as folhas desde o início. A primeira data corresponde à três anos atrás. Foi mais ou menos quando eu o conheci. Estremeço. Afinal, ele estava obcecado por mim... Por todos estes anos?

Devo admitir que para um pscicopata, o sujeito sempre foi talentoso. Ele sempre mostrava os desenhos profissionais que fazia, mas nunca ousou me mostrar os que fazia de mim. Agora vejo o porquê.

O "sujeito". Eu já não reconheço mais aquela pessoa, para mim, se trata de um monstro.

Pisco uma última vez e permito que a última lágrima role. Ele não merece que eu continue derrubando lágrimas por ele. Antes, ele costumava me fazer chorar de tanto rir, mas agora é de decepção, desprezo... ódio.

>>>

Termino de arrumar a minha mala para ri pra casa da tia Sally. Desço as escadas e meus pais já estão me esperando lá embaixo.

- Pronta, querida? - Minha mãe sorriu. Faz tempo que não a vejo sorrir, seus dias eram cinzas, mas agora, eu vejo ela ao menos se esforçar.

Sorrio para ela, mais por ela do que por mim.

Papai parece inquieto, mas tenta não transparecer. Posso sentir sua frustração. Ele tinha uma boa relação com Josh antes de tudo, ele realmente gostava do cara, e deve estar sentindo que poderia ter previsto suas reais intenções comigo. Mas quem poderia prever isso? Nem eu mesma tive a capacidade.

Eu nunca imaginaria algo assim vindo dele.

- Pronta - respondo com um suspiro.

Papai me ajuda a subir a mala no carro, e todos entramos à caminho de tia Sally. Ela não mora muito longe daqui, são apenas quinze minutos de carro, mas com tudo o que veio acontecendo nos últimos tempos, faz muito tempo que não vou visitá-la e vice-versa. Eu pedi para que ninguém viesse. Não queria que todos membros da família aparecessem e vessem o quanto estamos derrotados.
Não recebemos visitas há um tempo porque esta casa tinha virado um velório. Mas está na hora de renovar as energias em um lugar diferente, com meus primos que tanto amo. Está na hora de esquecer de tudo o que aconteceu, agora que ele está preso.

Chegamos. Tia Sally nos recebeu com um café da tarde que é a sua cara. Nunca falta café na casa dela.
Acompanhei Sav até seu quarto para colocar a minha mala lá. Passamos pelo o quarto de Bailey, mas ele não estava.

- Isso aqui não mudou nada.

- Não tem como ter mudado, Any, não faz muito tempo que você veio aqui - ela riu.

- Pois parece que fazem meses... - eu digo e despejo a minha mala nos pés da cama.
Eu sempre que venho aqui, Sav divide sua cama de casal comigo, para eu não ter que dormir no quarto de hóspedes. Costumávamos assistir série até tarde em sua TV plasma, ou ficar conversando a noite inteira, então era mais prático que dormíssemos juntas.

- Eu sinto muito pelo o que aconteceu, Any, mamãe me contou - Sav me pegou de surpresa, mas engoli em seco.

- Sua mãe... Ela sabe?

- Sim. Já faz um tempo, mas ela disse que sua mãe não queria que fossemos te visitar, e nem que mandassem os mensagens de apoio... Eu não entendi muito bem, mas respeitei. Você queria ter seus espaço.

- Sim - assenti. - Para falar a verdade, eu queria que ninguém soubesse, mas tudo bem. Só não quero que vocês sintam pena de mim, ok? Eu estou bem. Ele foi preso hoje de manhã.

- Foi aquele seu amigo Josh, não foi? - Balancei a cabeça e ela - Isso deve ter sido horrível...

- Já estou melhor agora - ela assentiu, mesmo receosa.

A verdade? Eu não estou melhor mas vou ficar. E até lá, vou fingir para mim mesma que já estou, assim acelera o processo.

Quando meus pais foram embora, já eram nove da noite. Tia Sally passou no quarto para nos dar um boa noite muito mais solidário do que o usual. Não achem que fiquei chateada por minha mãe ter contado para tia Sally, pois gosto dela e sei que ela vai manter restrição total em relação à isso. Sei que ela não contará à ninguém.

Um pouquinho mais tarde, nós já estávamos usando os nossos pijamas, e Savannah estava escolhendo alguma série para começarmos.

- O que você acha de The Walking Dead?

- Eu assistia esta com... Você sabe - ela passou rapidamente as opções.

- E Anne With An E?

- Parece ser legal.

- Então vai ser esta.

Sav apertou o play, e eu tentei me concentrar mas no final do primeiro episódio, eu já tinha pegado no sono.

"Who?" - Short Fic Beauany (+13)Onde histórias criam vida. Descubra agora