Capítulo Dez - Tirem suas vendas

1.3K 120 85
                                    

 No dia seguinte de manhã, minha tia pediu para que eu e a Sav fossemos no porão, para separarmos algumas coisas velhas que estavam lá para a doação. E cá estamos, avaliando o que está apto para ser doado, e o que não está.
  Há diversos brinquedos e roupas encaixotadas que parecem estar ali há anos, levando em conta toda a poeira. 

— Meu Deus, Sav. Por que vocês demoraram tanto tempo para decidir  dar um fim nisso tudo? — Eu pergunto fazendo uma careta, enquanto estendo uma camiseta velha e manchada de time de futebol que deve ser de seu irmão.

— Para falar a verdade, nem eu sei. Nem pretendíamos fazer isso tão cedo, tinha até me esquecido da existência de todas essas... bugigangas. A gente não costuma entrar aqui. Mas mamãe falou que talvez você pudesse me ajudar com isso, talvez fosse lhe fazer bem se distrair um pouco.

— Hum, sério? Esta foi a grande ideia dela?

— Ah, Any, você não anda muito animada para sair. Isso foi a primeira coisa que mamãe pensou que pudéssemos fazer juntas sabe, para distrair um pouco. Além do mais, pode ser divertido. Ah, olha! — Ela para de remexer uma das caixas de papelão e se levanta, erguendo uma boneca  — é a Stacey, a boneca falante! Nós brigávamos para brincar com ela. — Ela diz animada, olhando para o brinquedo.

— Sim, me lembro dela...mas receio que ela não possa mais falar — eu digo espremendo os lábios para a situação deplorável em que Stacey se encontrava, e a Sav me lança um olhar sério.

— Ei, as crianças órfãs não vão ligar para isto, tá legal? Se bem que... Ela também está sem uma perna — ela diz deitando a cabeça de lado, e joga a boneca de volta na caixa.

— Não faça isso! Pode haver alguma criança perneta no orfanato. — Intervi. — Esta vai para a caixa de doações. Representatividade é importante.

— Está bem — ela concorda com a cabeça e transfere a boneca de uma caixa para a outra. — Any, eu já volto, vou pegar uma caixa de som lá em cima para dar uma animada.

— Está bem.

   Eu continuo brincando com as coisas que encontro nas caixas depois que ela sobe as escadas e fecha a porta. Uma coleção de carrinhos, uma Barbie, e... um aparelho de barbear? Eles estão querendo que as crianças do orfanato cometam suicídio ou se machuquem? — Isso definitivamente não vai. —  digo para mim mesma e coloco o aparelho no saco preto junto com os outros lixos.
 
   Eu estava indo pegar uma nova caixa na prateleira quando acabo tropeçando em algo que me chama a atenção. Uma parte do piso de madeira está levemente inclinado para cima. Aquilo se parece exatamente como aqueles pisos falsos de filmes, e eu não consigo conter a curiosidade. Eu puxo a primeira parte do piso. Depois outra. E começava a surgir um buraco maior do que eu esperava depois de eu remover cinco pedaços. Mas o mais bizarro é o que eu encontro dentro do buraco.

   Uma roupa e uma caixa.

   Eu pego os objetos e congelo na mesma hora. A roupa parece ser um uniforme completamente preto e dentro da caixa... Há fotos. Não qualquer tipo de fotos, mas fotos minhas. Fotos minhas enquanto dormia, e parecem ser do dia em que... Não, eu tenho certeza de que são daquele dia. O dia do maior trauma da minha vida. O dia do estupro.

  Mas... Isso não faz sentido — eu repito em meus pensamentos.

— Você sempre foi uma enxirida, não é Any? Vasculhando coisas que não te pertencem?  — Uma voz que não é de Savannah surge no alto das escadas, e a pessoa começa a descer à passos lentos. Eu estremeço, e não ouso olhar para trás. — Não é atoa que seus pais sempre te deixam de castigo. — Eu finalmente tomo coragem de me virar para olhá-lo, e agora ele solta um longo suspiro abafado.

"Who?" - Short Fic Beauany (+13)Onde histórias criam vida. Descubra agora