Poemas noturnos e aleatórios

Peixinho dourado

É isso que eu sou

Sou um peixinho dourado

Sou bonito

Todos gostam de mim

Gostavam 

No início era só alegria, mas conforme fui crescendo, não quis mais nadar daquela forma que todos amavam

Era infantil 

Quem quer um peixe de estimação?

Peixe não faz nada que os outros gostam

Nós ficamos no aquário, só 

Não somos tão manipuláveis como os cães 

Somos sérios 

Só nos animamos quando a comida chega, isso sim é uma festa

Mas com o tempo somos esquecidos

Ficamos nesse aquário redondo

E somos esquecidos 

Escutamos cada coisa que acontece

Vemos tudo

Mas permanecemos nadando 

Gritos e gritos

Essa família só sabe gritar?

Estou me sufocando 

Errado está aquele que fala que peixe não morre afogado

Pois nesse exato momento estou me afogando 

Afogando na escuridão 

Afogando na solidão 

Afogando entre os gritos

Tento não ouvir, mas minhas nadadeiras são pequenas demais 

Estou me afogando 

Estou preso!

Preso nesse maldito aquário!

Eu quero sair!

Mas o que acontece se eu sair?

Eu vou morrer

Isso é certeza

Talvez não seja tão doloroso assim, morrer

Mas sou jovem!

Pule, só pule

Opa

Comida chegou

E meu aquário foi limpo

Tudo melhorou

Por que estava pensando em pular?

Seria culpa da sujeira do aquário?

Não sei, só sei que a alegria durou pouco

Os gritos voltaram

Críticas, ofensas, exigências 

Tudo que você possa imaginar 

Espere, não vou pular

Não pulo por nada nesse mundo desconhecido 

Só vou ficar na minha: nadando e vendo e escutando e comendo

É isso que tenho que fazer

Por que esperaria mais?

Talvez em algum futuro próximo ou distante essa família mude

Esse aquário mude

E eu mude