Saturno e Cassini

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Saturno e Cassini

Beau desligou o telefone, depois de falar com todos, Lemos e Angelos. A ligação do Trando sempre era a mais longa, com todas as instruções, mas hoje havia um leve tom de desespero na voz do seu irmão.

"Eu não quero que você vá." Seu irmão confessou. "Mas sei que não é meu querer aqui. Faça o que tem que fazer, e volte bem, pelo amor de Deus."

Beau nunca esteve tão longe de onde pudesse socorrer e isso parecia ter finalmente ficado claro para seu irmão super protetor.

Beau sentiria falta de Trando, de todos eles.

Os últimos dias haviam passado rápido demais, mesmo com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Natal, ano-novo, tudo foi como um borrão repleto de felicidade. Um final de um ano em que tudo pareceu mudar tão radicalmente em sua vida.

Nos primeiros dias de Janeiro Beau se viu no aeroporto, pronto para um voo com escalas rumo ao desconhecido. Ele passaria meses na base, longe de tudo. Semanas antes isso parecia o ideal, o melhor para fugir de tudo o que havia acontecido.

Agora, vendo Julian em uma das bancas do aeroporto com Ben, discutindo um dos livros entre eles, Beau sentiu vontade de cancelar tudo e ficar ali, naquele momento.

E ele sabia que não poderia. Porque isso seria fugir também, e Beau estava cansado de fugir das coisas, depois de todos aqueles anos.

— Ah não, não faz essa carinha.

Ergueu o rosto de uma vez e encontrou um muxoxo de Nat, que lhe oferecia um copo descartável. Ela estava linda, como sempre, sentada ao seu lado nos bancos plásticos desconfortáveis enquanto o número do seu voo descia na escala, chegando perto do horário de se despedir.

Ela o olhou de forma que parecia saber exatamente sobre o que estava pensando. Talvez Beau fosse mais óbvio do que pensava, talvez fosse algo de irmã mais velha. Como por exemplo a forma como ela ergueu a mão para tocar seu ombro, devagar, lhe dando tempo de fugir se preciso. Beau quase se derreteu no toque, encostando a cabeça no ombro magro dela, os dois olhando os dois há alguns passos de distância.

Julian olhou na sua direção, a expressão ansiosa, relaxando ao o ver ali. Como se não conseguisse tirar os olhos dele por muito tempo depois de todos aqueles dias.

Beau conseguia entender bem.

— Sabe, eu ainda lembro do dia em que Lian percebeu que não gostava só de meninas. — Natasha falou de repente, uma mão dela em seu cabelo, o rosto fitando o irmão. Beau fez um som de interesse e ela continuou. — Ele havia tentado com Olívia, os dois sempre tiveram essa relação meio louca, mas quando ele ficou amigo do Benjamin foi quando ele entendeu de vez algo que acho que sempre soube. E ele ficou completamente apavorado.

A voz dela saiu em um tom triste e Beau fechou os olhos.

— Nossa família, meu avô na verdade, nunca foi boa em aceitar o que eles julgavam ser fora da normalidade. — Ela parou e tomou um gole do próprio café, as unhas fazendo massagem em sua cabeça. — E Lian sempre bancou o pacificador. Diferente do Luccas, ele odiava causar desavença entre a família. Então, como tudo, ele tentou engolir isso, baixar a cabeça e fingir ser algo que não era. Eu odiava ver ele fazendo isso com ele mesmo, entende? Meu irmãozinho sacrificando quem era.

Beau sentiu uma pontada por isso, mesmo que fosse algo que já havia percebido em Julian. Ele sempre colocava a felicidade dos outros acima da dele. Ele parecia sempre pensar que não merecia ser feliz.

— E então você apareceu. — Nat cortou seu pensamento, o olhando com um pequeno sorriso. — E ele mudou. Ele viu você, Beau, lutando para ser quem era, sem se importar com o que diziam e começou a mudar. Ben e eu... — Ela deu uma pequena risada e Beau sorriu junto. — Foi Ben que percebeu a confusão com o email de cara e me contou e sabe, eu pensei, vou ficar calada, quem sabe Julian não arranja um amigo que o ajude. Seu irmão sempre me falou de você, ele só falava de você.

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⏰ Última atualização: Dec 10, 2020 ⏰

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