Capítulo 10

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— ... O governo dos Estados Unidos declarou obrigatório o uso da pulseira que identifica o nível da nova bactéria Streptococcus no organismo. Todos os habitantes, com ou sem os sintomas, podem adquirir gratuitamente a nova tecnologia, fazendo o cadastro online no site de suas respectivas cidades. — a voz de um jornalista saía da TV na sala de estar.

Nos últimos dez dias estive atenta a todas as notícias sobre possíveis curas para a nova doença, mas tudo o que sabia era que seríamos obrigados a usar uma pulseira. Eu fiz o pedido da minha e da de Martin, e chegou no dia seguinte. Basicamente, a pulseira poderia adquirir quatro cores distintas, cada uma representando a gravidade da doença.

A primeira cor era branca, significava que o indivíduo não possuía a enfermidade no corpo; a segunda era amarela, significava que a quantidade de bactéria no corpo era baixa; a terceira azul, revelava sinal de alerta total; e a quarta vermelha, significava nível crítico, era o último estágio da doença.

Para saber o nível da enfermidade no corpo, bastava colocar um pouco de saliva, suor ou lágrima no bracelete e ele automaticamente mudava a cor da pulseira. Aquilo servia como um controle, para evitar que pessoas sem os sintomas ocupassem, sem necessidade, os hospitais.

Era interessante como as coisas tinham mudado em tão pouco tempo. Num dia estávamos todos bem e seguros, e no outro, preocupados com o que faríamos se a doença tomasse proporções ainda maiores. A quantidade de pessoas nas ruas diminuiu. Estavam com medo.

Mesmo passando muito tempo com Martin, a minha pulseira continuava branca e me aliviou um pouco saber que a dele não saiu do amarelo. Aaron também estava bem e aquilo me tranquilizava.

Ter que acordar todos os dias de madrugada para medicar o Martin estava me tirando da mordomia, acabava que eu levantava antes de o quarto me despertar pela manhã. Tomei banho e desci para tomar café. O cientista já estava na cozinha sentado.

— Bom dia, Chloe! — Martin disse.

— Bom dia, Martin! Como está essa manhã?

— Um pouco melhor que ontem — respondeu. — Poderia estar melhor...

— Por que?

— Não tem nada para tomar café. Acabou tudo! — ele riu. — Minha barriga pede comida!

— É bom saber que o seu apetite voltou — sorri e ele sorriu de volta. — Não se preocupe, eu vou no mercado agora mesmo.

— Ótimo! Não se esqueça do meu suco de laranja! — pediu.

Vesti um casaco e fui até a garagem pegar a moto. Em poucos minutos eu estava estacionando no supermercado.

A porta automática se abriu para mim quando me aproximei. Não sei se porque era cedo, mas o estabelecimento estava quase vazio. Passeei pelos corredores e notei que algumas coisas estavam em falta. O mercado parecia não ter sido abastecido há cinco dias. Peguei os dois litros de leite que ainda restaram, pão, o suco de laranja de Martin, iogurte, aveia, ovos e algumas frutas. Tudo parecia escasso. Talvez as pessoas estivessem estocando para uma futura crise.

Uma moça estava no mesmo corredor que eu escolhendo algumas maçãs, quando me viu, arregalou os olhos e se distanciou consideravelmente. Sua pulseira era amarela, a mesma cor da de Martin. Ela estava com medo.

No corredor seguinte, um rapaz colava sacos de arroz no carrinho. Foram seis no total. Ele me olhou, depois focou na minha pulseira e saiu do corredor. Provavelmente estava preocupado em me contaminar, pois sua pulseira era amarela também.

Enquanto eu passava minhas compras, uma mulher no caixa da frente me encarava. Ela parecia fraca, prestes a desmaiar. Quando ela se mexeu, eu pude ver uma ferida no seu pescoço, que ela tentava esconder com um lenço. A pulseira era azul.

Garota X: O Gene da CuraOnde histórias criam vida. Descubra agora