— Ariel?... Ariel?... ARIEL!
Minhas pálpebras abrem lentamente, revelando um rosto embaçado. Enquanto pestanejo, o borrão diante de mim começa a ganhar forma...
— Jake? — murmuro. — O que você está fazendo aqui?
— O que eu estou fazendo aqui?! — esbraveja. — Porr*, estou tentando te ligar há horas! Primeiro descubro que você foi embora mais cedo. Depois, você não responde minhas mensagens, muito menos as ligações — arregalo os olhos, surpresa por vê-lo tão irritado. — E então, quando toco a campainha, nada. Não tive escolha a não ser entrar pela janela, que-por-sinal-está-quebrada-o-que-é-perigoso-pra-caramba e te encontro caída no porão! Pelo amor dos Anonymous Ariel, será que dá pra você parar de fazer isso?!
Jake ofega, com a expressão enfurecida mais adorável que já vi. Suavizo as feições, abrindo um leve sorriso.
— Obrigada por se preocupar comigo. E por, bem... me salvar. De novo.
Ele bufa, fechando os olhos e passando a mão pelo cabelo.
— Por mais que eu esteja furioso, estou de fato mais preocupado com essa sua cara pálida. — Ele toca minha testa. — Você sequer comeu alguma coisa hoje?
Sinto a pele esquentar quase que imediatamente onde ele toca — mas sem dúvida não é porque estou com febre.
— Eu... hum... acho que comi de manhã...
Jake entrecruza os braços. — De manhã? E que horas foi isso?
— Sei lá, umas dez horas?
— Dez horas?! Quer dizer que você está há mais de doze horas sem comer nada?
— Bem... água conta?
Ele balança a cabeça em sinal de incredulidade.
— O que eu faço com você, Ariel?
— Nada — digo. — Sei me virar sozinha. Espera... — apenas agora, noto que não estou mais naquele porão sombrio, e sim deitada no sofá da sala. — Como eu vim parar aqui?
Jake permanece sentado no braço do sofá de dois lugares, de frente para mim. Ele coça a nuca e fita a parede, parecendo constrangido.
— Eu tive que te trazer, é claro. — Meu rosto pega fogo. — Você está... definitivamente precisando comer.
Ergo o torso cuidadosamente, apoiando a lateral das costas no estofado.
— Não se preocupe, Jake. Não é a primeira vez que isso acontece. Na verdade, tenho um certo histórico com desmaios. Desta fez, ao menos foi na minha casa.
Ele se desloca para o assento vago ao meu lado.
— Ariel, eu disse alguma coisa errada?
Me viro para a televisão, evitando contato direto com ele.
— Hum? Por que pergunta?
— Como eu disse, não sou nada bom com pessoas... eu diria que é uma falha minha. Mas, convenhamos que não é necessário ser um gênio pra saber que você ficou irritada comigo.
Mordisco o lábio inferior, em dúvida se devo ser sincera com ele ou não.
— É, você está certo. — Giro o corpo, ficando frente a frente. — Estou muito irritada contigo. Quer saber o porquê?
Jake assente, visivelmente ansioso pela resposta.
— Não se preocupe: na hora certa vou te contar. — Abro um sorriso diabólico.
Ele ri. — É. Acho que mereci essa.
— Mas é sério, não precisa se preocupar comigo. O que esse imbecil está dizendo não deve ser nada além de um blefe.
— O quê? O sequestrador? — pergunta, estupefato. — Do que você está falando?
— Você não viu a liga... Ah, é mesmo, não foi no meu celular. — Verifico o relógio na parede. — O retardado me ligou por volta da meia noite pro número daquele celular velho que magicamente apareceu no meu porão.
Bruscamente, Jake retorna ao local que sem dúvida verei nos meus pesadelos daqui em diante. Momentos depois, sua figura afobada está de volta com o aparelho em mãos. Abrindo o zíper de sua mochila, um notebook preto é revelado e apoiado no braço do sofá. E então, uma cena digna de filme começa: seus dedos se movem com extrema agilidade, os cliques do mouse sobrepondo o barulho das teclas que mais parecem pipocas estourando na velocidade da luz.
— Uau — exclamo. — Como você não tem tendinite?
— Meus tendões morreram há muito tempo — diz, afundando a tecla ENTER. — Hum... Tanto esse quanto o celular que esse merda usou são descartáveis.
— Sério? — me inclino sobre seu ombro para dar uma espiada. — Mesmo assim, temos um número. Podemos não saber quem é, mas podemos...
— ...rastreá-lo — completa. Ele me olha de soslaio e eleva a sobrancelha. — E como você sabe disso?
— Não é óbvio?! Sou formada em 20 temporadas de Law & Order.
Jake gargalha. É a primeira vez que o vejo rir tão alto, o que é fofo pra caramba.
— Posso saber que outros diplomas você tem?
Arrumo a postura, sentando com pernas de índio. Inicio a longa contagem nos dedos:
— Sou formada em medicina por Grey's Anatomy e The Good Doctor, em extraterrestres por Arquivo X, em sexo por Sex Edu... — travo. Meu sangue vai todo para a cabeça. Droga, Ariel. Você e essa boca grande.
Ele limpa a garganta, coçando a nuca e desviando a atenção de volta para o computador.
— Er... oh, veja só — exclama —, descobri de onde veio a ligação. — Uma pausa. — Hm... você não vai gostar nada disso.
Antes mesmo de deixá-lo contar, roubo o aparelho de sua mão.— A ligação veio do Aurora?! Isso... — franzo a testa — ...não significa que foi o Phil. Digo, poderia ter sido algum dos clientes.— Eu não disse que foi ele. Também não disse que não foi. De qualquer forma, precisamos verificar.
— Precisamos? — enfatizo. — Eu vou com você?
— É claro. A partir de agora, não posso tirar os olhos de você. — Jake levanta, vestindo o capuz. — Faça as malas, por favor. Ou melhor: pegue só o básico.
Meu queixo quase toca o chão.
— Está brincando?!
— Você não me deu muita escolha, Ariel. Terei que te levar comigo.
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SCARECROW - DUSKWOOD
Bí ẩn / Giật gânDo ponto de vista de Ariel, não há cidade mais bizarra que Duskwood. E, de certa forma, ela não está errada: todos os anos, nas noites de 31 de outubro, um cadáver é encontrado no meio da floresta. A polícia negligente é incapaz de divulgar detalhes...