Capítulo V

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Ele trava

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Ele trava. Destrava. Engatilha...

 Pisco algumas vezes quando a quebra dessa sequência me tira de meus devaneios. Parecendo entediado, Akoman roda a pistola sobre a mesa e depois cruza os braços, soltando uma lufada de ar pelas narinas. 

 Permaneço atenta, vidrada em toda e qualquer mudança de humor, buscando em sua linguagem corporal alguma pista sobre seus pensamentos. 

 – Por que vocês usam codinomes? Digo, para que não revelar seus nomes verdadeiros sendo que não se preocupam em esconder os rostos de vocês? – pergunto de repente, já incomodada com o silêncio sepulcral que nos rodeia desde que a dupla desceu as escadas em direção ao porão.

 Parece que toquei em um assunto delicado, pois o rapaz estica os lábios em um sorriso de canto que exala triunfo, ao mesmo tempo em que semicerra os olhos fazendo com que o brilho maldoso que eles emitem escape através de suas pálpebras estreitas.

 – Por acaso você temeria alguém que não tivesse coragem de mostrar o próprio rosto e se chamasse Benjamin ou Thomas?

 – Então é disso que se trata? Medo?

 – Claro. O que mais seria? O mundo gira em torno do horror. Aqueles que temem são controlados pelo medo. E aqueles que impõe o medo... governam. – explica com devoção. – Você sabe de onde vem nossos nomes?

 Um calafrio se apossa de meus ossos, como se acabassem de se transformar em cristais de gelo que podem se partir a qualquer movimento. Meus lábios tremulam enquanto meus neurônios trabalham para  formular frases coerentes.

  – Já devo ter ouvido Valak em algum lugar, mas não estou certa. 

 – Pois bem, assim como Valak, Akoman e Andras são nomes de demônios. Sabe o que significa?

 Faço que não com a cabeça.

 – Significa que, parabéns, você chegou ao inferno.

 – O mal escancarado, sem mascaras mas disfarçado de anjos. – sussurro cabisbaixa, referindo-me a boa aparência do trio.

 Em qualquer outra circunstância eu teria dado atenção até demais à beleza dos homens, cujos traços parecem ter sido desenhados pelo próprio DaVinci, entretanto, a simples menção de seus nomes em meus pensamentos ou a aparição de seus rostos gravados a ferro em minhas pálpebras é o suficiente para me causar náuseas. Para mim, os três são as pessoas mais nojentas e grotescas que já conheci.

 Ouço o rapaz estalar a língua algumas vezes, e quando o olho percebo que ele fita-me com ligeira reprovação. Isso me faz lembrar de quando eu era mais nova. Flashes piscam em minha mente, mostrando fragmentos de memórias de quando rabisquei a parede da sala com giz de cera e recebi o mesmo olhar de desapontamento do meu pai.

Quando soam os sinos [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora