CAPÍTULO 10 - Quinta-feira é a nova sexta

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🍀🌕💘🍾 / CAPÍTULO NARRADO POR NICOLAS / ⛱💸☯🧿🔮


Pela contagem da comanda na mesa, Tomás já estava em seu segundo chopp e eu nem tinha conseguido pedir o meu primeiro.

— O que aconteceu para estar tão cheio hoje? — pensei alto, o que fez ele me olhar engraçado.

O bar que sempre almoçamos juntos na quinta-feira estava lotado. Todas as mesas ocupadas, os atendentes correndo de um lado para o outro para servir os mil pedidos ao mesmo tempo. Mesmo sendo meio sujo, bagunçado e muitas vezes éramos maltratados pelos garçons grosseiros, todos nós adorávamos aquele lugar.

— Não é você que diz aquela palhaçada de que "quinta-feira é a nova sexta"? — ele soltou o copo para fazer as ridículas aspas com as mãos.

— Guarda o seu mau humor para as meninas.

— Você que sabe — Tomás resmungou. — Conseguiu falar com a Maitê sobre o otário do Bruno?

— Não — engoli em seco, ainda tentando chamar atenção de qualquer garçom que passava perto de nós. Tinha dias que precisávamos nos humilhar para conseguir algo. — Quase consegui naquele domingo, mas fui interrompido por você.

— Se precisar, eu falo. Mas vai ser do meu jeito.

Do jeito dele seria: direto, com deboche, sincero demais e cheio de palavrões. Eu queria ser sincero com a Maitê, como sempre, mas Antonella disse que ela estava passando por uma fase difícil. Mai sempre surtava no começo de cada ano, mas esse parecia... Diferente. Até Tomás conseguia sentir isso, ele só tentava fazer pouco caso.

Já eu tentava manter a minha tranquilidade em alta. O trabalho continua uma merda e sem previsão de melhorar, mas eu estava de boa sobre isso. Recebia bem, não tinha muito o que reclamar. O meu caso com a Renata ia bem, mas ainda sem compromisso sério (escolha dos dois). Sempre tive uma vida normal, feliz, e planejava continuar assim nesse novo ano. Contanto que eu pudesse ver minha irmã e meus amigos, para mim, tudo estava bom.

Nem mesmo a chegada dos trinta anos — que Maitê insistia em dizer ser um marco — parecia me perturbar.

Talvez a bebida toda daquela festa tenha lavado a minha alma e eu tinha sim começado as coisas com o pé direito.

Que Mai nunca me ouvisse falando assim de alguma superstição de Ano-Novo.

De longe vi as meninas se aproximando da nossa mesa. As duas estavam com suas roupas sociais demais e davam risada de alguma coisa ao atravessar a rua. Mai, com seus poucos centímetros de altura, parecia andar mais rápido para acompanhar minha irmã e aquilo tirou um sorriso involuntário do meu rosto. Seu cabelo preto, reto e liso se embolava um pouco pelo vento abafado do centro do Rio de Janeiro, onde cada um tinha um sol para si e muita poeira feita pelos mil ônibus que passavam ao mesmo tempo.

Ao chegar mais perto percebi que as roupas de Maitê estavam meio amassadas, o que era uma surpresa e tanto. Ela era bem chata sobre sua imagem no trabalho, sempre se esforçando demais para parecer mais velha ou mais profissional com aquelas roupas mais sóbrias. Minha irmã ia na onda para também não ser julgada pelo seu gosto excêntrico, já que o meio da ciência podia ser bem difícil para mulheres.

As duas, lado a lado, geralmente eram quase opostos. Mai sempre mais reservada e controlada, mas Antonella sempre foi um caso à parte, no dia a dia e principalmente quando era Carnaval, já que preferia sempre algo cheio de glitter e plumas. Todas as partes do meu corpo doíam só de pensar que aquilo iria acontecer em março e eu sofreria com as fantasias ridículas de minha irmã. Hoje eu conseguia dizer "não", mas quando era mais novo... Bom, vocês sabem que gêmeos com coisas combinando fazem sucesso, não é?

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