A cena que meus olhos viam era deplorável em vários níveis.
Debaixo de um sol intenso, estava eu, Nicolas e Antonella. Cada um jogado em uma cadeira de praia velha, moribundos e com a maior ressaca do mundo. Todos esperando que o sol curasse um pouco daquele erro da noite anterior.
O irmão da minha amiga tinha dormido em nosso apartamento e, por sorte, ontem ele já tinha saído preparado com a sunga por baixo da roupa bonita do Ano-Novo. Eu e Antô vestimos qualquer biquíni e todos partimos para a praia de metrô, para que não houvesse o risco de alguém vomitar no táxi.
Seria um péssimo jeito de começar o primeiro dia do ano.
E lá estávamos nós, ridículos e podres. A cada hora que um vendedor gritava anunciando três latas de cerveja por dez reais eu tinha vontade de morrer.
— Por quê? — Antonella lamentava pela décima quinta vez. — Sério... Nós temos quase trinta anos — e suspirou dramaticamente. — Acho que meu rim está parando.
Ri sem humor algum — Lembra daquela vez que peguei dengue? É a mesma sensação.
— Será que tudo aquilo era bebida barata ou só estamos velhos mesmo? — Nicolas perguntou sem mover um músculo de seu corpo. Ele parecia um robô, estático na cadeira de praia. Seria uma cena hilária de se ver se eu também não estivesse na merda.
Ah, que saudade de encher a cara aos dezoito anos e estar pronta para outra em poucas horas. Agora... Eu ficava até gripada quando bebia demais e dormia pouco.
— Lembram quando a gente bebia demais e depois comia naquele podrão do cachorro quente? — questionei, várias memórias já preenchendo minha mente cansada.
Nicolas gemeu — Se eu fizer isso hoje acho que eu morro.
Consegui rir fraco junto com Antô. Ele geralmente era bem saudável, adorava correr e bem, era gostoso demais. Mas não era só pelo corpo que não comia mais essas porcarias durante a semana... Infelizmente descobrimos que a idade também faz isso, você engorda do nada (e com coisas que não te faziam engordar antes) e um hambúrguer pode ser o suficiente para aquela azia ficar durante todo o expediente. Não valia mais a pena, preferíamos comer uma boa e bela salada.
— Vocês sabem que eu reclamei com o DJ sobre a música, não é? — a voz de Nicolas saiu super arrastada. Ele parecia pior do que nós duas juntas.
Antô riu — Clássico.
— Provavelmente amanhã vou saber que você não pode mais ser convidado — comprimi meus olhos e olhei para o céu, tentando absorver um pouco mais daquele sol quentinho. Estava me preparando para dar um mergulho sem ter o risco de morrer afogada por ainda estar tão tonta.
— Ótimo — Nicolas continuou —, assim na virada desse ano a gente faz um jantar e cada um bebe uma taça de vinho e só — o ouvi suspirar, mesmo imóvel e de olhos fechados. — Assistimos aos fogos e depois vamos dormir.
— Isso é o efeito dos trinta que vocês fazem esse ano?
Os gêmeos eram um ano mais velhos que eu e Tomás, então tinha chegado o assustador ano da virada dos trinta. Por sorte eu ainda iria completar meus vinte e nove.
— Deve ser... Vocês também estão com perda de memória? — Antonella perguntou. — Porque eu só me lembro da metade da noite.
— Depois daquele shot que tomei com o Nicolas não me lembro mais de nada — gemi só de pensar no gosto daquela morte. — Por que a gente faz isso mesmo?
Nicolas tossiu — Porque somos idiotas. E porque era de graça.
Concordei — Já tem o meu voto para a virada ser uma taça de vinho e depois cama.
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Acidentalmente, Você [DEGUSTAÇÃO]
Roman d'amourO mantra de Maitê sempre foi viver com controle e sem excessos. Pagava as contas antes do dia do vencimento, não se atrasava para compromissos importantes e sempre tinha um dinheiro de reserva caso algo desse errado naquele mês. Saía, tinha amigos e...