CAPÍTULO 09 - Digam adeus a Maitê careta e quadrada

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— É um bom plano? Acha que essa minha reação responde as cartas?

Fortuna me olhava com uma expressão indecifrável. Tinha pulado o almoço para visitar a mulher e encontrar alguma luz. Era a segunda vez que me consultava com ela e eu senti o mesmo arrepio doido da primeira vez em que entrei na sua sala. As paredes violetas me davam uma energia a mais, mas os mil adereços e a esquisita bola de cristal em cima de sua mesa eram um pouco cinematográficas demais.

Por mim, tanto faz, desde que ela me ajudasse a colocar a minha vida nos trilhos.

— Acho que você é aquele tipo raro de cliente que realmente me escuta, não é? — ela sorriu, suas íris pareciam ainda mais coloridas do que eu me lembrava. Uma mistura de verde com laranja. Ou talvez roxo, por causa da grande incidência de violeta no cômodo. Sei lá. — Geralmente quem me procura quer soluções rápidas, como mágica.

— Eu não acredito em mágica, então deve ser por isso.

— Então no que você acredita, Maitê?

Demorei um pouco para responder, porque queria dar a resposta certa. Eu acreditava em muitas coisas. Cristais, cartas, energias negativas e positivas, espíritos, simpatias... Mas magia, daquelas que a gente lê em livros, não.

Signos... Eu sei que já falei para você que não acredito, mas meu horóscopo foi tão certo nesses últimos dias que talvez eu comece a acreditar sim.

— Acredito nas cartas, búzios, tudo — analisei novamente a quantidade de penduricalhos por toda a sala de Fortuna. — Mas sei que precisamos fazer algo, porque nada disso faz milagre sozinho.

Ela concordou, rindo. Ainda tinha a sensação de que ela me achava uma piada, mas de novo: se resolvesse a minha vida, tudo bem.

Continuei — Então, o que acha? — suspirei. — Isso está começando a impactar ainda mais a minha vida profissional... Esses dias perdi uma apresentação grande, porque estava focada em achar esse maldito cara da festa.

Fortuna fechou os olhos e separou as cartas. Ao tirar a primeira, abriu os olhos, analisou-a e sorriu.

— Vejo positividade nos seus planos — continuou tirando as cartas, enquanto minha ansiedade ia lá em cima e voltava. — A pessoa que você procura está atrelada com alguma coisa do seu passado, agora consigo ver mais claro, porque você parece estar mais perto de descobrir quem é.

— Me arriscar perguntando para esses caras é uma opção?

Fortuna tirou mais algumas cartas do jogo. Olhou, olhou e então me encarou.

— Como disse, vejo aspectos positivos, Maitê. Você tem um bom coração — e sorriu para mim. — Mas é uma jornada difícil, de exposição. Você precisa tomar cuidado pois vejo a possibilidade de alguém querer se aproveitar disso.

— Alguém vai puxar o meu tapete?

Ela deu de ombros — Acho que podemos falar desse jeito. Precisa ter cuidado para essa busca não te cegar — juntou as cartas em um bolo. — Talvez isso já esteja acontecendo...

— O que aconteceu no trabalho! — falei em um suspiro. — Você tem razão. Eu não consigo pensar em outra coisa além disso, estou ficando cega.

Fortuna voltou a sorrir. Passou as mãos levemente na bola de cristal bizarra.

— Você tende a ser levada pelas emoções.

— Eu sou a pessoa mais controlada que você vai conhecer na vida — franzi o cenho para aquilo. E era a verdade. Sempre fiz planos para tudo, odiava surpresas, me antecipava sobre qualquer coisa.

Acidentalmente, Você [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora