Pegue suas cores

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O escritório fora transformado em um pequeno estúdio. Algumas fontes de luz mais fortes, câmeras posicionadas diante do sofá branco, logo a frente um fundo azul solicitado por sua equipe.

Lena cruzou as pernas, respirando fundo e abaixando um pouco o rosto pelo incomodo em seus olhos verdes causado pelas luzes. Ela estava cumprindo um compromisso de sua agenda. Estava ali para responder sobre a sua última aparição.

Sam terminava de passar algumas instruções ao rapaz que ficaria encarregado de manusear os equipamentos. A CFO apareceria ao lado de Lena e seria encarregada de ler as perguntas feitas pela web.

Sentou-se por fim ao lado de Lena, e tomou em suas mãos o iPhone da amiga, arrumando seus cabelos.

— Podemos começar? - o jovem dirigiu-se as mulheres e esperou o sinal positivo vindo de Sam, que assentiu com a cabeça e sorriu em agradecimento. — Começando em 3... 2... 1... Gravando.

Silêncio...

A empresária olhou para a sua direita com o cenho franzido, era a deixa para que Lena desse início a Live e elas pudessem começar. No entanto a jovem CEO mantinha seus olhos baixos e bem abertos, fixos em um ponto qualquer que não fosse nada importante.

Lena estava com medo. Estava com medo pelo que tivera feito na noite passada, aceitando um pedido camuflado de Kara. Lena estava com medo do que poderia vir a acontecer em sua vida. Ela estava com medo de ser bagunçada, e de ter sua vida bagunçada. Estava com medo de gostar do inesperado, e de se apaixonar pelo imprevisível, de se encantar pelas vírgulas e reticências. Ela estava com medo.

— Lena? - a voz suave de Sam a fez inclinar o rosto em sua direção, mantendo a expressão quieta e contida. — Você está bem? - a CEO assentiu com a cabeça e ergueu seu tronco, voltando a pose de séria que ela fazia em muitas reuniões. — Tem certeza? - assentiu novamente. — Verbalize Lena, Verbalize! - bateu com as mãos no joelho da CEO que a encarou incrédula.

— Não seja agressiva, eu estou bem. - confirmou e encarou o rapaz atrás da câmera. — Podemos começar novamente? Obrigada.

E novamente fora feita a contagem, mas dessa vez Lena deu início a Live conforme o combinado, respondendo vagamente algumas questões.

— Estou um pouco intrigada, a maioria das questões veio acompanhada de uma hashtag que eu não compreendo a finalidade. - deu de ombros e encarou a amiga. — Hashtag: "get your colors".

A menção do conteúdo da hashtag fez com que Lena deixasse sua mente vagar, mais uma vez para a jornalista atrevida. Lena sabia de onde aquela frase havia sido tirada, ela sabia qual havia sido a mente responsável por aquilo, e se sentia orgulhosa, em partes.

Orgulhosa por ainda haver pessoas como Kara no mundo, mas também ainda mais orgulhosa por existirem tantas outras dispostas a levarem a diante. Dispostas a mudar um pouquinho o mundo, como a jornalista havia proposto. Orgulhosa de ter se deixado participar, mesmo que, para ser sincera, Lena não compreendesse porque havia sido a pessoa selecionada por Kara.

Mas Kara sabia. Kara sabia como ninguém o motivo pelo qual deveria ser Lena. A historia de vida, o tempo perdido, as emoções deixadas de lado, mas acima de tudo, o desafio de devolver a alguém algo tão valioso, o desafio de se engajar em trazer a felicidade do outro. O desafio de deixar o egoísmo de lado e pensar além. O desafio de abarcar o mundo com o coração e aperta-lo carinhosamente.

A gravação já havia acabado e Sam tratava com o rapaz os últimos detalhes, deixando o sozinho para que juntasse o restante do equipamento.

— Lena Luthor! - exclamou ao chegar no início do corredor e ver sua amiga se preparando para sair da sala. — Onde pensa que está indo? - cruzou os braços e pode ver a confusão no rosto da CEO.

— Vou tomar um café. - arrumou o sobretudo preto em seu corpo e voltou a andar até a porta.

— Não vai não. - contrariou. — Você pode ir a qualquer lugar, mas depois de me contar exatamente oque está acontecendo. - Lena bufou e encostou a testa na madeira da porta. — Para o sofá, anda! - ordenou e a CEO assentiu. Não que Lena fosse um pau mandado, mas ela também precisava daquela conversa.

— Depois eu posso ir tomar o meu café? - a CFO assentiu e Lena retirou o sobretudo, sentando-se no sofá.

— O que está acontecendo com você? - seus olhos preocupados alertavam a CEO para que ela não escondesse, para que não a deixasse angustiada. — Desde ontem você está fora de órbita, isso não é comum. - suspirou e Lena assentiu, compreendendo.

— Estou um pouco assustada. - confessou.

— Ainda com a descoberta da Kara?

— Não com a descoberta em si, eu no fundo sabia que viria acontecer em algum momento. - explicou a negativa. — Mas com ela. Sam ela me deixa tão intrigada. - apoiou a mão em seu rosto e suspirou. — Get your colors é o nome do mais novo projeto de Kara, é o projeto mais adorável de todos. - a empresária ergueu as sobrancelhas e coçou a nuca.

— Do que se trata? - perguntou. Em resposta Lena retirou o celular do bolso e deu alguns toques, estendendo o aparelho para Sam.

Na tela, o texto que Kara havia escrito na noite passada com o pedido silencioso. A empresária leu tudo com atenção e, se posso arriscar, admiração para com que Kara estava tentando construir. Ao terminar a leitura, Lena não deixou que ela falasse nada, tomou o aparelho em mãos e abrindo uma nova página.

Get your colors and Go !
Chance the World.

O título no topo da página brilhava em letras garrafais e coloridas.
Rolando pra baixo podia-se notar que aquela página havia sido configurada para exibir todas as postagens, das mais várias das redes sociais, que possuem a Hashtag do nome do projeto.

Sam observava cada postagem, detectando algumas das perguntas que leu minutos atrás. Agora ela ela poderia compreender sua amiga. Agora Sam poderia compreender o espanto.
Mas, acima de tudo, ela poderia compreender a forma como Lena estava sendo puxada para perto de Kara.

— No fim do texto. - começou baixinho, atraindo atenção da amiga. — No fim do texto ela pede para ser deixada colorir a vida de alguém, mas não se trata de uma frase com intenção de convidar a todos a participar. Se trata de um pedido. - ela não precisava terminar de explicar, Sam era perceptiva o bastante para entender do que se tratava.

— Ela pediu a você. - concluiu pela CEO.

— Ela pediu a mim. - concordou e pegou o celular de volta.

— Lena... - fez uma pausa, totalmente compreensiva. — O que você disse? - Lena encarou a grande parede de vidro a sua frente, a qual dava pra ver National City inteira. Sua mente vagando para para o pequeno diálogo que tivera com a jornalista.

"Vamos voltar no tempo juntas."

"Por que eu?"

"Por que não você?"

"É uma boa pergunta."

"Não se trata de uma pergunta, no fim das contas.
Amanhã nós seremos verdes, Lena, seremos verdes."

— Eu permiti.

My girl who understands. Supercorp  - By ForsythefgOnde histórias criam vida. Descubra agora