Capítulo 8 - Confundindo

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Capítulo 8 - Confundindo. 


- E assim o fiz, doutor. A Lê, quer dizer, a senhorita Leila chegou há poucos minutos. Não é mesmo senhorita? - Olhou para ela. 
- Exatamente, acabei de chegar de viagem. Tinha... Esquecido um negócio, um livro aqui, quer dizer, lá no meu quarto. Vim buscar e me deparei com a senhora Steele tendo aquele surto horrível. Ela estava realmente desequilibrada, totalmente fora de si. Acabei ficando aqui para ajudar meus patrões, pois tenho muito carinho por eles. Sabe como é, não é? 
- Sei sim. - Christian concordou não esboçando qualquer reação diante deles. 
- Mas e aí doutor? O que vai acontecer com minha esposa agora? Acha que ela enlouqueceu de vez e terá que ficar internada para sempre?! Quais providências preciso tomar daqui em diante? Para o bem dela, é claro. - Jack encheu o moreno de perguntas. 
- Vamos por partes, senhor Steele. - Respirou fundo - Primeiro preciso examinar minha paciente, saber o que provocou este aparente surto psicótico nela. Além do mais, com o sossega leão que lhe dei, ela só acordará amanhã e na clínica para a própria segurança dela. Ao menos, por enquanto. 
- Eu sei o que provocou este surto, doutor. Hoje... Hoje faz dez anos que o pai dela assassinou a mãe que foi pega com o amante, e isso acabou fazendo com que Anastasia surtasse de vez. Viu e ouviu vozes, falou diversas coisas desconexas, ficou agressiva, teve um pouco de tudo. Minha mulher não está mais no seu juízo perfeito e você não sabe o quanto isso dói em mim. - Lamentou cobrindo o rosto entre as mãos a fim de parecer emocionado. 
Mas Jack esqueceu que estava diante de alguém que sabia mais do que ninguém analisar as reações. Das mais sinceras até as mais falsas. 
- Me procure amanhã e conversaremos melhor sobre o caso da sua esposa, senhor Jack - Apertou a mão dele - Com licença! - Despediu-se dando as costas para ambos e saindo do quarto. 
- Será que ele desconfiou de algo? - A loira indagou mordendo o lábio. 
- Acho que não. - O loiro negou dando de ombros e ela esboçou um rápido sorriso para ele. 
~*~
Já era madrugada quando Anastasia chegou desacordada ao sanatório de Christian. Assim que a jovem chegara no local, passou por alguns exames e depois foi levada para o quarto de observação, que Christian reservava aos pacientes que tivessem acabado de ter algum surto. 
Para a segurança dela, colocaram-lhe uma camisa de força. 
~*~
- Não acredito que finalmente nos livramos daquela mosca morta! - Leila exclamou radiante, abrindo uma garrafa de champanhe na sala de estar. 
- Eu disse que ia dar tudo certo. Não disse?! - Jack pegou as taças para que ela derramasse o líquido comemorativo nelas - Espero que amanhã o doutor Grey diga que ela está louca de vez e, me dê um lindo atestado de insanidade mental, vai ser perfeito Lê.  
- É exatamente isso que acontecerá mas vamos focar nesta noite, nestas taças e principalmente, em namorar na cama da Anastasia hoje. Aquela sim, macia e confortável como eu mereço. - Encheu as duas taças - Bem diferente da minha cama que tem aquele colchão podre e duro! Finalmente vou ser recompensada por todos esses anos de sofrimento. Finalmente! - Comemorou brindando com o amante e o beijando ardentemente em seguida.
~*~
[...]
Amanheceu. 

E o raiar do sol fez com que os olhos de Anastasia se abrissem. 
Lentamente. 
Primeiro, estava tudo branco.
Depois, muito embaçado, com as imagens distorcidas, não dava para distinguir absolutamente nada. 
A luz do teto incomodou os olhos da morena que piscou várias vezes seguidas em busca de melhorar a visão, conseguindo somente após algumas tentativas.
Depois, uma dor de cabeça horrorosa atacou sua cabeça, fazendo-a gemer de dor.
E com a dor, vieram também as dúvidas.
- O que está havendo? - Perguntou-se olhando para os lados. 
Em seguida, as lembranças do dia anterior vieram em sua mente. 
As vozes de Carla, os gritos de socorro, a música apavorante e muito alta.
As luzes piscando, as portas se mexendo, o medo. 
Veio tudo de uma vez transformando Anastasia em alguém completamente diferente da CEO calma, que dominava uma das maiores empresas de tecnologia do mundo a mãos de ferro. 
- Isso é coisa da Carla e do amante dela, só pode. Ou pior, pode ser do Raymond - Murmurou arregalando os olhos - SOCORRO! SOCORRO! - Começou a se debater e segundos depois, Christian, que passara naquele exato momento pelo corredor para atender outro paciente, entrou no local. 
- Senhora Steele, já acor...
- VOCÊ ESTÁ DO LADO DELES? JUSTAMENTE VOCÊ? - Ela se ajeitou na cama - E essa coisa em mim? Eu quero me mexer, me tira daqui. - Resmungou assustada com a camisa de força. 
- Anastasia, tente manter a calma, por favor. 
- O Raymond... O Raymond matou ela anos atrás. Ela quis vir me avisar, quer me avisar que sou a próxima. Foi o Raymond quem fez eu parar aqui pra me matar, não foi? E você o ajudou? você é ruim como ele? Não pode ser! Me tira daqui! Cadê o Jack? Traga meu marido aqui, ele vai cuidar de mim, me proteger. Só ele vai. ANDA! TRAGA ELE AQUI! - Se levantou da cama, mas Christian tentou impedi-la.
- Você não pode sair daqui, Anastasia. Tem que ficar nesta cama e descansar mais um pouco. - Disse calmamente, mas ela deu uma canelada no joelho para que a soltasse. 
- Ora, vá se danar! Quem é você pra se meter na minha vida? Que lugar é esse?! Espera... Você... Você é psiquiatra, filho da Grace! Isso é um sanatório, por isso essa camisa de força infeliz! O que estou fazendo aqui?! Me tira daqui! - Aproveitou que ele estava com dores no joelho e tentou correr até a porta. 
- Droga! ENFERMEIROS! - Christian gritou e segundos depois, dois enfermeiros surgiram no quarto - Levem-a para o quarto branco para que se acalme e a monitorem o tempo todo, por favor. 
- NÃO! NÃO! ME SOLTEM, VOCÊS QUEREM ME MATAR, ME SOLTEM! - Ana se debateu muito, mas mais uma vez não adiantou. 
Outro sedativo foi aplicado em seu braço.
E desta vez, a jovem foi levada para o intrigante quarto branco.
[...]
Quando Ana acordou novamente, sua cabeça doía bem menos, mas doía. 
Estava em um quarto totalmente branco, deitada em uma cama branca e, ainda com a camisa de força impedindo seus braços de se moverem. 
Em sua mente, os gritos de Carla continuam ao som daquela sinfonia apavorante, de enlouquecer qualquer um. 
- Para... - Pediu passando a chorar - O que está acontecendo comigo?! Será que enlouqueci de vez? Não consigo distinguir majs nada... Céus, que pesadelo! 
~*~
Christian estava em sua sala analisando os exames de Anastasia quando recebeu um telefonema.
- Pois não? - Perguntou segurando o telefone na mão esquerda.
- Onde você está maninho? 
- Ah, oi Mia! Estou no sanatório.
- Não veio dormir em casa esta noite...
- A senhora Steele está internada aqui. 
- O QUÊ? 
- Isso mesmo, foi internada ontem após um surto psicótico em sua mansão. 
- Inacreditável! 
- Passei a noite toda monitorando-a, mas acho que há algo de errado. 
- Como assim? 
- Estou analisando os exames da Anastasia e ao que parece ela ingeriu uma boa quantidade de sonífero recentemente. Além do mais, nossos pais disseram que a casa dos Steele estava vazia nos últimos dias, lembra?
- Sim, só estava a senhora Steele e o marido dela. 
- Pois é, mas a governanta da casa estava lá no momento da internação. Deu uma desculpa esfarrapada, mas deu para notar que estava mentindo. Quero entender por quê ela mentiu para mim, só isso. 
- Por quê ela mentiria pra você, maninho? 
- Ta aí uma coisa que adoraria saber, Mia. E farei o que puder para descobrir. 
~*~
- Como vim parar aqui? - Ana questionou andando de um lado para o outro - Será que estou mesmo louca? Ou será que isso é uma alucinação? E ontem? Eu vi tanta coisa terrível, tanta loucura... - Parou de andar e foi até a porta - ABRAM! PRECISO DE ESCLARECIMENTOS! POR FAVOR, ABRAM ESSA MALDITA PORTA! - Gritou e alguns minutos depois, a porta fora aberta por Christian com seus dois enfermeiros.
Na mão do doutor, havia uma bandeja com alguns alimentos.
- Bom dia, senhora Steele. - Fez sinal para que os enfermeiros ficassem do lado de fora da sala, entrando sozinho na mesma - Está mais calma?
- Por quê está fazendo isso comigo? - Ana sentou-se na cama, o olhando desconfiada - Onde está meu marido? O que fez com ele?
- Não fiz absolutamente nada. Jack está em casa. Você está aqui porque teve um surto, um surto psicótico um tanto quanto Intenso. - Sentou-se ao lado dela com a bandeja - Está com fome? 
- Muita. 
- Irei te alimentar, então.  
- Não vai tirar essa camisa de força de mim?!
- Ainda não, infelizmente. 
- ENTÃO SAI DAQUI! SAI! NÃO QUERO NADA, NADA QUE VENHA DE VOCÊ,  ENTENDEU? VOCÊ É UM MONSTRO, ESTÁ COM O RAYMOND NISSO TUDO, NÃO SEI COMO, MAS ESTÁ. EU QUERO O JACK, ELE... ELE VAI CUIDAR DE MIM. - Ana se afastou ficando encostada na parede. 
- Fique calma, senhora. Venha até mim, por favor. - Apesar de estar muito confusa, Ana estava com fome e por isso, obedeceu - Se alimente bem, com muita tranquilidade para ficar mais forte e colocar a cabeça no lugar aos poucos. - A ajudou a tomar o copo de leite - E depois, por favor, me diga tudo o que lhe aconteceu ontem. O que viu, o que ouviu, tudo. É para o seu bem, tudo que quero é te ajudar. Acredite em mim. - Ela nada respondeu, apenas continuou comendo. 
[...]
- Satisfeita?
- É humilhante estar recebendo comida diretamente na boca por estar em uma camisa de força, como se eu fosse uma louca. Será que sou mesmo?! - Perguntou se levantando novamente. 
- Me diga você. Do que se lembra? 
- Er... - Ana tentou se concentrar - Já faz dias que eles vem me perseguindo. 
- Eles? A quem se refere? 
- A... Ao Raymond, a Carla e seu amante. Eles vem me mandando sinais, muitos sinais. 
- Que tipo de sinais? - Christian franziu a testa.
- As vezes, as portas da minha casa se mexiam. Em outras, ouvia a voz da Carla querendo se comunicar comigo, o amigo do Jack disse que é o espírito dela tentando se comunicar comigo para me levar ao além. Não levei a sério, mas depois, fez todo sentido. As fotos dela apareciam espalhadas pela casa com frequência. As luzes se acendiam sozinhas, do nada. Achei que fosse impressão minha, que estivesse perturbada pelo aniversário da morte da minha mãe, mas não. 
[...]
- Ontem foi muito mais forte. Tinha uma música, uma ópera muito alta, insuportável, muitos gritos, era a voz dela, eu sei que era! Tinha... Sangue, muito sangue na cama do quarto. Eu gritei, pedi ajuda, tentei sair, mas ninguém me ajudou e a casa estava cheia de cadeados. 
- Você acha que tudo que viu foi real?
- Tenho certeza que sim, eu juro! 
- Você pediu ajuda como? 
- Tentei pedir ajuda no telefone, no interfone também, mas ambas as linhas estavam mudas. Meu celular tinha sumido também, o fantasma deve ter sumido com tudo de propósito. Tentei fugir, mas as portas e as janelas também estavam fechadas. Eu estava completamente sozinha e...
- Sozinha? Como assim sozinha? Não tinha ninguém na sua casa? 
- Não, não tinha. Faz dias que não tem, passo os dias sozinhas e as noites com o Jack, mas ele passava quase o dia todo fora, então ficava muito tempo sozinha. Aliás, onde ele está, hein? Preciso muito falar com ele pra me tirar logo daqui. 
- Não tinha funcionário algum na sua casa nos últimos dias? Nem mesmo sua governanta? 
- Não, claro que não. Leila está viajando no interior para visitar parentes, algo assim. Jack comentou comigo certa vez. Por quê? 
- Ontem ela estava em sua casa. 
- Impossível! Ela só voltaria de viagem no fim do mês. Tem certeza? 
- Estava sim, te garanto. Disse que tinha esquecido um livro. Anastasia, preciso te perguntar uma coisa. Você realmente confia cem porcento no seu marido? 


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Será que a Ana confia?

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