Sanatório

Capítulo 1 - Sugerindo

Capítulo 1 - Sugerindo.

Vale do Silício, Califórnia. 

Meados de setembro.

Segunda-feira.

- De novo Ana? Até quando vai ficar perdendo tempo olhando para essas fotos velhas?! - Jack, um belíssimo loiro de olhos claros perguntou para a esposa, que estava sentada na cama de casal da suíte da mansão onde ambos moravam com uma foto antiga em mãos. 
Na foto continha a imagem de um casal aparentemente feliz, com uma criança sorrindo no colo. 
Eram Raymond e Carla Steele, um dos casais milionários mais conhecidos dos EUA, donos de uma trajetória vitoriosa que terminou em uma grande e famosa tragédia. Antes um dos casais mais elegantes da sociedade americana, tiveram suas vidas destruídas no dia em que Ray flagrou a esposa com um amante no quarto deles.  
Furioso e possesso de raiva, Raymond assassinou a queima-roupa o amante e Carla que morreram na hora. Ana estava no quarto ao lado e foi quem flagrou a cena mais macabra de sua vida ao ver sua mãe morta na cama com o amante, aos dezesseis anos de idade, exatamente em 12 de outubro de 2010, ironicamente, dia das crianças. A partir daí, seu tutor, Harry, primo de Raymond, ficou com sua guarda e cuidou de sua fortuna até que se tornasse maior de idade, mas este também morreu anos depois em um grave acidente de carro, deixando Anastasia mais uma vez, sozinha. 
- São meus pais. Só estou matando um pouquinho da saudade deles, de um tempo em que éramos felizes como uma família deveria ser. - A morena de vinte e seis anos retrucou guardando a foto na gaveta do criado-mudo. 
- Você precisa superar essa tragédia de uma vez por todas, querida. - O rapaz que trabalhava na empresa da esposa em um cargo de respeito se aproximou dela, sentando-se ao seu lado na cama. - Já se passaram quase dez anos. - A lembrou. 
- Como se fosse fácil. Saber que aquele horror vai completar dez anos daqui umas semanas me abala tanto, é como se estivesse revivendo tudo de novo. Só quem já passou por uma tragédia dessa proporção sabe o que estou sentindo aqui dentro. - Ana desabafou sentindo algumas lágrimas caírem de seus olhos azuis. 
- Que tal pedir alguns dias de folga na empresa? Poderíamos focar naquele nosso projeto antigo de termos filhos, lembra? Um filho iria alegrar muito esta casa, nossa vida e todo o resto. E aí? O que acha da ideia do seu maridinho que te ama mais que tudo neste mundo? - Segurou as mãos dela - Querida, é só você assinar uma procuração no meu nome que cuido dos nossos negócios para você durante algum tempo para que possa engravidar com tranquilidade. - Sugeriu referindo-se a TecnoLux, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, que sua mulher comandava com mãos de ferro desde que completara vinte e um anos e recebera toda a herança pessoal da família, avaliada em quase um bilhão.  
- Vou pensar bem no assunto, mas no momento apenas quero ir pra empresa trabalhar, você sabe o quanto amo fazer isso. - Fez carinho e deu um selinho nos lábios do marido, com quem estava casada há quase cinco anos. 
- Como quiser, amorzinho. - Ele concordou vendo a morena pegar sua bolsa, coloca-la no ombro e acenar para ele antes de sair do quarto. 
Alguns segundos depois, a porta foi aberta e uma bela loira surgiu, vestida com um uniforme azul escuro, típico de governanta, além de um coque no cabelo e maquiagem leve, exceto pelo batom vermelho que jamais saíra de sua boca. Ao vê-la, Jack a puxou para si, lhe dando um beijo caliente e borrando todo o batom.  
- Até que enfim a mosca morta foi embora. - Leila murmurou beijando o pescoço do amante, que gemeu baixinho. 
- Espera Leila... - Jack a afastou - Ana desconversou de novo quando falei a respeito da procuração. Será que desconfia de alguma coisa?  
- Duvido, aquela garota sempre foi muito burra. Se não fosse, não estaria sendo corna há tanto tempo dentro da própria casa. - A loira disse sentando-se na cama de casal do amante, com quem mantinha um caso há três anos debaixo do mesmo teto escondido de Anastasia - Jack, precisamos fazer alguma coisa pra conseguir logo a fortuna da Anastasia, estou perdendo os melhores anos da minha vida por conta disso, gatinho. Era pra estarmos felizes viajando pelo mundo, não transando as escondidas no quartinho da empregada. É uma humilhação para uma mulher como eu, com a minha ambição e inteligência. 
- Ta, mas você quer que eu faça o quê?! Que mate a Ana pra conseguir essa maldita herança?! Que me torne um assassino? É isso que você quer Leila? - Jack questionou-a com as mãos na cintura. 
~*~
Após se despedir do marido, Ana passou na cozinha onde tomou um gole de café fresco feito por Grace, sua cozinheira de anos e em seguida, foi para a garagem onde entrou na Mercedes dirigida por seu motorista, Carrick, marido de Grace e que tinha um coração quase do tamanho do mundo. 
- E aí, Carrick? Como vai sua família? - A empresária puxou assunto enquanto mexia no celular a fim de ver sua agenda do dia, que tinha acabado de ser enviada por sua secretária, Jessica.  
- Vai muito bem, senhora Steele. - O loiro de olhos claros respondeu sorrindo, enquanto dirigia para a TecnoLux, empresa de sua patroa que ficava no famoso Vale do Silício, o melhor lugar para se trabalhar com tecnologia no planeta. - Mia está estudando para ser juíza e meu filho mais velho abriu recentemente um sanatório para cuidar de pacientes com problemas mentais. Aquele garoto só me dá orgulho, sempre busca ajudar o próximo, desde muito pequeno, sabia?
- Parabéns, fico muito feliz por vocês. Espero que seus filhos alcancem vôos cada vez mais altos pois eles merecem muito, assim como você e a dona Grace! - Ana desejou sorrindo de volta para seu motorista. 
~*~
- Claro que não, não somos assassinos. - Leila negou ficando de pé - Mas alguma coisa tem que ser feita para que ela fique incapacitada de trabalhar e assine essa droga de procuração de uma vez por todas, para depois darmos o golpe do baú. - Explicou caminhando pelo quarto da mulher que tanto invejava por conta da  riqueza. 
- E se ela sofresse algum acidente? - Jack indagou coçando a cabeça. 
- Seria ótimo, mas e se ela morre nessa tentativa? Não quero ir pra cadeia de jeito nenhum, nem me tornar uma assassina. - Argumentou - Sou muito linda para passar o resto da vida atrás das grades. Anastasia é chatinha, bobinha, sensível, traumatizada que só... Adoraria que sei lá, enlouquecesse de uma vez por todas. Ai sim você seria o responsável legal por toda a fortuna dela, já que aquela lá não tem mais parentes vivos, a não ser o Raymond mas esse aí está condenado há trinta anos e tem vinte para cumprir ainda. Sem contar que não teria direito algum a herança por ter assassinado a esposa daquela forma tão horrível e se não me engano, a dona do dinheiro era a defunta que pelas nossas pesquisas, também não tem parente algum vivo.  
- Isso! - Jack estalou os dedos sorrindo para a amante e tendo uma ideia sinistra - Ana nunca bateu muito bem da cabeça desde que o pai fez aquilo com a mãe dela. Sempre chora pelos cantos, tem pesadelos, acorda suada no meio da noite, é um saco. Além do mais, quando fez terapia anos atrás o terapeuta disse que ela tinha que tomar muito cuidado com sua mentalidade porque sofre de transtorno bipolar, o que a faz alternar momentos de pura euforia com tristeza. Sem contar que tem depressão, tentou se matar duas vezes depois daquela tragédia já. Em uma delas, já estava casado comigo. Não seria tão difícil assim deixa-la completamente louca de uma vez por todas. - Deduziu começando a encaixar as ideias dentro de sua cabeça maléfica. 
- Está falando sério? Teria mesmo coragem de fazer isso com aquela mosca morta? - A governanta questionou com os olhos arregalados. 
- Claro que teria. Sei que é um plano audacioso mas se der certo não nos tornaríamos assassinos e ainda por cima, teríamos absoluramente tudo o que o dinheiro pode comprar, gatinha. - Os olhos de Jack brilharam ao dizer aquelas palavras. 
Era o brilho da ambição.
- Não é esse seu sonho? - Ela assentiu com a cabeça. - Pronto, está decidido Leila. Daqui alguns dias graças a um empurrãozinho nosso, minha querida esposa irá parar em um terrível... Sanatório. 

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