Passaram dois dias desde que eu matei aqueles três tributos. Dois dias escondida nas árvores.
Senti a minha boca seca e decidi ir até ao lago. Não havia nenhum tributo nas redondezas. Debrucei-me sobre a água e enchi a minha garrafa, mas parei ao ouvir algo. Era como um sussurro. Olhei á minha volta, mas não estava lá ninguém, então decidi ignorar e continuei a encher a garrafa.
-Cassie...
Ok. Agora sim ouvi alguma coisa. Mas não está ninguém aqui...
Levanto-me devagar e preparo a minha espada.
-Quem está aí?-pergunto em tom desafiante.
-A culpa é tua...
Era como se o vento estivesse a falar comigo.
-Ele morreu... e a culpa é tua... O Steven...
-Quem és tu?! Cála-te!!
Eu olhava á minha volta confusa mas a única coisa que conseguia ver era a paisagem da arena. Não havia nenhum tributo ali.
-Ele ajudou-te e morreu por isso...
Os antes sussurros eram agora falas altas que entravam na minha cabeça.
-Para!!
-E tu deixaste-o morrer...
-PARA!!!
Agarrei a cabeça com as mãos.
-E agora o Newt vai pelo mesmo caminho...
-PARA!!!!
Corri pela floresta adentro, tentando fazer aquela voz desaparecer. Mas ela continuava ali.
-Os profissionais vão matá-lo e tu não vais ter tempo de lhe dizeres o que sentes...
-AAAAAHHHH!!!!
O Capitólio deve estar a colocar-me estas coisas na cabeça, para dar espetáculo. Acho que me lembro de ver na televisão, nos 60° Jogos da Fome, um tributo que enloqueceu por causa destas vozes.
Eu queria que ela desaparecesse mas, por um lado, vez-me perceber que tenho de encontrar o Newt. Deve ter sido para isso que o Capitólio mas fez ouvir. Eles querem que eu vá ter com o Newt, eles sabem que ele gosta de mim. Eles querem ver os amantes condenados. Eu só quero que ele permaneça vivo. Ele fez-me sentir feliz de maneira que nunca ninguém o fez. Ele é lindo, simpático, leal...
-Tenho de encontrar o Newt. Acho que o amo.-sussurro para mim própria.
Nesse preciso momento, a voz desapareceu.
---5 horas depois---
Estive este tempo todo á procura de algo que me leve até ao Newt, mas nada.
Estava a caminhar ao pé de um riacho, quando ouço alguns passos. Sem tempo de me esconder, pego na minha faca e aponto na direção do som. O rapaz do Distrito 10 aparece no meio dos arbustos.
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-És só um rapazinho...-sussurro eu surpreendida.
Ele olha para trás nervoso e hesitante, sem saber se á de fugir. Eu baixo a faca e dou um passo na sua direção. Ele fica com medo e vira-se para trás para fugir.
-Ei, ei, ei... Calma, não te vou fazer mal.
-Mas eu vi-te a matar outros tributos.
-Eu sei, mas isso é diferente. Tu queres matar-me?
-Não...
-Então para que é que eu te mataria?
-Para estares mais perto de ganhar.
-Eu não sou assim.
Ouço a barriga dele a fazer ruído.
-Tens fome?
-Sim...- diz ele ainda com um pouco de receio.
-Confias em mim?
Ele hesita um bocado, mas depois de pensar um bocado, ele acena com a cabeça e a sua postura passa a ser descontraída. Eu tiro um bocado de carne de veado que tinha guardada na minha mochila e mostrei-lhe.
---30 minutos depois---
Estivemos a jantar a carne e enquanto comiamos, conversámos e íamos ficando mais amigos. Ele era só um rapazinho de 11 anos, não devia estar a participar nestes jogos.
-E então, tu e o Newt?- pergunta.
Era como se nem estivessemos na Arena e só estivessemos a jantar entre amigos e a mexericar.
-O quê?! Não! Não há nada entre nós os dois.
Mentira.
-Sim, sim...
-Então, Chuck, tens irmãos?
-Tenho uma irmã mais velha. Fazes-me lembrar a ela, com o cabelo loiro e os olhos azuis. Quando me escolheram na colheita, ela tentou voluntariar-se por mim, mas ela só se poderia voluntariar por uma rapariga. Tenho saudades dela.
-Aposto que está em casa a ver-te orgulhosa na televisão.
-Achas que sim?
-Eu sei que sim.
-Ela ía gostar de ti.
Passou-se um momento de silêncio.
-Então, gostas dele?
-Chuck, já te disse que não gosto do Newt.
-Eu não disse de quem.
Olho para ele a sorrir com a boca aberta. Mais um bocado de silêncio.
