005 > 𝗡𝗢𝗩𝗔 𝗬𝗢𝗥𝗞.

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NATAL EM NOVA YORK.
pleasurrea

31 de dezembro de 2019.

— Já é quase ano novo, filha! Venha para o terraço conosco. — Minha mãe chamava pela terceira vez naquela noite.

— Já estou indo. — Disse sem desgrudar os olhos do celular.

— Você não tem mais doze anos, não pode se esconder na sala para não cumprimentar seus parentes. Já é adulta, devia saber disso.

— Uhum. — Concordei dando ombros.

Minha mãe suspirou.

— Sina, de novo vendo as coisas dessa viagem?

— É que não é qualquer viagem, mãe. É A viagem. Sabe como planejo isso há anos, e agora está cada vez mais perto.

— Você só vai viajar daqui um ano, filha. Pare de se preocupar tanto, aproveite o momento! Venha, seus primos querem fazer um brinde antes da meia noite. — Minha mãe me resgatou do sofá e fui arrastada até o terraço.

Depois de um longo tempo — e de um longo brinde — minha família finalmente se reuniu em um abraço de lado para apreciar a contagem regressiva e os fogos que estavam por vir.

— Dez! Nove! Oito! Sete! Seis! — A contagem regressiva para o novo ano de 2020 começava e as memórias de 2019 passavam pela minha cabeça num piscar de olhos.

— Cinco! Quatro! Três! Dois! Um! Feliz ano novo! — Minha família anunciou alegremente, assim como eu. Abracei meus primos, pais, tios, avós, todos ali presentes.

— Novo ano, novas aventuras, minha querida. — Minha mãe beijou minha testa e segurou fortemente minha mão.

— Feliz ano novo, mamãe. — Falei com um sorriso no rosto e a abracei novamente.

[...]

28 de Março de 2020.

— Pandemia? Isso não acontece só nos filmes?

Perguntou Any confusa e quando devorava um balde de pipoca em seu sofá.

— Aparentemente não mais. Declararam duas semanas de isolamento social até controlarem tudo.

Any respondeu algo inaudível pelo telefone e logo em seguida sua chamada mudou para "reconectando".

Quando a internet da garota voltou a funcionar, suspirei de alívio.

— Voltei, tá me ouvindo agora? — Any balançou os braços para o alto.

— Não tá usando a internet da padaria da rua, está, Any? — Abri um sorriso travesso ao ver que ela suspirou antes de continuar.

— A internet do condomínio está cortada desde que demitiram o senhor Tony, eletricista daqui. Então minha única solução é usar a do estabelecimento vizinho, não tenho culpa!

Caí na risada com a fala de Any, fazendo a garota rir também.

— Pretende usar essa internet horrível até o fim do isolamento social? — Perguntei.

— Serão só duas semanas, ninguém vai perceber.

— Não conte com isso, é melhor arranjar um bom plano de dados móveis. Tenho que ir, Any, vou terminar uma redação da faculdade, nos falamos em breve.

— Até depois, garota. — Any respondeu e encerrou a chamada.

Larguei o celular no sofá e me coloquei a pensar novamente na viagem tão esperada à Nova Iorque, a viagem que planejei por anos e anos, agora pode ser arruinada por conta do novo vírus presente entre nós.

𝐓𝐄𝐍 𝐂𝐇𝐑𝐈𝐒𝐓𝐌𝐀𝐒 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒 • 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓.Onde histórias criam vida. Descubra agora