007 > 𝗟𝗔𝗣𝗢𝗡𝗜𝗔.

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NATAL EM LAPÔNIA
spacesconnelly

OS SINOS TOCAM, a música começa, a alegria contagia e a neve torna tudo mais mágico.

Ah, o Natal!

A hora dos presentes é a mais especial para as crianças, mas sabemos que nada supera uma família reunida.

Sempre gostei da Páscoa, do dia de Ação de Graças, do Halloween e as demais datas festivas, mas o Natal ganha meu coração sempre que chega. Afinal, quem não ama estar com a família, comer até a barriga começar a doer, abrir presentes e visitar o Papai Noel no final da noite?

Todos os anos foram mágicos.

Mas este não será tão mágico quanto eu esperava.

Aos nove anos, minha família se mudou da Finlândia para a Alemanha e as datas comemorativas não foram nada especiais. Eu gostava de morar lá. As pessoas eram simpáticas e a visita aos zoológicos eram incríveis, entretanto é uma missão impossível não sentir falta da minha verdadeira casa em Rovaniemi, a capital da Lapônia.

A Alemanha tem seus pontos positivos. O céu se torna escuro mais tarde do que estava acostumada e o pôr do sol é uma das melhores visões que já tive ─ depois da Aurora Boreal, é claro. Sem contar que as temperaturas não são tão baixas quanto aqui, então tive de me acostumar quando voltei para cá sem minha família, alguns anos depois.

Porém, após ouvir tantos comentários diferentes sobre como finlandeses são frios, as falas recheadas de estereótipos começaram a me irritar. Até evitava falar do meu próprio país para evitar comentários como "Caraca! Vocês são vikings de verdade!".

No começo era engraçado, depois começou a ficar chato. De fato há algumas semelhanças, porém nós não somos vikings. Não somos nórdicos ou escandinavos.

No fim acabei retornando para a Finlândia e visitando meus pais algumas vezes por ano. Desde então minha família vem para o Natal porque me recuso a abandonar as atrações daqui.

O problema é que as coisas começaram a se complicar mais do que eu imaginei ser possível. Devido ao frio rigoroso e o estado de saúde comprometido de papai, uma viagem no Natal não seria nada viável.

O dia não será o mesmo sem papai e mamãe, mas não quer dizer que vou ficar encolhida no sofá de casa esperando o próximo dia chegar.

Ainda estou disposta a aproveitar meu dia.

É Natal. Nada vai me abater ou estragar isso.

Por decidir isto é que estou soterrada por três grossos casacos e mais meias, cachecóis e luvas do que provavelmente consigo contar.

Em um dia como este as estações estão lotadas, os metrôs com poucos assentos disponíveis. Ao ver as crianças cantarem enquanto andam de um lado para o outro com seus pais, me dá uma certa nostalgia.

Me lembro quando era eu quem corria pela estação de trem para chegar quanto antes à casa do velhinho Noel. Ou quando estava ansiosa para entregar minha cartinha. Essa lembrança me faz sorrir. Não vou mentir, sempre fui o tipo de criança sonhadora e fantasiosa, mas nenhum dos meus pedidos foram sobre brinquedos ou animais de estimação. É óbvio que eu adorava receber os presentes, mas também queria que outras crianças tivessem a mesma oportunidade.

Até hoje guardo algumas cartas. Não há grandes palavras em nenhuma deles, mas o máximo que uma criança pode escrever. Em sua maioria era rodeada de pequenas frases como "Que meus amigos também possam receber presentes este ano." Ou "Não deixe que as pessoas sintam frio ou fome, Papai Noel."

𝐓𝐄𝐍 𝐂𝐇𝐑𝐈𝐒𝐓𝐌𝐀𝐒 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒 • 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓.Onde histórias criam vida. Descubra agora