NATAL EM VENEZA.
amysantiagouzSina Deinert
AINDA ME LEMBRO da última vez em que senti o espírito natalino dentro de mim. Já fazem quase dez anos, eu tinha apenas quatorze anos, e não era uma completa órfã na época.
O natal costumava ser o meu feriado preferido, assim como era o da minha família. Era ainda mais importante que o dia de ação de graças. Nós tínhamos a tradição de decorar a casa inteira com objetos de natal logo no primeiro dia de dezembro, e todos os dias do mês comíamos um café especial natalino.
Era tudo perfeito. Eu adorava. Aguardava o ano todo por aqueles momentos especiais, que eu sabia que ficariam presos em minha memória até o natal seguinte, quando a tradição se repetiria, porque afinal, era uma tradição.
Depois do último natal que eu de fato comemorei, em 2011, eu não via mais propósito algum em continuar com aquilo. No ano seguinte, descobriram um tumor avançado no cérebro de minha mãe. Ela tinha apenas alguns meses de vida restantes, e tudo o que ela conseguia pensar era no natal daquele ano.
Mamãe sempre teve o desejo de passar pelo menos um natal em Veneza, na Itália. Ela afirmava que não se importava de quebrar a tradição por um ano, se aquilo realizasse seu sonho. Além de tudo, ela dizia que aquilo poderia surtir novas tradições.
Após seu falecimento, meu pai não conseguiu aguentar a dor de perdê-la, e me abandonou dois meses depois que ela morreu. Simples assim, ele me deixou na casa da irmã de minha mãe, minha única e preferida tia, e aquela manhã foi a última vez que o vi em nove anos.
Não fazia mais sentido comemorar o natal depois daquilo. Embora minha tia tentasse continuar com a tradição, anos após ano, nunca seria a mesma coisa sem meus pais ali, comigo. Com o tempo, ela apenas parou de tentar.
Foram anos difíceis pra mim, eu achava que teria apenas a dor da morte de minha mãe para lidar, e dois meses depois tive que passar por outra dor de ser abandonada pelo meu pai, aparentemente sem motivo algum. E, sinceramente, não sei qual das dores foi a mais dolorosa.
Apesar de não me importar com o natal, nunca me esqueci do sonho de minha mãe em conhecer Veneza nessa época do ano. Trabalhei por quase seis anos até juntar dinheiro para essa viagem.
Fui de garçonete, para assistente, vendedora de telemarketing, professora e assistente de gente podre de rica, o que atualmente era meu trabalho. Estudei administração na Universidade da Flórida, e logo consegui um emprego como assistente de uma das reitoras da faculdade.
Não era meu emprego dos sonhos, muito menos o que eu gostaria de estar fazendo no momento, mas pagava bem e não era um trabalho pesado. Eu atendia telefone o dia todo, marcava horário e passava recados. Somente isso por 600 dólares a semana.
Como eu disse, era um dinheiro ótimo para um emprego meia boca.
E finalmente, depois de todos esses anos passando por perrengues em todos os péssimos trabalhos que eu arranjei, consegui o dinheiro suficiente para visitar Veneza na época do natal. Eu por fim tinha realizado o sonho de minha mãe.
Faz um dia que cheguei em Veneza, depois de horas longas em um vôo com uma criança birrenta, que não parava de gritar com a mãe por um único minuto. Fiz algumas conexões durante a viagem, mas nada que valesse a pena ser comentado.
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𝐓𝐄𝐍 𝐂𝐇𝐑𝐈𝐒𝐓𝐌𝐀𝐒 𝐒𝐓𝐎𝐑𝐈𝐄𝐒 • 𝐍𝐎𝐀𝐑𝐓.
Fanfic(CONCLUÍDA) especial de natal com foco em noart. dez histórias em dez lugares do mundo feitas por dez escritoras diferentes. @neptuneurrea + @pleasurrea + @bxautifzl + @amysantiagouz + @urreaxherron + @chostydia + @sunletters + @spacesconnelly + @st...