Prólogo

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Wong Yukhei

Estava cansado. Só queria minha cama. Acabei de sair de uma reunião com alguns outros empresários e donos de lotes grandiosos. É, basicamente vivendo de reunião já que estou planejando expandir meus negócios e criando mais parcerias. 

Ultimamente venho tendo algumas inimizades já que estou alcançando conquistas maiores com minha própria franquia e consequentemente tem gente querendo me derrubar... Enfim, este é o motivo pelo qual ando rodeado por seguranças.

Sempre fui um homem muito sério, que não é alguém muito flexível quando ocorre algum erro.

Finalmente cheguei em minha residência. Eu tenho duas; uma fica na cidade, para que seja mais fácil de lidar com minhas reuniões e etc; enquanto a outra é uma casa de campo, consequentemente mais afastanada de toda a urbanização, onde por conta das circunstâncias, terei que ficar na minha mansão aqui mesmo.

O carro foi aberto para mim. Assim que coloquei o pé para fora não tive tempo nem para ser cercado novamente pelos meus seguranças, e um garoto estranho saiu de um dos arbustos que ficam nas laterais do portão. Deu um pulo e pegou o maldito dardo que iria atingir meu pescoço. Chegou bem pertinho. Ele vestia roupas rasgadas. Estava sujo. Era consideravelmente baixo, com cabelos tão pretos como a escuridão, bagunçados, e olhos acinzentados, sem vida alguma. 

Usava uma blusa branca, de tecido fino. Não calçava nada então tinha a visão completa dos seus pés pálidos, também sujos. A calça marrom por causa da poeira, ou terra. Não tinha expressão alguma, só segurava o dardo. Seus lábios estavam rachados, sem muita cor. Ainda é Janeiro e o inverno estava com tudo essa semana. 

— Qual seu... — fui interrompido. Ele não me deixou completar a frase e saiu. Pulando os muros que tinham ao redor da minha mansão. Alguns dos meus homens até tentaram pegar ele, mas levaram chutes certeiros nos rostos enquanto ele pulava nos ombros de cada um até finalmente sair.

O que diabos tinha acontecido? Quem era aquele menino? Olhei para meus pés e dardo estava lá.

Franzi o cenho, enraivecido. 

— Revistem todos os lugares daqui. Como podem ser tão inúteis? Estão esperando o quê? Convite? — proferi, irritado, seguindo rapidamente para dentro, cercado novamente por mais seguranças. 

Narradora


Li YongQin fugiu de toda aquela muralha tecnológica que vivia na Tailândia, sendo feito de cobaia e vivendo como um rato de laboratório. A pessoa por trás disso tudo tinha como ambição a evolução humana; seres com mais velocidade, poderes, habilidades especiais que não seja só cozinhar ou cantar.

Qin não tinha mais esse nome, mas sim, Ten. O mesmo foi sequestrado quando tinha oito anos e teve toda sua vida apagada quando as sessões de choque se tornaram frequentes. Esqueceu de muita coisa importante; até seus sentimentos.

Quer dizer... Hong Kong ainda é um lugar muito familiar para si, mesmo que não saiba o nome.

Ele não faz a mínima ideia de que foi contrabandeado pelo homem de sorriso malandro que encontrou na estrada que seguiu após sua fuga. Ten foi informado de que iria seguir para fora dali e ser feliz. O homem tinha uma lábia incrível, dizendo que bastava o mais moreno entrar naquela carroça que ele o levaria para um lugar cheio de doces e outra coisa bem importante: 

— Sushi? — perguntou, neutro.

O dono de grande lábia respondeu o que entendeu.

— Ah, sim, lá vai ter muito sushi! Entre, entre! — disse, sorridente e cheio de encantos, segurando a cortina velha de cor vinho para que o menor entrasse. 

E Ten o fez. Encontrando mais outros garotos ali também. E garotas.

Infelizmente, ele não tinha conhecimento de que estava sendo encaminhado para os fundos de um bar em Hong Kong, onde iria ocorrer a venda de pessoas.

Mas Ten sofreu mutações ao decorrer do tempo; é super flexível, rápido e habilidoso. Reflexos perfeitos e uma imensa agilidade. Basicamente uma máquina humana. Fez um grande show batendo em todos aqueles brutamontes que tentavam o tocar de forma indevida, ou sequer puxar seu pulso.

Saiu novamente correndo e encontrou aquele moço alto. Viu que o mesmo estava sendo vigiado porquê acompanhava toda a rotina dele naquele lugar grande. Ficava ali porque a noite o cozinheiro de sorriso fácil e gentil o entregava um pouco de comida e bom, ele não tinha nem um teto, mas ao menos o que comer lhe era disponibilizado. Independente de ser restos ou não. Para quem não tinha nada, aquilo estava ótimo.

Saiu dali porque ficou com receo daqueles homens fortes e grandes tentarem algo consigo, igual os outros. Voltou a noite, mas dessa vez ele foi para a parte de dentro. Ficou escondido num dos cantos das paredes. Já estava de noite, então ele ficou escondido nas sombras, quietinho.

O problema começou quando a temperatura começou a diminuir e a ventania aumentou. Ele não se importou e invadiu a casa do homem que iria sendo atingido se não fosse por sua causa. Entrou sorrateiramente pela porta que achou nos fundos da grande estrutura. 

— Não, Xiaojun. Estou cansado demais, não quero ninguém me perturbando, entendeu? Estou cheio de papelada para ler e preencher. Tô aqui na porcaria dessa cadeira desde tarde, não tive tempo ao menos para jantar e já está perto das dez da noite. Então, por favor, tente compreender. — Yukhei proferiu, num tom chateado e cansado.

Falava com seu ficante, que insistia em chama-lo para um jantar ou para que deixasse ir em sua moradia e preparar algo para si. Ten escutava tudo. Também não sabia, mas estava na cozinha. Sim, Wong estava mentindo em alguns pontos. Ele iria jantar, mas sozinho. Kun, seu cozinheiro, já tinha saído. Agora ele mexia nos recipientes da geladeira que estavam com sua janta. 

Ten se escondeu cuidadosamente debaixo da mesa retangular amadeirada no tom escuro, com várias cadeiras preenchendo as laterais. O visual era rústico. 

— Puta merda, a gente nem namora e você vem com essa história de que eu estou te traindo? Nos poupe. — falava, revirando os olhos. Só queria comer em paz. Não mentiu quando disse que estava cansado. Ele só não queria a companhia de Xiaojun. Sim, passou muito tempo em seu escritório, mas já tinha saído dele já quinze minutos. Não iria fazer mais nada pois queria preservar sua sanidade, só que não queria que o seu ficante viesse, então, para tal, ele ainda estava sim vendo aquelas pilhas de papéis.

Desligou o celular, desistindo de se explicar e deixando o Jun falando só e foi comer depois de pôr sua janta na mesa. Comia enquanto via os gráficos de vendas no tablet ao seu lado.

Sua atenção foi roubada quando ouviu a geladeira batendo com força, como se tivesse sido fechada. Se levantou com pressa e saiu da sala de jantar.

Seus olhos se arregalaram ao encontrar o homem de mais cedo, enfiando vários rolinhos primavera na boca. As bochechas estavam bem salientes, seus olhos estavam esbugalhados, a destra estava suja de molho e a canhota tinha quatro rolinhos. O balcão batia na altura do seu peitoral. Tinha um recipiente quadrado, aberto, com a tampa do lado.

— O Kun é mesmo um ótimo cozinheiro, mas qual seu nome? — perguntou. Queria saber quem era o garoto que o salvou. Parecia muito novo. Não devia ter mais do quê os 25 anos que carregava nas costas.

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Espero que gostem porque essa é a minha primeira história de ficção científica e mistério que escrevo.
Perdoem os erros, por favor. 🤧🌱💚

Janelas da Alma - LuTen.Onde histórias criam vida. Descubra agora