Capítulo Um

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Narradora

Ten não sabia o que falar, pior ainda sabia como entendia o que o rapaz alto dizia. Via os olhos da cor verde escura, a cabeleira loira, ombros largos, mãos extremamente grandes, os olhos e lábios também. Tinha um corpo bem definido e estruturado. Além de que a comida da casa dele era muito gostosa também. 

Quem seria Kun? — era o que se questionava enquanto mastigava os rolinhos dentro da boca.

Lucas dava passos para frente, mas Qin recuava, levando o recipiente consigo, obviamente.

— Dá pra você parar, por favor? Não vou te machucar! — O loiro, um pouco impaciente.

Já tínham contornado o balcão inteiro naquele joguinho. Yukhei só ouvia o som que saia dos pés que o menor fazia ao andar de forma apressada. Tinha até um pouco de molho pelo chão, por causa do mesmo que segurava a comida de qualquer jeito na mão.

Ten franziu o cenho enquanto terminava de comer o último rolinho. Estava ficando com raiva daquela situação. Atacou Lucas com o recipiente vazio, acertando bem na testa.

O maior soltou um gemido dolorido, colocando a mão na parte direita do local onde foi atingido. Foi atingido justamente por uma das pontas.

Respirando fundo, retirando sua mão dali depois de massagear um pouco e pegou o recipiente, o colocando na pia, juntamente da tampa. Pegou uns guardanapos para começar a limpar o chão. Não gostava de deixar nada sujo.

Ten prestava atenção em todos os movimentos de Lucas, com o olhinhos atentos. Foi se aproximando sorrateiramente, encostando seu dedinho sujo na bochecha do mesmo, que não ficou nada contente, mas resolveu não fazer nada. Se ele fizesse algum movimento, o outro recuaría.

Algo chamou sua atenção na mãozinha suja com o condimento vermelho, mais especificamente o dedo indicador esquerdo, que cutucava sua bochecha. Pelo que podia ver da sua visão de escanteio, tinha o número dez na lateral esquerda.

Que porcaria era aquilo? Ele... usa essas roupas esfarrapadas, esbanja mistério e carrega um número no dedo? 

Num movimento rápido, Lucas soltou a louça e segurou rapidamente o dedo do menor com uma de suas mãos, pouco se importando com a sujeira. Ten tinha baixado minimamente sua guarda, então foi mais fácil.

— Me deixa te retribuir! — Lucas, sincero, mas não usou do seu tom furioso ou elevado.

Qin ficou calado, encarando de forma profunda aqueles grandes olhos verdes. E Lucas, encarando da mesma maneira aqueles olhos felinos e acinzentados.

Por muito tempo Yukhei ouviu que os olhos são as janelas da alma e isso o fez ficar fascinado por cada olhar que via. Lembra de um especificamente que sempre o deixava hipnotizado. Castanho, como a terra, brilhante, mas ao mesmo tempo escuro. Era como se visse uma galáxia de sentimentos complexos através da íris daquele menino. Não lembra muito dele, mas sabe que os olhos eram incrivelmente lindos e expressivos. Se fosse prestar atenção em outra coisa que era de extrema beleza seria também o sorriso largo marcante. Essas eram as recordações mais memoráveis que possuía.

E, ali, olhando aqueles olhos tão desprovidos de vida mas ao mesmo tempo tão encantadores, se perguntava o motivo destes serem tão inexpressivos e chamativos.

Porque se os olhos são as janelas da nossa alma, o que tinha acontecido com a dele para apresentar tanto vazio? 

Ten pensava apenas em uma coisa: e se aquele homem pudesse o ajudar? Se não o fizesse, não teria trabalho para sair daquele lugar enorme.

Talvez, o maior problema seria a comida gostosa que não teria mais.

— Ten. — disse simples, num tom neutro.

Janelas da Alma - LuTen.Onde histórias criam vida. Descubra agora