Capítulo Sete

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▪︎𝓝𝓪𝓻𝓻𝓪𝓭𝓸𝓻𝓪 ▪︎

Ten estava espantando, seu coração estava batendo forte, conseguia sentir a sua respiração e a de Lucas se cruzando. 

— O que tem nos meus olhos? — perguntou, assustado, as lágrimas cessaram, mas secaram e marcaram suas bochechas. 

Wong não conseguia acreditar no que estava vendo. Como aquilo era possível? 

Os olhos do tailandês tinham vestígios amarronzados na íris, quase imperceptíveis.

— Estão ganhando cor. Quase nada, mas tem um pouquinho em sua íris. — tentou explicar, ainda sussurros pela proximidade.

Lucas não sabia nem o que pensar. O que diabos estava acontecendo? Ten teve memórias do seu passado? Aquelas memórias iriam trazer de volta sua humanidade? 

Os olhos são, realmente, as janelas da nossa alma?

Ten se desvencilhou dos braços fortes e enormes que o rodeava com certa pressa, correndo para o espelho mais próximo, um pequeno que tinha sobre a mesinha ao seu lado. Assim que viu seu reflexo, aproximou-se o máximo que pôde dele. Estavam ali. Pareciam escorrer pelos lados das suas córneas. Suas mãos abaixaram o objeto lentamente, olhando para Yukhei.

— Eu preciso me reencontrar. Preciso... — seu choro retornou, apertando seu coração, lembrando do menino das suas memórias. Precisava lembrar dele e do quê tinha naquela lacuna enorme em suas memórias. 

● FLASHBACK ● 

A memória que recobrou era de estar no quarto com decorações de desenhos infantis de super-heróis. Uma mulher muito linda adentrava o quarto, com seus cabelos molhados e um sorriso muito doce, era quase que uma cópia do menino que estava em sua frente.

— Filho, já convidou seu melhor amigo para o festival das lanternas? — escorou-se na porta.

— Ah, quase ia esquecendo. Obrigado, mãe. — O garoto falou, sorrindo um pouco constrangido.

A mulher se retirou. O menino o olhou. 

— A gente se encontra às sete da noite, na Praça da Paz, pra gente ver as lanternas juntos. Sempre quis ver com algum amigo. Fala logo com teus pais, tá? Você já tinha dito que a gente podia ir então tô contando com isso. — estava empolgado, mas finalizou a fala com seu tom de aviso.

Lembra de rir com toda aquela cena, contudo, concordava freneticamente com a cabeça.

— Vamos sim. Eu vou estar lá. A mamãe falou que queria muito ver tudo e já que a gente se mudou recentemente, ela quer fazer amizade logo. Eu tenho sorte porque faço amizade rápido, mas minha mãe é meio medrosa. — gargalhou.

Lembra também do perfeito sentimento de ansiedade.

Outra memória foi do seu sequestro. Se perdeu na entrada quando começaram a caminhar por entre aquela multidão. Acabou se desesperando quando seu pai soltou sua mão para pegar o celular para contatar os pais do seu melhor amigo.

Sua aflição e medo foi tão grande que olhou rápido para seus arredores e não viu seus pais. Sua mãe tinha pedido para que não saísse de perto, mas infelizmente acabou não ouvindo. Era complicado ser estrangeiro. Seus pais não sabiam ler muito bem as placas, ou ter alguma informação com pessoas.

○ FLASHBACK ○

Qin só conseguia chorar. A dor do sentimento de perda, frustração, cansaço, medo, desespero, falta, incapacidade, tudo o atingiu de uma vez. Parecia que tinha alguém dilacerando seu coração, partindo em pequenas fatias. A aflição era tão grande que suas mãos cravariam sua pele, arranhando, e se mahucando, caso não estivesse com roupa.

Janelas da Alma - LuTen.Onde histórias criam vida. Descubra agora