Capítulo Três

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▪︎ 𝓝𝓪𝓻𝓻𝓪𝓭𝓸𝓻𝓪  ▪︎

Enquanto a manhã se passava, Kun ensinava coisas básicas ao tailandês como lavar a louça, pôr a mesa, preparar um suco, coisas simples e práticas. Ten demonstrava aprender muito rápido e também tinha um ótimo reflexo quando deixava algum talher ou prato escorregar das suas mãos. Comeram o bolo de laranja como café da manhã e tomaram o suco de goiaba que o moreno preparou.

— Por que ele saiu? — Qin, questionando o acastanhado que procurava por livros em brancos e lápis.

Estavam agora na biblioteca. Tinham alguns empregados tirando poeira, organizando livros, passando pano e entre outros trabalhos domésticos. 

— Ele teve que trabalhar. — respondeu. Foi aí em que ele explicou que precisava trabalhar para comprar comida, pagar contas, todos esses deveres de uma pessoa adulta. 

Ten demonstrava sua compreensão, soltando murmúrios simples e ajudando o maior a carregar a pilha de livros. Pararam em uma das mesas redondas de madeira rústica, espalhando todo o material que pegaram sobre a mesma. Assumiram assentos próximos e Kun começou a ensinar os números, alfabeto e outras coisas importantes da área histórica. Yong é muito curioso, então não perdia nenhum detalhe. 

Já o Qian, queria saber até onde ia o conhecimento do moreno. Descobriu que o mesmo gostava de músicas com um tom agitado, mesmo que tenha levado um susto ao escutar pela primeira vez e que Ten tinha sim conhecimento gramatical, além de saber fazer muito bem cálculos matemáticos. A única parte que demonstrava uma enorme deficiência era sua parte sentimental.

Será que aquele garoto de cabelos morenos era alguma criança desaparecida? Será que a humanidade tinha chegado ao ponto de tratar crianças como ratos? 

A hora do almoço chegou e Ten não tinha nenhuma roupa para vestir após tomar seu banho. Óbvio que Kun saiu catando as roupas inutilizados do amigo e deu para o novo hóspede usar. Riu ao ver que as roupas ficavam largas demais.

— Bom... agora vamos preparar o almoç... — foi terrompido novamente pelo Qin.

— Ele vai demorar muito? Por que ele ainda não voltou? — estava determinado à entender o motivo de ter esquecido, contudo, agora tinha uma memória em sua mente que o fazia sentir uma dor muito forte no peito.

Conseguia identificar a grama, um céu estrelado e aquelas toalhas de mesa xadrez usadas em piqueniques. Tinha alguém em sua frente, um pouco borrado, só que com um sorriso tão lindo...

Mas qual o motivo daquela dor ruim no peito? Tão pesada, cortante... O que estava procurando? Por acaso, era aquela pessoa?

Kun sorriu pequeno.

— Daqui a pouco. Vamos almoçar para o tempo passar rapidinho. — sorrindo gentil, puxando o tailandês pelas mangas pretas que sobraram em seus braços.

Ten não gostava de esperar. De fato, era uma pessoa muito impaciente. Qian acabou vendo as cicatrizes no corpo do moreno. Seu coração estava em estilhaços, queria proteger aquele garoto de qualquer jeito.

———

Lucas passou a manhã e tarde inteira resolvendo papelada, discutindo com Xiaojun por mensagens secas e finalizando com uma reunião de três horas para a conclusão do seu novo projeto. Sua cabeça estava doendo tanto, entretanto, por incrível que pareça, Ten foi o que menos prejudicou sua cabeça, e olha que não parava de pensar nele um segundo sequer. Lembra dos machucados no corpo do moreno e aquilo o deixava com o pior dos sentimentos no coração.

Aquele garoto parecia tão determinado em fugir, procurar algo... imagina se ligando para polícia acaba jogando no lixo todo aquele esforço? Sem contar que o moreno o protegeu de um dardo, provavelmente envenenado pois seus inimigos nunca se cansam de tentar o destruir.

Decidiu que iria tentar descobrir quem era ele sem fazer muito alarde. Usaria dos seus contatos e poder para revirar o mundo todinho atrás da origem daquele garoto com olhos tão intrigantes.

Estava perto das sete horas quando chegou em casa. Passou pela cozinha e não encontrou ninguém, nem no seu quarto, na sala, biblioteca, quartos de hóspedes, nada. O último que sobrou foi o mini-cinema que tinha nos fundos da sua moradia. A porta ficava atrás das poltronas confortáveis e o telão que passava algum desenho animado que não deu importância. A única coisa que focou foi na risadinha gostosa que Ten soltava. 

Podia ver, daquela altura, que o mesmo usava uma roupa que tinha quase que o dobro do seu tamanho, a silhueta dos seus cabelos fofinhos bem penteados e seus dedos que conseguiram passar pelas mangas do moletom, levando a pipoca caramelizada até a boca.

Só então, notou a presença de Kun. 

Aqueles dois conversaram bastante antes do cinema já que Kun disse para que Ten pedisse desculpas ao Wong por ter batido na mão dele. Foi ele que notou a presença de Lucas na sala de filme, olhando para trás. Sorriram pequeno, um para o outro. Qin olhou para a direção que Kim também olhava, quase derrubando a pipoca com tanta pressa que levantou-se.

— Kun disse que quando nos sentimentos mal por ter feito algo com outra pessoa, a gente pede desculpa. Então, desculpa ter batido na sua mão. Eu tava mal. Darei meu melhor para que não se repita. — tentava expressar um pouco do que aprendeu naquela tarde super produtiva.

Lucas sorriu.

— Está tudo bem. Eu entendo. Pode ir para a sala um pouquinho? Vou conversar com Kun antes dele sair. — seu tom era o mais doce que conseguia. 

Ten olhou para Kun, perguntando se estava tudo bem. Recebeu um assentir afirmativo e se retirou. 

Depois de uns minutos ponderando, Lucas começou.

— Como foi com ele hoje? — perguntou depois de suspirar pesado, se debruçando sobre as costas de uma das poltronas. Estava exausto. 

Kun caminhou até o loiro, cruzando os braços enquanto dava a resposta. 

— Foi produtivo. Ele não tem problemas com gramática, nem matemática... nada além da escola. É muito curioso e impaciente. Aprende facilmente tudo que é ensinado e gosta de músicas com batidas fortes. Aparentemente odeia frutas, a não ser que passe por algum processo artificial, ou algo do tipo. Vi também marcas no corpo dele e aquilo partiu meu coração, além de demonstrar tanta fragilidade emocional... — seu tom ficava mais triste ao decorrer das palavras. Não deixava de olhar para o amigo.

Lucas gostou de saber sobre o pequeno. Admitia mentalmente que o mesmo ficava atraente em qualquer roupa. Estava pensativo agora.

— Por favor, me diga que você não vai o abandonar. — Kun, tristonho.

— Não. Não vou. Confesso que no começo essa era minha ideia, mas, agora quero ficar com ele. Ele me faz ficar intrigado e quero saber o que houve com ele. Talvez tenha algo grande por trás e para destruir cou precisar de todo tipo de informação que eu puder. Terá que cuidar dele enquanto eu não estiver. — Lucas, já pedindo ajuda, arrumando sua postura e focando no mais velho.

O acastanhado suspirou aliviado, concordando freneticamente com a cabeça. 

Iriam continuar a conversa, todavia, o barulho ensurdecedor que ouviu fez com que saíssem correndo atrás do moreno.

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Oláaaaa, o que estão achando, brotinhos?

Janelas da Alma - LuTen.Onde histórias criam vida. Descubra agora