Conto II - Permita-se Amar

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Jorge Viana Monteiro

Sinto mãos pequenas em minhas pernas e abro um sorriso automático, abaixando meu olhar. Vejo o sorriso de dentinhos pequenos em minha direção e pego Isaac em meu colo, enquanto meu pequeno coça os olhinhos.

- Gugu. - Meu filho diz, esfregando o rosto em meu ombro.

- O Gugu está fazendo as compras com o papai, amor. Logo eles chegam. - Falo e deixo um beijo em seus cabelos macios. - Quer ajudar o papa a montar a árvore de Natal? Tem um montão de enfeites.

- Sim! - Isa responde mais animado e eu o coloco no chão, lhe entregando uma caixa com enfeites.

E como um bom ajudante, ele começa a fazer seu pequeno trabalho, enfeitando nossa árvore de Natal à sua maneira.

Aos três anos de idade meu pequeno está a cada dia mais esperto, saudável e parecido com seu pai Leonardo. Sério, isso é tão injusto ao meu ver. Eu passei nove meses carregando essa criança, dei de mamar, limpei as fraldas de cocô e xixi, para no final ser uma cópia do pai.

O tempo se passa rápido enquanto estamos entretidos na nossa decoração, que eu nem percebo quando meu marido e filho chegam. Só me dou conta disso quando sou abandonado por Isaac, que sai correndo, arrastando as calças do pijama no chão.

O acompanho com o olhar e sorrio ao vê-lo se agarrando ao irmão mais velho. Meu peito quase explode de amor ao ver os dois juntos, sendo tão unidos e cúmplices um do outro.

Gustavo com seus seis anos também está a cada dia mais lindo e um pouco arteiro, algo normal para sua idade. E a cada vez que eu vejo meu pequeno sorrindo, sendo feliz, eu me dou conta de que tudo valeu a pena para estarmos aqui. Eu amo meus dois pequenos por igual, mas Gustavo, por um breve tempo, foi meu único companheiro. Nós passamos coisas terríveis juntos e sinto que por isso temos uma ligação maior.

- Papai, meu pai não quis comprar chocolate e eu fui um bom garoto a semana toda. - Gustavo chama minha atenção, enquanto tem Isa agarrado a ele igual a um filhote de coala. E não me pergunte como meu filho aguenta ter o irmão assim nele.

- Você realmente foi, mas chocolate está fora dos pedidos por um tempo. - Falo ao mesmo tempo em que vejo Léo entrando com as sacolas de compra.

- Mas por que? Eu sempre comi chocolate. - Ele questiona e tem uma expressão quase que indignada em seu rosto.

- Você sim, solzinho, mas seu irmão desenvolveu alergia, lembra? Então, por enquanto, vamos manter longe até ele estar bem com os remédios. - Léo explica com calma e segue para à cozinha em seguida.

Gustavo bufa baixinho, mas sorri quando Isa pede para brincar com ele. E então o assunto chocolate fica totalmente esquecido. Volto a minha atenção para a árvore de Natal e concluindo que está tudo pronto, sigo até onde meu marido está.

Assim que entro na cozinha, vejo Leonardo concentrado em organizar todas as compras no armário e isso me faz abrir um sorriso pequeno. É tão legal ver essa rotina que nós criamos ao longo dos anos. A cumplicidade, o amor e respeito só vão aumentando conforme o tempo passa e não há nada mais gratificante do que isso.

- Ei, foi tudo certo? - Pergunto, chamando sua atenção, me referindo as compras.

- Comprei tudo que estava na lista. Sabe que não sou muito bom nisso, Sol. - Ele sorri e vem em minha direção, me puxando de encontro a ele.

- Com uma lista na mão você é. - Falo com humor e passo meus braços ao redor do seu pescoço.

Nossos olhares se fixam um no outro e sinto meu coração bater acelerado em meu peito. É incrível como ainda me sinto um bobo apaixonado perto dele. É incrível como o amor não esfriou, apenas aumentou e se fortaleceu. São quase quatro anos de casamento, mas para mim já é uma vida toda.

Encontros de Natal - Contos LGBTQ+Onde histórias criam vida. Descubra agora