O Parque

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11.
     
Dias de chuva carregam memórias.

Erros, acertos, tudo tem mais peso em um dia de chuva.

As palavras dela ainda ecoavam em minha mente,

Mas ali estávamos

Beijos em cabines do banheiro do shopping.

Um filme... Mãos atadas

Eu e ela.

Por que não poderia ser assim sempre?


Quando ela se ausentava tudo mudava.

Nas tempestades que ela fazia

Eu sempre era a desprevenida sem guarda-chuva.

Na saída da sessão suas mãos buscaram as minhas

Colocou um anel em meu dedo.

Sorriu gentilmente.

Aquele maldito olhar hipnotizante.


Na volta para casa paramos em um parque.

Eu entreguei o que eu levava na bolsa

Uma caixinha de chocolates e um chaveiro de ursinho.

Com ele um papel.

"Você agora está em um jogo."

A folha ditava regras que ela seguiu maliciosamente

O meu corpo era o tabuleiro

Onde tratei de espalhar pistas da segunda surpresa

Outro anel, ela achou.

Preso a alça do meu sutiã.

Seu riso alto era lindo.


E tomou meus lábios pelo caminho

Diante de tantas pessoas.

No começo o nervosismo me travou,

Logo após me rendi.

Uma chuva se formou no céu,

O refeitório nos livrou, por hora, dos pingos fortes.

Dois cafés e pães de queijo...

Nas mesas próximas um grupo de artistas tocava violino

E traziam em mãos cartões com poemas.

Admirei e me permiti sorrir.


- Você espera um pouco eu vou ao banheiro.

Assenti e a vi andar a passos lentos.

Peguei o celular para buscar alguma distração.

Ela chegou.


Tomamos mais um pouco do café quente

As mãos dela repousadas sobre a minha

Até que eles chegaram...

- Eu sei que gosta de música e poesia.

Eles tocavam docemente "Pela luz dos olhos teus", Tom Jobim.

Ela pegou um cartão e disse que era o meu.

Retirei um para ela e sorri para os artistas em agradecimento

Ainda constrangida entreguei o poema dela

E ela o meu.

Lemos uma para a outra.


As bochechas rosadas,

Os carinhos que nossos polegares faziam na mão uma da outra.

A chuva silenciou somente pra que pudéssemos nos ouvir.


Aproveitamos para sair do refeitório.

Paramos no alto do parque

Um beijo cheio de ternura.

Dançávamos sem musica.

A chuva voltou.

Ambas aos risos,

Molhadas pela água gelada

Porém estávamos quentes, pelo sentimento que carregávamos.

Dançamos na chuva...


Os sapatos com lama, os cabelos desgrenhados,

As línguas em busca de espaços na boca uma da outra.

Eu chorei ao sentir seu lábio murmurar "Te amo" durante o beijo.

Era amor!


A chuva sempre esconde bem as lágrimas

Carregando elas para longe

Numa correnteza de águas turvas

Em rios desconhecidos

Que sempre voltam para o mesmo mar.

ÉkleipsisOnde histórias criam vida. Descubra agora