EXTRA - I

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A jovem Bela fazia compras na feira pública do vilarejo no entorno da propriedade de Oxfordshire. Embora fosse uma duquesa, jamais se colocaria em um pedestal e se distanciaria da sua vida em meio às pessoas comuns. Suas aspirações no seu casamento com o duque de Newcastle nada tinha a ver com fazer parte da nobreza, mas amar aquele homem até o seu último suspiro. Logo, ela não aceitava que seus empregados fizessem tudo para ela e compartilhava algumas atividades domésticas, como ir à feira. Na verdade, aquele era um dos seus momentos favoritos na semana, pois estava rodeada de pessoas que jamais a julgariam. Talvez por ser a duquesa de Newcastle... Talvez por ela ser ela mesma e tratar a todos com bondade.

Uma fruta caiu da cesta de compras de Bela, mas apressadamente outra jovem a pegou e devolveu. As duas trocaram sorrisos e a moça do vilarejo perguntou para quando seria o bebê. Ah, sim, Bela estava grávida do seu primogênito, faltando cerca de dois meses para este nascer. Mesmo assim, ela não se ausentava das atividades domésticas. Mas ela não estava na feira sozinha. A auxiliar da cozinheira da propriedade – que já possuía mulheres trabalhando – estava acompanhando-a.

— Seu garoto está destinado ao sucesso. – disse de repente uma senhora coberta com um capuz, seu rosto de aparência feia e envelhecida, cabelos brancos para todos os lados, que se atreveu a acariciar a barriga de Bela no tumulto da feira.

— Como sabe que é um garoto? – a jovem sorriu.

— Eu sei de muitas coisas, duquesa. – a mulher era séria, mas não parecia ameaçadora – Mas confesso que em todos os meus anos de vida, que são muitos, nunca imaginei que nasceria uma rosa tão perfeita no jardim mais árido que já plantei.

— O que quer dizer com isso? – foi a vez de Bela ficar séria.

— Que a senhora tem o meu respeito e admiração pela pureza do seu coração. Amar uma fera é para corações desprovidos de maldade. A senhora não só o amou como fez com que ele lhe amasse. E em curto tempo.

— Não sei do que está falando.

— Sabe sim, duquesa. Esse amor tão grande, puro e intenso foi o que o salvou. Foi uma surpresa para mim que a maldição tenha findado diante da morte e mesmo sem terem se casado. Era tão grande o desejo recíproco de se casarem e estarem juntos que subverteu a lógica da maldição, destruindo-a e dando-lhe vida nova. Um amor raro como esse vai durar para sempre. Vocês irão se encontrar em outras vidas.

— Bom, se a senhora for quem estou pensando que é, acho que só devo lhe agradecer. Sua interferência maldosa nos conduziu a esse amor.

— Não foi por maldade, mas pelo prazer de castigar àqueles que estão tão perdidos em si que se tornam incapazes de amar. Ele jamais olharia para a senhora com os olhos de hoje se fosse quem era antes.

— E é por isso que estou lhe agradecendo. – Bela sorriu – Sua interferência salvou não só a ele de si mesmo, mas também a mim do meu destino.

— Não lhe salvei do seu destino, pois ele era o seu destino. Nada acontece por acaso, duquesa. Também aprendi uma lição com essa experiência. Obrigada. – a senhora esboçou um sorriso, sem mostrar os dentes, e deu as costas.

— O que a senhora aprendeu?

Ela demorou a responder, mas quando se virou seu rosto surpreendeu a Bela. Sua face era a de uma mulher jovem e muito bonita, com cabelos louros e olhos sedutores.

— O amor conquista tudo.

E como se aquela mulher nunca estivesse ali, ela desapareceu em um piscar de olhos. E como a jovem duquesa não desconfiava demais nada no mundo ser impossível, sorriu para si mesma, acariciando a barriga, sentindo seu filho mover-se. Sendo um garoto ou uma garota, aquela criança seria muito amada por seus pais e futuros irmãos. O amor não só conquistava tudo como também se espalhava e crescia através de sementes.

A Bela e A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora