VII

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O dia amanheceu e Bela foi até o jardim. Não havia conseguido dormir na noite anterior. Estava nervosa e arrependida, muito arrependida. Ela deveria ter ido embora assim que lhe disseram que estava livre. Por que quis ficar? E por que disse à fera para que esta tentasse lhe conquistar? Seria uma missão impossível! Bela não queria nem que aquele monstro ficasse próximo a ela, que dirá tentar gostar dele. Mas agora era tarde demais, a fera acreditando nela ou não.

Bela sentou-se em um banco de madeira que havia no jardim e começou a admirar as rosas. Ela refez em sua mente alguns trechos da conversa que ouviu entre a fera e o mordomo. Elliot, que parecia ser o nome do mordomo, chamou a fera de Sir. Dominic. Bela já tinha ouvido aquele nome em algum lugar. Na verdade, passou a madrugada pensando nesse nome, mas não se lembrava de nenhum conhecido. Como ela poderia já ter ouvido aquele nome alguma vez na vida?

A fera avistou Bela de longe, sentada no banco do jardim, imersa em pensamentos. A criatura caminhou até ela e viu quando Bela se assustou perante a sua presença e virou o rosto para não o olhar.

— A senhorita disse para eu tentar conquistá-la. Se ainda está aqui é porque não é uma brincadeira de mau gosto. Teve a madrugada inteira para fugir.

— Sim. Na verdade... – Bela não sabia se realmente queria ser conquistada pela fera, talvez fosse melhor partir – eu não sei. Estou muito confusa. Acho que todas as decisões que tomei em minha vida foram erradas.

— Como a decisão de dizer para que eu tente lhe conquistar. – a fera rosnou frustrada e se afastou.

— Eu não sei se consigo fazer isso. – Bela não conseguia nem olhar para a fera.

— Eu sabia que não conseguiria, assim como não sei conquistar uma mulher. Tomei a liberdade de pedir a um dos empregados que arrumasse uma das carruagens para a senhorita. Irá partir ainda hoje, em segurança. Esqueça que um dia me conheceu.

Bela não ficou contente. Ela não entendia o porquê de não querer ir embora. Aquilo tudo era tão confuso e incompreensível. De repente, Bela olhou para a fera e a encarou. Os dois mantiveram os olhares fixos um no outro até que a moça levantou-se e aproximou-se da fera. Ela deu o seu braço para que ele a conduzisse em um passeio pelo jardim. Seus braços se tocaram e Bela sentiu um arrepio percorrer seu corpo.

Bela olhou para as mãos da fera. Elas tinham um formato humano, mas eram muito grandes e cobertas de pelos, além de que tinham garras em vez de unhas. Bela se lembrou da noite anterior quando a fera a encurralou na parede com cada uma daquelas mãos ao redor dela. Aquelas mãos seriam capazes de fazer um estrago, mas Bela não conseguia parar de olhá-las, no silêncio daquela caminhada, até que tropeçou. Se a fera não estivesse segurando seu braço, ela teria caído no chão.

— Sou um pouco desastrada às vezes. – Bela disse, mas a fera permaneceu calada.

O passeio continuou até que a fera se aborreceu e mais uma vez tomou uma atitude brusca jogando Bela contra uma mureta que havia no jardim, encurralando-a ali.

— O que estamos fazendo dando essas voltas sem sentido? – ele rosnou.

— Estamos caminhando. – Bela sussurrou, olhando nos olhos da fera.

— Para onde exatamente?

— O senhor nunca caminhou com uma dama?

A fera bufou. É claro que ela nunca caminhara com uma dama. Não precisava de caminhadas para ter o que queria. Se não eram as donzelas dos vilarejos ou as damas das cortes, eram as meretrizes. Ela não se importava se iria tirar a honra de alguém ou pagar pelo serviço.

— Esse passeio acaba agora. – se afastou.

— Não acaba não! – foi a vez da Bela se aborrecer – Estou aqui lhe dando a graça da minha presença, propondo que um ser grotesco como o senhor me conquiste e não quer sequer tentar me agradar?

A Bela e A FeraOnde histórias criam vida. Descubra agora