8. Hachi

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"Oito"

Kazue

Eu estava errado. Era algo novo para mim. Era incomodo.

E eu odiava.

Levei o celular até a boca, apoiando meu rosto nele enquanto dois seguranças me levavam para o endereço que eu havia dado a eles.

Isla não queria nada de Natsuo. Na realidade, era mais para o oposto. Isso eu entendia agora. Isla também não pretendia esconder nada propositalmente, só estava óbvio que ela não podia contar algumas coisas. Não porque ela queria (apesar de notavelmente gostar de deixar as pessoas no escuro, mas creio que mais por hábito do que por desejo), mas porque era necessário.

Eu não queria ir para casa. Seja para minha casa ou para a de minha família. Não queria encarar minha família. Não queria ter que pensar naquilo. No perigo. E eu sabia que estava em perigo. Eu não era burro, tolo ou estúpido. Era bastante inteligente, e era por isso que minha posição me irritava. Eu não sabia de tudo, portanto não podia entender aonde havia me metido — e pior, no que.

Então digitei o número sem sequer precisar abrir o contato e levei o celular até a orelha, ouvindo chamar.

Eu estava em perigo de uma forma que nunca havia estado antes — meus pais sempre souberam que eu estava em perigo, quando havia ocorrido antes, e garantiam que nada demais acontecesse. Dessa vez, eu estava sozinho naquela — e se envolvesse meus pais, envolveria todo o conglomerado. Era um risco que eu não podia correr, e por isso, estava sozinho. Se envolvesse meus pais — ou sequer apenas um deles —, eu poderia colocar toda a família na mira. Todo o conglomerado, todos os nossos esforços.

Eu precisava lidar com aquela merda toda — sozinho.

Demorou um pouco mais que o habitual para que a outra pessoa do lado da linha atendesse, mas eu poderia esperar a noite inteira. Pelo menos para aquela ligação.

— Zue? — Ouvi a voz sonolenta e rouca, surpresa.

— Preciso de você. — Falei, tenso. — Chego em cinco minutos.

— Que diabos... — desliguei, não ouvindo o restante de sua confusão.

Encarei os avisos de ligações perdidas de minha mãe, finalmente criando coragem para abrir uma mensagem dela, tenso. Tinham algumas mensagens, mas todas elas diziam a mesma coisa.


A sede em Paris está interditada. Suspeita de bomba interna. Venha para a sede imediatamente.


Fechei a mensagem e desliguei a tela do celular, apoiando minha cabeça no encosto e encarando o teto do carro, sentindo a gola do suéter apertando meu pescoço.

Não era possível. Simplesmente não era possível que tudo de ruim pudesse acontecer em uma noite. O ano tinha mais de trezentos dias, ele conseguia equilibrar para tudo não explodir assim.

Mas, aparentemente, estava acontecendo. E definitivamente poderia piorar.

Eu sentia que não era o único que sabia disso.

Os cabelos amarrados, o boné desarrumado depois que ela o colocou de volta em sua cabeça, enquanto eu vestia o colete à prova de balas. Seu pé tinha muito sangue, mas ela não havia reclamado em momento algum. A maneira como ela segurava a arma mostrava que ela tinha treinamento — muito treinamento. Profissional.

Quem era ela?

Agora eu entendia os seguranças. E mesmo eles não foram capazes de salvá-la. Ela tivera que se virar sozinha, e se não fosse por mim, estaria morta.

Segredos Que Nunca Contaríamos (Trem Errado #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora