"Sete"
Isla
Sabe quando você acorda após sofrer um acidente de carro, depois de tomar uma pancada e tanto, mas ainda está de cabeça para baixo, presa, meio morta, meio viva...? Creio que não, ao menos espero que não, mas eu ouvia o mesmo zumbido ao sentir meus sentidos retornarem.
Meu cérebro girava. Eu poderia muito bem ter expelido duas carreiras de cocaína, se isso significasse perder energia — não que eu soubesse como seria cheirar cocaína, porque definitivamente não sabia. Meus músculos estavam lentos e meus olhos não se abriram imediatamente, se recusando a obedecer às ordens enviadas por meu cérebro.
Me estiquei um pouco na superfície em que me encontrava, ainda meio lenta, mas finalmente acordando. Eu sentia algo macio embaixo de mim e sobre mim também, refletindo um pouco sobre. O zumbido em meus ouvidos me deixou de vez, e eu estava abrindo meus olhos.
Parecia que eu tinha tomado uma dose forte de droga, mas era apenas um sonífero. Um forte o suficiente para me deixar apagada por tempo o suficiente para que meu corpo se acalmasse, assim como minha mente.
Meu corpo ainda estava meio dormente, então primeiro senti minhas mãos e pés, depois movendo meus membros superiores e então inferiores, me virando com dificuldade em algo que definitivamente era uma cama. Respirei bem fundo, puxando o ar com dificuldade, mas conseguindo respirar. Era ótimo conseguir respirar.
Eu estava viva, claramente.
E arrependida de minhas últimas palavras, também. Não fora meu melhor momento, admito. Minha psicóloga ficaria chateada — meu pai, então...
Abri meus olhos com dificuldade, fechando-os imediatamente por conta da claridade, sentindo dor espalhar-se por todo meu crânio. Abri-os novamente instantes depois, deixando minha visão focar por um instante antes de olhar em volta, tentando localizar o ambiente que eu me encontrava.
Os olhos de outra pessoa estavam em mim.
Os olhos castanhos de Kazue estavam sobre mim, e ele parecia pensativo enquanto analisava meu corpo se movendo, como se seus pensamentos estivessem desconexos do que via. Ele estava sentado em uma poltrona no cômodo em que nos encontrávamos, que notei sendo um quarto justamente porque eu estava deitada em uma cama. Ele pareceu acordar dos pensamentos, porque piscou rapidamente, focando os olhos em mim e entendendo que eu estava sentada.
A única coisa que ele poderia fazer naquele ambiente era literalmente olhar e pensar. Ele já deveria ter notado que naquele ponto ele não conseguia realizar ligações ou utilizar a internet. Contato com o mundo externo? Não existiam janelas.
Por quanto tempo eu havia ficado apagada e o que ele deveria ter pensado naquele período em que eu não poderia lhe responder nada?
Eu estava dura enquanto me sentava de fato, meus músculos endurecidos por conta da tensão e medo. Voltei meus olhos para baixo, vendo um lençol me cobrindo até abaixo do peito, as mangas de meu suéter de gola alta já abaixadas, mas meu casacão estava apoiado em um cabide ao lado de um balcão, com um espelho em cima deste. Minha bolsa estava junto ao casacão, e eu podia ver meu celular em cima do balcão.
A arma não estava em lugar algum.
— Isso é normal? — Ouvi, voltando meus olhos para o autor das palavras, Kazue.
— O quê? — Minha boca estava seca, e minha garganta arranhou quanto respondi.
Ele gesticulou levemente para o cômodo em que estávamos.
Dei de ombros, de leve.
— Aconteceram algumas vezes. — Expliquei, honesta. — Pelo menos duas por país em que estou. — Porém nunca tão cedo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Segredos Que Nunca Contaríamos (Trem Errado #1)
RomanceIsla não via a hora de se mudar. Ela queria deixar para trás os horrores que havia vivido e visto em Paris. Quando a embaixada confirma a transferência de seu pai para o Japão, após semanas de espera, tudo o que lhe resta é respirar aliviada. Ela s...