6. Roku

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"Seis"

Isla

Parei, ofegante, nas portas do bar, na rua. Arrumei a arma dentro das calças, nas costas, escondendo-a com o casacão e sentindo o cabo frio apertar minha bunda, e então olhei para a esquerda, já separada de Kazue.

— Aqui! — Ouvi o grito, virando a cabeça para a direita, vendo Kazue acenar, caminhando rápido e mantendo os olhos em mim.

Me virei e corri atrás dele. Eu não tinha nem carro! Fumihiro era quem ficava com a chave! Eu não sabia nem em qual direção correr.

Alcançamos um McLaren preto com rapidez, com Kazue me encarando, abrindo a porta do passageiro de maneira ágil.

— Você sabe correr? — Perguntei, sem fôlego, sem entrar no carro.

Ele me encarava, sério.

— Estamos prestes a descobrir. — E então me empurrou minha cintura para dentro do carro, tentando me socar lá dentro de uma vez, preocupado. Suas mãos ainda tremiam, mas agora em um fluxo constante, não em um frenesi.

E, naquele exato momento, um flash me cegou.

— Merda. — Soltei em escocês, tendo certeza de que a palavra que saiu em japonês ao meu lado significava algo parecido com a minha.

Só tive tempo de registrar um rosto feminino oriental antes de Kazue abaixar minha cabeça e bater a porta do carro.

Em instantes ele já havia saído da vaga e corria pelas ruas de Tóquio, movendo o carro de maneiras tão ágeis quanto um profissional, atingindo oitenta quilômetros em um segundo. Já estávamos na marca dos cento e vinte.

Meu peito parecia prestes a explodir.

— Para onde? — Perguntou, preocupado com o retrovisor. Os olhos finos estavam arregalados, grandes.

— Olhe para frente. — Pedi, afivelando o cinto, então abrindo o papel, vendo o mapa.

Em japonês.

Eu devia ter decorado aquilo, mas achava que tinha tempo, não fazia sentido ficar por cinco dias em cima de algo que eu poderia observar durante os fins de semana para gravar locais mentalmente, além de palavras.

Não, não, não... não.

Comecei a hiper-ventilar. Meu peito parecia prestes a estourar dentro de mim.

— O que foi? — Perguntou, ouvindo minha respiração frenética.

— Está em japonês. — Voltei meus olhos para ele, vendo seu busto e ombros paralisados ao dirigir, acelerando mesmo assim.

Ele sabia que eu não sabia japonês, até porque tinha pedido por uma tradução em nosso primeiro encontro. Eu não era fluente e tinha um mapa 100% em japonês em minhas mãos, com códigos e ordens de informações que eu nunca havia visto antes.

— Ok. — Ele engoliu em seco, alto. Para alguém que mergulhara no meio da merda em um minuto, ele estava bastante ciente da gravidade da situação. Eu esperava que ele não paralisasse, por choque, em alguns minutos, mas isso podia acontecer e eu precisaria lidar com isso. — Ah... — pareceu pensar, como se organizasse um mapa mental — desenhe os símbolos no ar. Na minha frente. — Pediu, focado no trânsito e correndo cada vez mais. Ele desviou com velocidade de dois carros, fazendo um zigue-zague entre as pistas duplas, que me fez segurar firme na porta do carro antes de levantar o mapa novamente.

Minha mão tremia quando levantei ela em sua frente, tentando repetir o que lia no mapa, incerta. Quando terminei, parei, ansiosa, encarando-o.

Ele parecia tentar juntar um quebra-cabeças, eu podia ver suas engrenagens maquinando. Os segundos que se passaram enquanto ele tentava imaginar o que eu havia desenhado foram cruelmente registrados por meu cérebro e corrente sanguínea.

Segredos Que Nunca Contaríamos (Trem Errado #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora