Interlúdio

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In memorian.


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A mulher sorria na foto.

Parada para sempre em seus quarenta e quatro anos, Innis Forsyth-Aitken era bastante bonita. Os cabelos loiros e pele saudável mostravam que ela poderia ser uma modelo ou atriz de sucesso. Assim como sua mãe e assim como sua filha, ela tinha feições doces, porém de uma mulher forte.

— Alguma notícia? — O homem perguntou, encarando o túmulo da mulher. Tinham flores novas, recentes, de alguém que ia quase toda semana cuidar do túmulo, sem nunca superar a morte. Alguém que havia sido deixado para trás, para viver com seus pecados.

— Não, irmão. Apenas papo-furado. — A resposta veio de outro homem encasacado, de preto dos pés ao pescoço, já que usava um boné marrom.

Papo-furado.

— Me pergunto quando a fedelha irá quebrar. Para católicos, ir ao túmulo dos amados em datas especiais é muito importante.

O segundo homem se manteve em silêncio, sabendo que seu irmão apenas pensava alto.

Vento chacoalhou o topo de algumas das árvores próximas ao túmulo, trazendo um ar macabro ao amanhecer. Claramente o vento não se sentiria intimidado ou com medo daquelas pessoas, como outras pessoas poderiam sentir-se.

— Você acha que terá uma nova oportunidade de ficar frente a frente com ela? — O segundo questionou, finalmente falando.

O homem que analisava a foto de Innis considerou, pensativo.

— Eu gostaria. Aquela garota nos deu problemas demais. Se tivesse morrido na Rússia, Callan já teria quebrado.

O segundo concordou.

— Quanto tempo até ele saber demais?

— Eu diria algumas semanas. Ele está perto. — Ao responder isso, finalmente encarou o outro. — Curiosamente, ele entregou Malakai.

— Você acha que ele sabia?

— A célula 52 apenas informou que um irmão chamado Malakai era um agente infiltrado. Aparentemente pela CIA. Eles não reportaram mais nada, e a célula 38 tratou de se livrar dele.

As dez células, espalhadas pelo mundo em milhares de pessoas, tinham hierarquia própria e seriam capazes de acabar com diversas pessoas, conforme sempre era necessário e ordenado por aquele homem. Com subunidades, os homens eram imbatíveis pelo mundo.

O homem, que comandava grande parte daquele continente, ao menos no que dizia respeito a questões ilícitas e de terrorismo, abaixou-se, pegando uma vela parcialmente derretida, analisando-a.

— Teremos trabalho a fazer. Sabemos que Isla esteve na França há menos de uma semana. Callan ainda está na França. O que as outras células estão falando?

— Nossa inteligência diz que ela foi para a Ásia. Ainda não sabemos qual país, mas devemos descobrir em algumas semanas. — Respondeu o subordinado.

— Ótimo. Ela precisa morrer. Assim Callan irá entregar-se de bom grado para acabar com tudo que começou.

O segundo homem sorriu.

— Você não acha que ele faria alguma loucura?

— É precisamente com isso que eu conto. Se a coisa que ele mais protege e ama em sua vida se for... ele enlouquecerá. Homens loucos fazem coisas terríveis.

Segredos Que Nunca Contaríamos (Trem Errado #1)Onde histórias criam vida. Descubra agora