Em casa?

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Bill On 

Procurei por toda aquela área, e me atrevi a vasculhar umas áreas mais distantes, e mesmo assim não tive sucesso. Estava cada vez mais preocupado com o desaparecimento da minha pequena e da minha filha, e essa preocupação toda me deixava sem vontade de dormir ou comer. Por vários dias, a minha rotina estava entre acordar, tomar uma xícara de café, passar o dia inteiro procurando por Lia e Helena, e voltar para casa, tentar jantar e dormir. Creio que perdi uns 6 kg com isso. Passei até mal, mas isso não me empatou de ir procurá-las. 

A partir daquele momento, percebi que precisava de uma ajuda exterior. Aproveitei uma das entrevistas em uma emissora do meu país, para pedir um apelo. Pedi que quem tivesse informações sobre minha mulher e minha filha, que me informasse, que eu iria agradecer muito. Os atores com quem trabalhei também se sensibilizaram com isso, e os fãs mais ainda. Todos estavam se mobilizando, e eu continuava a procurá-las, e não iria descansar tão cedo. 

Voltei a delegacia, pois queria conversar com Clara sobre o assunto, e a mesma quis falar comigo. Perguntei a ela onde ela tinha mandado deixar Lia e Helena, e ela ficou calada. Eu, no ápice da minha raiva, perguntei, com o tom de voz bem mais elevado, e ela me diz:

- Mandei deixar elas em um local escuro, vazio, sem nada. Simplesmente, para aquela vagabunda e aquela bastarda morrerem. 

Naquela hora, vi que ela estava ficando maluca. Então, fiz questão de abrir uma medida protetiva para todos os membros da minha família, como a de Lia. Assim, Clara nunca mais iria chegar perto nem de mim e nem da minha pequena e minha filha. Assim que a medida protetiva entrou em vigor, eu novamente começo a procurá-las, sem sucesso. Chego em casa, e reparo que preciso voltar para minha casa de origem. Ligo para meu pai, perguntando se posso voltar à Vällingby, e ele diz que sim. Prontamente, arrumo as malas, pego Príncipe comigo, e assim deixo nossa casa. Vou ao aeroporto, faço o check-in, e entro no avião. Príncipe está na caixinha para animais. Assim que o avião decola, uma parte de meu coração fica ali. 

Quando volto para casa, todos me recepcionam tristes, já que todos nós estávamos sem notícias de Lia e Helena há mais de 2 semanas. Tomo banho, e assim levo Príncipe para a casa de Lia, e sua mãe agradece. Quando sua mãe pede para que eu entre, pergunto se posso ir ao quarto dela. Ela diz que sim. Assim, subo as escadas, e quando entro naquele lugar, meu coração aperta de tanta tristeza. Me deito em sua cama, em que ainda tem seu cheiro, e lá mesmo me desmorono. 

- Porque tinha que acontecer com a Lia, e com minha filha? 

Choro sem parar, e falo entre os soluços:

- Por favor, voltem pra mim. Por favor. Sem vocês, eu não sou nada. 

Lia On 

Continuo andando por aquela estrada, e Helena começava a chorar de fome. Me escondi em algum lugar, e fui amamentando ela. Infelizmente, eu precisava de achar um lugar para nos abrigar. Com uns 10 minutos andando, vi uma luz fluorescente acesa. Corri o mais rápido que podia, e lá achei uma casa, bem simples, mas conclui que ela seria a ideal para abrigar minha filha e eu. Bati na porta muitas vezes, e quem me atendeu era uma senhorinha bem gentil. 

- Olá, menina. O que houve que você está sozinha a essa hora da noite? 

- Por favor, senhora, eu fui sequestrada, acabei de ser libertada, e estou perdida. Preciso de sua ajuda. Por favor.

- Entre, menina. - disse ela, dando espaço para que eu entrasse. 

Ela me perguntou qual era meu nome, e simplesmente respondi:

- Meu nome é Lia, e essa é minha filha, Helena. 

- Prazer em conhecê-las. Sou Lisa Hansson. 

- Muito prazer, senhora Hansson. 

Ela, em um tom acolhedor, diz a mim:

- Olha, tenho um quarto vazio. Pode dormir lá com sua filha. Aqui na geladeira, tem algumas frutas, legumes. Pode fazer sua comida, porque sei que mamães como você precisam se alimentar bem para amamentar. Então, pode ficar a vontade. Tenho roupas aqui, então pode vesti-las, sem nenhum problema. Eu vou me deitar, e espero que vocês durmam bem. Boa noite!

- Boa noite, Sra. Hansson, e mais uma vez, muito obrigada por tudo. 

Ela só deu um sorriso e foi para seu quarto dormir. Como ela tinha me dado carta branca para poder fazer o que quisesse, fui aprontar algo para comer. Aprontei um mingau de aveia para Helena, e eu comi um bife, com purê de batata e uma maçã. Naquele momento, lembrei que Bill adorava bife, e aquilo me fez sentir falta dele. Comecei a chorar, implorando para que pudéssemos ver ele o quanto antes. 

O dia estava amanhecendo, e assim fiz Helena dormir. Estava linda, como um anjo. Deitei ela em um berço que improvisei com lençóis, e eu me deitei ao seu lado, na cama. Acabamos dormindo juntas. Assim que amanheceu, ajudei a Sra. Hansson com as coisas de casa. Desde limpar a casa, até a cuidar de que jardim. E nisso, fiquei lá por 4 dias. Queria ligar para minha família, mas infelizmente, não tinha sinal de telefone lá. Pensei comigo que então já era hora de partir. Fiquei triste por deixar a Sra. Hansson sozinha, mas eu precisava voltar. Então, em uma manhã, comuniquei que precisava ir embora, e ela me e eu comida, cobertas para dormir, e dinheiro, que ela achava que iria dar certo com as despesas até chegar em casa. Realmente, pois era muito dinheiro. Então, ela me acompanhou até a porta, e perguntei:

- sra. Hansson, onde estamos?

- Aqui é Storuman.  

Prontamente, perguntei a ela:

- Como faço para chegar em Vällingby?

- Siga sempre ao sul, e assim chegará lá. - Dou um abraço nela, e a agradeço por tudo que ela fez por mim e por minha filha, e ela me diz - Eu que agradeço, e boa sorte, menina. Vou torcer para que consiga chegar lá o quanto antes. 

Me despeço dela, dando um tchau com a mão, e assim começo a caminhar ansiosa. Mas os dias iam passando, e eu achava que não tinha fim. Parava sempre em alguma sombra para cuidar da minha filha, amamentá-la e tentar descansar com ela. Acabava dormindo na rua, e algumas mulheres esnobes me chutavam forte em minhas pernas. Eu chorava muito com aquilo, pois muitas vezes,  elas chutavam com tanta força, que deixavam marcas roxas. Um dia, me olhei no espelho e vi que aos poucos, eu parecia realmente uma moradora de rua: eu estava suja, minhas roupas estavam rasgadas, enfim. Mas, o meu foco era proteger minha filha de qualquer perigo. Eu continuava por Helena. Minha força era minha filha. E eu não ia desistir por nada no mundo. 

Eu andei por vários dias, perdi até a conta de quantos. Só percebi uma placa enorme, escrita "Sejam Bem-vindos à Vällingby". Naquele momento, eu estava feliz, pois eu havia "chegado em casa". Estava eu cansada, exausta, desidratada, mas ainda sim continuei a andar. Toda vez que via Helena, era recarregava minhas forças para continuar. E assim eu fazia.

Algumas horas depois, percebo que estou na minha antiga rua de onde morava. Tudo para mim estava melhor. Só de pensar que eu estava perto de casa, era motivo de extrema alegria. Eu ainda dava passos, só que mais curtos, pois meu corpo sucumbia de cansaço, e naquele momento, e eu estava com febre alta. Eu sentia que precisava urgentemente tomar e beber alguma coisa. Eu acabo parando no meio da rua, e consigo ouvir latidos familiares. Tinha certeza que era Príncipe. Mas, eu estava muito fraca, esgotada. Naquele momento, eu não consegui andar mais. Eu literalmente caí no chão, e Helena estava em cima de meu peito. Ela não sofreu nenhum impacto com a queda, mas ainda ouvia ela chorar. De repente, vejo, embaçadamente, um homem alto, loiro, e com um pouco de barba. Era Alexander. Ainda ouvia sua voz, mas lá no fundo:

- Gente, me ajudem. Eu achei ela! Liguem para a ambulância e pro Bill agora mesmo!

Naquele instante, meus olhos fecharam. Daquele momento em diante, não sei mais de nada. Estava inconsciente.

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