Tudo o que (não?) podia ter acontecido

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[P.S: carta da Clara no capítulo anterior]

Bill On 

No dia seguinte, acordei sentindo uma brisa fria em minha pele, que me fez arrepiar. Estava nublado aquele dia. Me levantei calmamente, e acabei fechando as janelas, para que minha filha não acordasse. Fiquei olhando ela por uns bons minutos, e ficou rondando na minha cabeça: "Lia e eu nos conhecemos aqui, crescemos, namoramos, terminamos, passamos por tantas coisas, e olha só: cá estou eu, noivo dela, e com minha bonequinha dormindo." Me inclino e beijo sua testa suavemente para ela não acordar. Quando me afasto um pouco, me viro para a cama, e vejo minha pequena dormindo, ainda profundamente. Já percebo que Helena puxou a gente. Caminho devagar, e me deito na cama, e faço com que seu rosto esteja colado pertinho da curva do meu pescoço, e a coloco para ficar deitada em cima de mim. Ela continua a dormir, e eu a abraço com todo o carinho do mundo. Beijo sua testa, e fico observando ela dormir. Com o tempo, aquilo me deixa sonolento, e acabo dormindo. 

Quando eu acordo, percebo que Lia já tinha saído, já que não vi Helena dormindo também. Desci as pressas, com medo de que algo tivesse acontecido com elas. Quando chego à sala da casa de Lia, sua mãe logo me diz:

- Bom dia, meu filho. Dormiu bem? 

- Bom dia pra senhora também. Sim, dormi bem. Espero que tenha dormido bem também. - Ela olha pra mim e acena, concordando. Olho para os lados, e pergunto: - Dona Liliana, onde Lia está? 

 - Ué, pensei que ela tinha te avisado. Ela foi à delegacia, junto com Helena. 

Naquela hora, meus olhos ficaram arregalados. Antes que a mãe dela pudesse dizer algo, subi desesperado para vestir alguma roupa qualquer, e fui para a delegacia de Estocolmo. Chegando lá, vejo uma garota encostada em um carrinho de bebê. Ela estava chorando. Cheguei perto, já sabendo quem era. Me sentei ao seu lado, e perguntei:

- O que houve? 

Lia na hora me abraçou, e chorou muito em meus braços. Era a primeira vez que vi ela chorar daquele jeito. Tentei secar seu rosto, mas aquilo só ficava mais intenso. Perguntei novamente o que tinha acontecido, e ela me diz:

- Eu não sei se consigo, Bill. Eu tenho medo. 

- Meu amor, você mesma disse que queria que ela pagasse tudo o que ela fez contra vocês duas. Eu entendo que não é fácil. Mas isso não é impossível. Eu vou estar ao seu lado, no que for. Prometo a você. - beijo sua mão, e assim ela toma coragem para falar. 

Ela entra na delegacia, e fala que quer fazer uma denúncia. Lá, ela é encaminhada para a sala do delegado, e ele pede para ela entrar. Eu pergunto se posso entrar com ela, e ele diz que sim. Lá, o delegado e o escrivão perguntam a ela tudo o que aconteceu. Fico bem concentrado para ouvir as palavras da minha pequena, e pra falar a verdade, foi pior do que eu ouvi por cima no hospital. Eu abaixava minha cabeça, engolindo aquele choro, enquanto ela contava detalhe por detalhe. Assim que ela terminou, a denúncia foi feita, e lá ela fez os exames, e levou a roupa que ela estava nos dias em questão. Assim, Lia saiu do consultório. Eu via pelos olhos dela que pareciam estar distantes. Achei melhor não falar nada. Então, entramos os três no carro, e fomos para minha casa. Chegando lá, Lia amamenta nossa filha, e assim coloca ela para dormir também em um berço improvisado. Depois que ela a deita, eu pego em sua mão, e digo a ela que precisamos conversar. Eu comecei a caminhar, e ela veio junto atrás de mim, sem soltar minha mão. Fomos a um quarto isolado de tudo e de todos. Lá, tranco a porta, e minhas lágrimas começam a rolar pelo meu rosto. Eu choro sem controle, e abraçando aquele corpinho tão pequeno, se comparar a minha altura. Eu chorava, soluçava, tentava controlar, mas não adiantava. Peguei em seu rosto, e pedi que ela me perdoasse, pois nem tinha protegido, e não tinha procurado o suficiente por elas. Eu choro sem controle, e entrelaço meus dedos por seus cabelos cacheados. Sinto suas mãozinhas pequenas deslizarem por minhas costas. Afasto ela um pouco para vé-la, e para novamente pedir perdão, fazendo com que minhas mãos fiquem em seu rosto. Isso fica por uns 7 minutos. Lia enxugou meu rosto delicadamente, e me abraçou forte, dizendo:

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