Estávamos na terceira aula antes do intervalo. Eu havia me apresentado para a turma inteira no início. Por incrível que pareça, eu não fui zoado, apenas encarado por todos, especialmente pelo garoto que vi cumprimentar Kinho na porta da sala. Não entendia o motivo de eu estar tão tímido, na Coreia eu não era assim. Talvez, só talvez, fosse porque eu estava um país completamente diferente, sem amigos e sem saber falar a língua fluentemente.
- Vou passar dando os vistos. – O professor anunciou, batendo a caneta em cima no quadro enquanto se levantava. – Começando pela fileira da porta.
Era aula de química. Eu não queria me gabar, mas eu era muito bom na matéria, talvez era a qual eu mais me destacava. Estava impressionado com o dever parecer tão "bobo" para uma matéria de terceiro ano. Não conseguia entender o porquê de todos estarem estudando algo básico.
Talvez o Brasil tivesse um delay no ensino, quem sabe.
- Ei, Coreia. – O garoto mamãe-quero-ser-gótico atrás de mim me chamou.
- Eu tenho um nome. – Retruquei, observando o professor ir de cadeira em cadeira.
- 'Tá, tanto faz. – Eu senti que ele havia revirado os olhos ao falar aquela frase – Pode me passar a resposta da três? Eu não faço ideia de como fazer esse cálculo e eu não posso perder mais vistos.
Eu parei para pensar por alguns segundos. Deveria ser legal e deixa-lo copiar o meu exercício mesmo depois dele ter me tratado como um pedaço de lixo qualquer ou eu seria um babaca, me igualando a ele, e pagando na mesma moeda?
- Cara, é sério. – Ele soou um tanto quanto desesperado.
Bufei e me virei para trás, discretamente levantando o caderno e o mostrando a resposta. O garoto sorriu de lado e copiou o mais rápido que pode. Eu tinha quase certeza que ele demorou mais do que deveria pois estava copiando mais de um número, mas eu não o impedi, o que eu ganharia se fizesse isso? Nada. Pensando bem... eu ganharia o prazer de o ver se dar mal na mão do professor.
Droga, Jimin, por que você tinha que ser tão gentil?
- Ah! – Ele arfou e largou o lápis em cima do caderno. – Finalmente... valeu cara... eu iria me foder se não ganhasse esse visto.
- Não se acostume com isso. – Ri pelo nariz.
- Jimin? – O professor se aproximou da minha cadeira. – Terminou?
Assenti.
O professor pediu licença e pegou meu caderno, olhando cada resposta. Ele ficou um bom tempo lendo tudo, o que me preocupou. Eu tinha errado as coisas? Talvez. O professor tinha me ajudado a entender as perguntas no início da aula por eu não entender termos químicos em português... então, não duvidava que pudesse ter feito tudo errado.
- Jimin, isso é impressionante! – Ele sorriu, dando o visto no caderno e me devolvendo. – Fico feliz que um aluno se dedique tanto para justificar cada resposta, até mesmo as de cálculo!
Sorri, satisfeito e aliviado com a fala do meu professor.
- Yoongi... – Ele se aproximou do garoto ao meu lado.
- Professor... – Yoongi fez a maior expressão de bom moço que conseguia fazer e o entregou o caderno.
Mais alguns segundos de silêncio, mas pela expressão confusa do professor, ele estava desconfiando invés de estar se impressionando a cada resposta de Gui. Eu e o garoto nos olhamos preocupados.
- Tem certeza que foi você que fez essas duas aqui? – Abaixou o caderno.
Vi a boca de Yoongi abrir enquanto ele pensava em uma boa desculpa.
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Mas... Brasil?
Fiksi RemajaJimin se viu obrigado a ir morar no Brasil. Mesmo indo contra a ideia, não tinha absolutamente nada que pudesse fazer para impedir a viagem. Ao chegar, descobre a diferença cultural, atividades novas e principalmente brasileiros dos quais se tornari...