Capitulo 2 - Encantador

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- Ele é encantador. - Helena disse, no jantar.

Jeremy já havia ido embora a algumas horas e quando Miranda perguntou como o rapaz era, Helena respondeu rapidamente, sem dar nem mesmo a chance de Liana abrir a boca.

Enquanto Helena contava para os pais de Liana sobre Jeremy, uma forte lembrança tomou a mente de Liana.

Os pais de Helena morreram em um acidente de carro. Helena não estava com eles, ela estava no colégio quando aconteceu e agora estava órfã.

- O que vai acontecer com a Lena? - Liana perguntou para a mãe preocupada - Ela vai ficar sozinha, mamãe?

- Não meu amor. - Miranda se agachou na frente da filha de nove anos e passou a mão pelo rosto dela, carinhosamente - A Lena vai vir morar com a gente, o que você acha?

- Ela vai ser minha irmã? - Liana perguntou com os olhos brilhando.

- Claro, querida, ela vai ser sua irmã.

Liana saiu pulando e comemorando pela casa. A jovem estada triste com a morte de seus tios, mas para uma criança essas coisas costumavam ser momentâneas, e saber que Helena iria morar com ela e com seus pais, fez com que uma sensação de felicidade tomasse todo o seu ser.

Helena chegou na casa no dia seguinte, tristonha e chorosa, não parecia de forma alguma a menina meiga que todos conheciam. Liana tentou anima-la, sem muito sucesso; e as coisas foram assim naqueles primeiros dias. Helena quieta na dela e Liana, Miranda e James tentavam anima-la e a fazer se sentir em casa.

A situação durou quase um mês. Até que Helena voltou a sua normalidade.

Liana era a criança mais feliz do mundo, com os pais maravilhosos e a irmã de seus sonhos.

Liana se perguntava quando exatamente a irmã de seus sonhos virou a intragável prima que via agora. Era como se ela fosse alguém completamente diferente.

Tocando sua cicatriz, Liana então lembrou o que realmente aconteceu entre as duas.

A mãe de Liana e o pai de Helena eram irmãos, os avôs das duas ainda estavam vivos e as prima, agora quase irmãs, foram passar as férias escolares na casa de campo em que os dois viviam. Helena e Liana amavam brincar de bonecas e as duas faziam isso ao ar livre, correndo e dando boas gargalhadas; até que Helena quis pegar a boneca de Liana e Liana amava muito aquela boneca e não quis emprestar.

- Você devia morrer e assim eu teria o papai e a mamãe só pra mim. - Helena disse irritada com Liana, palavras que não eram do feitio de uma criança de dez anos.

- Mas somos irmãs e irmãs dividem o papai e a mamãe. - Liana falou já chorando pela forma que estava sendo tratada.

- Então você devia dividir a boneca comigo.

- Você tem a sua.

- Pode ficar com ela se você quiser. - Helena respondeu jogando a boneca na prima - Eu quero a sua.

- Mas...

- Me da. - Helena gritou e empurrou Liana.

Se as duas estivesse em qualquer outro lugar da casa, Liana provavelmente só cairia no chão, mas elas correram tanto pela propriedade que nem notaram que estavam na parte mais perigosa dela. Na verdade somente Liana não se deu conta, Liana não podia ver o que tinha atrás de si, mas Helena enxergava com clareza e não pensou duas vezes antes de empurrar a prima em direção ao fundo do barranco.

O grito de Liana chegou aos ouvidos dos avôs e dos empregados. Helena começou a chorar de maneira desesperada e Liana já não tinha mais consciência.

Uma equipe medica a socorreu e a levou direto ao hospital. Liana teve a perna, tornozelo e braço direitos quebrados, seu corpo ficou cheio de hematomas e quando seu rosto cheio de sangue foi limpo, revelando o corte profundo, os médicos constataram uma inegável cicatriz que iria da sua testa até seu queixo, também do lado direito de seu rosto. O lado que ela caiu.

As vezes Liana ainda sentia dor ao andar ou usar aquele lado do corpo, ela não sabia se a dor era realmente real ou psicológica, contudo essa dor vinha em momentos como esse; quando Helena era a filha perfeita e Liana somente um adereço do ambiente. Ela se perguntava como Helena conseguia se fazer de boa moça na frente de todos, quando ela era tão desagradável, quanto Liana aparentava ser.

- Eles não te amam mais. - Helena falou, quando os pais de Liana aparentemente esqueceram seu aniversário de doze anos - Eles estavam aqui no meu aniversário, mas no seu, eles agem como se fosse um dia como qualquer outro.

- Eles não esqueceram.

- Esquecera sim.

- Eles ainda me amam.

- Não amam não. Quem vai amar uma criatura feia como você? - perguntou rindo - Você é horrorosa, com essa cicatriz no rosto. Eles não te amam mais.

Liana saiu correndo chorando, se escondendo da prima e de suas provocações.

Infelizmente a prima estava um pouco certa com aquelas afirmações, os pais de Liana se confundiram com as datas e não comemoraram o aniversário da filha, comemorando o mesmo somente na semana seguinte e quando Liana saiu chorando da sala de jantar eles se deram conta do erro. E mais uma vez Helena provocou a prima, alegando que ela não era mais importante para os pais, que sua aparência os fazia querer tê-la longe.

Contudo, Helena só a provocava de tal maneira quando não havia mais ninguém por perto. Ela sabia exatamente a hora que podia ser cruel e quando não podia.

Helena foi assim durante toda a infância de Liana e somente com seus treze anos que Liana decidiu revidar aos comentários da prima.

- Cale a boca. - Liana gritou irritada - Eles são meus pais. Você não é minha irmã, é minha prima. - falou alto - Só vive com a gente porque seus pais morreram, você não é filha do meu pai e da minha mãe.

- Liana! - Miranda repreendeu a filha ao escutar o que a mesma disse.

Miranda chegou e viu a cena, ou parte dela, somente sua filha falando coisas feias para Helena; o que ela não escutou foi Helena provocando Liana alguns minutos antes. Helena se fez de vítima da situação, chorou e ficou perguntando porque Liana não gostava de si, enquanto Liana foi repreendida por sua atitude ruim.

Helena ainda vinha com comentários ácidos para cima de Liana, porém Liana já não era a criança que Helena empurrou barranco abaixo. Não era a menina que a mãe repreendeu por tratar a prima mal. Liana se tornou fria e cruel, não se importava mais com a mãe a repreendendo ou com as lagrimas falsas de Helena. Liana já não era mais uma menina doce e meiga, era uma mulher marcada por crueldades e sofrimento, apesar de tão jovem.

Noiva MonstruosaOnde histórias criam vida. Descubra agora