Capítulo 23

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De pouco adianta eu ter tomado uma decisão. Ed não quer ver minha cara. 

Fui no café várias vezes e fui tratado com frieza. Tentei ir a seu apartamento, mas ele nunca estava - ou fingia não estar.

Então eu mesmo cansei.

Hoje é sexta. Estou arrumando minha mochila. Meu voo para Ohio saí em duas horas. Domingo é Ação de Graças e vou passar esse fim de semana com meus pais. 

Abraço Cae e Tina e digo que na segunda estou de volta. 

Seguro a carta em minhas mãos tremulas. Penso em deixar nas suas próprias mãos, mas decido deixar no se apartamento. 

Está escrito:

" Edgar, sinto muito pela forma que te tratei. Só fiz o que fiz por medo e por não entender meus sentimentos. Me desculpa. Vou entender se nunca mais quiser me ver. Mas...eu ainda quero te ver.

Marcus "

Coloco a folha por debaixo de sua porta e sigo para o aeroporto.

*

Estou sentado na poltrona do avião. Olho para o sol que não demora a se pôr. Talvez eu não volte para Nova York. Talvez eu fique em Ohio mesmo e curse faculdade lá. Era o que eu deveria ter feito. Nunca ter saído de casa.

Eu não estaria sentindo tanta dor. Uma lágrima solitária escorrega por meu rosto.

Chego de noite em casa. Pego um taxi, pois meu pai correu pro hospital com Diana.

Respiro fundo quando bato na porta.

- Marcus! - grita Sarah e se joga em cima de mim.

- Meu Deus! - grito também - você veio - abraço minha irmã forte.

- Não poderia faltar. Tenho que estar com minha família.

Entro em casa e jogo minha mochila no canto. 

- Cadê a mamãe?

Mal termino a frase e a vejo na sala de jantar conversando com um rapaz.

- Meu namorado - Sarah sussurra.

- Nomes...quero nomes - falo brincando.

- Richard. Conheci na minha turma.

- A coisa é seria então.

- Maninho, ele veio pra ação de graças, daqui pro casamento é um passo.

Sorrimos e minha mãe me vê.

- Querido! - ela se levanta e vem me abraçar. Que bom que já está aqui.

Ela toca meu rosto e sinto vontade de chorar.

- Senti tanta falta - falo.

- Eu também meu amor...vem, vou fazer um prato pra você.

- Estou morrendo de fome mesmo.

Rich é um cara legal. Ele e minha irmã terminam a faculdade ano que vem e já tem planos pra abrir um produtora em Los Angeles.

Quase choro ao comer o delicioso bolo de carne ao molho de minha mãe. 

Depois que Richard e Sarah sobem, ajudo minha mãe a limpar tudo.

- Seu pai e a Diana vem amanhã pra cá. Vamos almoçar todos juntos - ela fala enquanto enxuga um prato.

- O quê? Os dois?

- Eu amo seu pai Marcus, como um bom amigo agora. Fomos companheiros por anos. Então deixei de lado tudo e agora estou me aproximando da Diana. Estou velha demais pra essas picuinhas. Acho que só fiquei com inveja dela ser jovem.

- Mamãe! - falo rindo e ela ri junto.

- Além do mais, conheci alguém. Ele é o novo vizinho aí da frente. Foi casado, sem filhos...Ele veio aqui a primeira vez, mês passado. Eu estava no jardim e ele me pediu ajuda pra encontrar algum mercado próximo. Depois disso ele sempre me cumprimentava quando me via e até parava pra conversar. Há duas semanas me convidou pra jantar e aceitei. Na volta digamos que errei a porta, de proposito.

- Meu Deus! Não quero mais ouvir nada. Fico Feliz que esteja bem mãe.

- Só o que não passa é a saudade dos meus filhotes.

Ficamos em silencio.

- E você querido...como está isso aqui - ela fala colocando a mão sobre meu coração.

- Está batendo bem.

Ela vira os olhos.

- Estou bem mãe...só confuso e triste.

- Pelo quê?

- Um garoto.

Ela suspira.

- Só quero te ver feliz Marcus. Esse garoto, te faz sentir alegria ou tristeza?

- Alegria e é tão bom estar com ele...mas estraguei tudo e ele não quer mais me ver

Minha mãe toca meu rosto.

- Nada pode estar tão ruim que não possa ser consertado. Volte pra lá e tente de novo.

Mais tarde, quando já estou deitado, penso nas palavras de minha mãe. Meu quarto ainda tem o perfume de roupa limpa e amaciante. Viro por horas na cama e só consigo dormir, depois de chorar até soluçar.

Talvez eu nunca mais volte pra lá mãe.

No Inverno do meu Coração (Romance Gay) - CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora