- Fazem qual curso? - pergunta Tina enquanto seguimos para o jardim.
- Eu faço Literatura.
- E eu Arte.
- Não creio - Tina fala animada - sou caloura de Arte.
- Sério? - Caesar da um gritinho e os dois começam uma conversa sobre obras, esculturas e pinturas.
Me sinto sobrar. Como quase sempre. Olho pelo gramado. O sol dando um brilho especial para tudo. Alunos andam de um lado para o outro, carros passam na rua em frente ao campus. A vida segue, só eu me sinto parado no tempo. Preso a alguém que não quero e não posso esquecer.
- Marcus? - fala Cae - Eu e a Tina vamos para as salas de Arte. Quer ir com a gente?
- Acho melhor não. Vou esperar minha próxima aula começar.
- Tudo bem. Nos vemos mais tarde.
Os dois se vão e mesmo com o sol tinindo, sinto frio. Caminho a passos lentos, enquanto ligo para minha mãe.
- Estou bem mãe...é...já até fiz amizade.
- Serio?
- Sim. Preciso desligar.
- Mas você acabou de ligar.
- Minha aula que vai começar.
- Oh, claro. Boa aula querido.
Desligo. Sou tão covarde que nem consigo falar com minha mãe. Mentir que estou bem.
As aulas seguintes são tranquilas. Literatura, Inglês, Escrita...
Com o fim das aulas, corro de volta para meu quarto.
Estou sentado na cama, lendo Orgulho e Preconceito, quando Caesar entra no quarto, com Tina mais atrás.
- Que quarto arrumado - ela fala - o meu é uma zona. Oi Marcus.
- Oi Tina.
- Vamos em um Book Café aqui perto Marcus -fala Cae - vamos com a gente?
- Estou cansado.
- Mas tem livros! - Cae fala.
- E muito café - complementa Tina.
- E vai ser uma forma ótima de nos conhecermos - continua Cae.
- Aaaaah, tá bom, eu vou.
* * *
O Book Café fica perto do campus. Uma fachada amarela, com grandes janelas de vidro. Na calçada, mesas e cadeiras já cheias. Quando entramos, me sinto em um mundo magico. Prateleiras e estantes de livros e entre elas mesas. O cheiro de doces, café e livros novos preenche o lugar.
Cae nos leva até uma mesa junto da parede.
- Eu vou fazer o pedido - falo antes de sentar - querem o quê?
- Café Preto - fala Tina.
- Um Cappuccino - fala Cae.
Vou até o balcão e olho o cardápio.
- Em que posso ajudar - fala alguém atrás e levanto os olhos. Um leve calor enche minha face.
Um garoto de pele morena, cabelos pretos ondulados e olhos incrivelmente verdes me fita. Usa uma camisa amarela e um avental.
- Oi? - respondo como um idiota.
O garoto ri.
- Seu pedido.
- Ah. Eu quero...dois Cappuccinos e um café com...creme?
Qual pedido mesmo?
- Levo daqui a alguns instantes.
- Tá.
Volto para mesa e respiro. O que foi aquilo? Os olhos dele...verdes como esmeraldas...
Engulo em seco.
- O que foi Marcus? Tá branco como papel.
- Nada...só estou com um pouco de dor de cabeça.
Logo o que aconteceu passa e converso tranquilamente com o pessoal.
Caesar é de Boston e veio estudar em NY. A mãe trabalha como enfermeira, pra ajudar ele na faculdade e ainda cria mais 4 irmãos. Ele é gay - como imaginei - e tem um rolo com um aluno de Química.
Tina veio de uma pequena cidade no Maine chamada Raventown.
- Ela nem existe no mapa - ela falou rindo.
O pai dela conseguiu um bom trabalho aqui na cidade e todos se mudaram.
Temos em comum que somos todos bolsistas. Falo sobre mim também. omitindo alguns fatos.
- Minha família não entende que eu gosto de Arte - fala Tina.
- Minha mãe nunca fez comentário algum - fala Cae.
- Os cafés de vocês - fala o garoto depositando nosso pedido na mesa.
- O quê? E meu café preto?
- Desculpa...acho que errei no pedido - falo.
- Vou pedir meu café preto...vocês que tomem esses cafés de gay.
Não conseguimos segurar o riso.
- Você é gay também - fala Cae.
- Como?
- Eu vi.
- Viu o que?
- Como olhou para o garoto do café.
Rio de nervoso.
- Sim, sou gay...mas não tenho qualquer interesse em garoto algum no momento.
Olho para o garoto do café, convicto do que falo.
Ou melhor dizendo. Mais ou menos convicto.
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No Inverno do meu Coração (Romance Gay) - CONCLUÍDO
RomanceTrês anos se passaram desde que Marcus Hayne perdeu o namorado em um trágico acidente. Agora, prestes a embarcar na Universidade, Marcus congelou o coração para qualquer relacionamento, para sempre. Afastado da família, o jovem rapaz passa seus dias...